Economista, advogado e pré-candidato à reeleição pelo PSB, partido do qual também é presidente estadual, o ex-vereador, ex-secretário e ex-prefeito de Manaus, Serafim Corrêa, afirmou ao Portal AM1 que ainda tem muito a contribuir na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam). O parlamentar é conhecido por defender pautas relacionadas à economia, como o modelo econômico Zona Franca de Manaus, além da educação e outras bandeiras.
Para ele, sem a ZFM o povo amazonense não é ‘absolutamente nada’ e frisou que não se cria um outro modelo econômico ‘do dia para a noite’.
AM1: O senhor é pré-candidato à reeleição ou algum outro cargo nas eleições deste ano?
Serafim: Eu sou candidato à reeleição. Entendo que a minha contribuição é importante, depois de ter sido vereador por dois mandatos, ter sido prefeito de Manaus, que foi uma grande honra. Sou candidato à reeleição porque entendo que é aqui na Assembleia (Legislativa do Amazonas) que eu posso dar o melhor de mim, a melhor contribuição.
AM1: O deputado é economista e tem defendido diversas pautas desse segmento. Principalmente quando políticas públicas e decisões afetam diretamente a população. Comente:
Serafim: Na economia nós só temos um modelo que deu certo na Amazônia nos últimos sessenta anos, que é a Zona Franca de Manaus. É um modelo exitoso, muitas vezes não compreendido, inclusive, por pessoas de Manaus, que não entendem e não viveram aquela época dos anos de 1960 e as razões pelas quais a Zona Franca foi criada.
Sem a Zona Franca o quê que nós somos? Não somos nada, absolutamente nada. Essa conversa de que vamos criar outro modelo econômico (sic), não se cria um modelo econômico do dia para a noite. A Zona Franca levou cinqüenta anos para ser consolidada e agora, querer dizer que vai para a mineração. A mineração não vai gerar 100 mil empregos diretos; vai para o turismo? A receita do turismo no Brasil é menor que a receita da Zona Franca de Manaus, então não é assim.
Nós precisamos agregar outras atividades econômicas, só que isso precisa de investimento e do Governo Federal. E o único investimento que o Governo Federal fez nesses últimos três anos e meio foi uma ponte de madeira em São Gabriel a Cachoeira, que custou R$ 700 mil e gastaram R$ 2 milhões para inaugurar.
AM1: Serafim Corrêa é considerado um deputado independente? Fale um pouco sobre seu posicionamento hoje na Assembleia:
Serafim: Eu voto a favor de tudo aqui que eu entender que está em favor da população e divirjo daquilo que eu entendo que não vá nessa direção.
No início do Governo ocorreram muitos desencontros, o Governo tinha uma divisão interna, tinha dificuldades de visão do mundo e diria que a partir do final do segundo ano de Governo as coisas começaram a se encaixar, o governador assumiu o protagonismo dele e diria que melhorou muito. E hoje, preponderantemente eu tenho votado nas matérias do Governo que são favoráveis à população. Quando vem uma matéria que eu discordo, eu voto contra, de frente e dizendo o porquê que voto contra.
AM1: Em 2020 o senhor afirmou que a relação da Aleam com o Governo havia sido ruim em 2019 e pediu mais diálogo. Como o senhor vê essa relação hoje?
Serafim: Sim, esse período foi muito ruim. Eu diria que hoje se tem uma boa relação, relação de respeito, cada um respeitando o seu espaço. Naquele período, em 2019, havia muita beligerância (característica do que causa ou está numa guerra), que foi ruim para todo mundo, Assembleia, Governo.
AM1: O senhor fez parte da CPI da Saúde na Aleam. Conte-nos um pouco dessa experiência:
Serafim: Toda CPI tem objetivos muitos claros. Os objetivos da CPI da Saúde eram identificar àqueles problemas, que nós identificamos, relatamos os problemas e eu gostaria imensamente que os órgãos de controle: Ministério Público Estadual, Tribunal de Contas do Estado se manifestassem a respeito dos dois exemplares de relatórios entregues a eles, que passado tanto tempo, eles não tomaram as iniciativas que se esperavam que fossem tomadas.
Que não fossem nem para punir, mas para mudar os hábitos e costumes. Em dez anos foram pagos R$ 5 bilhões de pagamentos indenizatórios, ou seja, R$ 500 milhões por ano e esse hábito não mudou, ele continua sendo feito pela administração pública de modo geral e isso é muito ruim.
AM1: Como o senhor vê o cenário político atual no Amazonas e no Brasil?
Serafim: Falando sobre o Brasil, acho que polarizou. Vejo com bons olhos a entrada na Simone Tebet (pré-candidata à Presidência da República pelo MDB) na disputa, mas não sei se há tempo para ela furar a bolha. As duas bolhas estão polarizadas, não sei se ela terá capacidade de furar uma, a outra ou de furar as duas, vamos aguardar.
O meu partido tem uma posição muito clara. O nosso candidato à presidência da República é o Luiz Inácio Lula da Silva, nós indicamos o vice, que é o ex-governador de São Paulo por quatro vezes, o Geraldo Alckmin.
A nível local, temos três forças se degladiando, mas não estou vendo link, por enquanto, entre a eleição nacional e a eleição estadual, que é a candidatura do governador Wilson Lima (UB), mas que apoia Bolsonaro (Jair), tem a candidatura do Amazonino (Mendes) que na ordem natural das coisas deve apoiar a Simone Tebet e tem a candidatura do Eduardo (Braga), que sendo ele do MDB deverá ficar também com a Simone Tebet.
O quê que se vê? É que não tem candidatura apoiando o ex-presidente Lula, no entendo, ele é maior do que tudo isso. No interior nem os bolsonaristas falam mal do Lula e por quê? Por que é ‘80 a 20′. O que o Lula fez pelo interior do Amazonas, principalmente com o ‘Luz para Todos’, é algo que mudou a vida das pessoas, comunidades que nunca tinham assistido a Copa do Mundo, assistiram. Então são coisas que marcaram a vida do povo do interior.
Manaus estranhamente é uma capital bolsonarista, tem muita gente que apoia o Bolsonaro, apesar dele não ter feito nada por Manaus, pelo Amazonas. Ao contrário do Lula, por exemplo, todas as grandes obras relevantes em Manaus nos últimos cinqüenta anos, têm a marca do governo Lula, o estádio é um exemplo, as pessoas falam mal do estádio, mas no dia que tem jogo nacional ou internacional as pessoas vão ao estádio; a ponte, as pessoas falam mal dela, mas vivem atravessando para Iranduba, Manacapuru, saindo no final de semana; as pessoas não falam mal da água, nem liga para isso, mas o problema da água foi resolvido no governo Lula; o Prosamim foi o governo Lula, Então para onde você olha aqui no estado tem a marca do Lula.
E eu creio que vai ser muito fácil para o Lula virar o jogo em Manaus, porque basta ele chegar aqui e dizer o seguinte: ‘Ponte Rio Negro, teve dinheiro do Governo Federal na minha época e qual é a outra ponte para comparar com essa? A ponte de São Gabriel da Cachoeira de Madeira?’. Não vai dar. Então eu creio que o tempo vai mostrar que ele foi um bom presidente e será um presidente melhor ainda.
AM1: Sobre o ‘link’ que o senhor falou que falta entre um pré-candidato ao Governo do Amazonas e a pré-candidatura do ex-presidente Lula. O pré-candidato ao Governo do Amazonas, Marcelo Amil afirmou alguns dias atrás, que tem o apoio do Lula à sua campanha no estado. Qual a sua opinião?
Serafim: Não vou fazer críticas e nem elogios a pessoas para não gerar nenhum constrangimento. O PSOL compõe a aliança do Lula, então, eles vão sentar à mesa. A questão dos apoios estaduais será definida na mesa nacional, mas à frente. Eu tenho o maior carinho pelo Marcelo, mas eu peço que ele tenha paciência, tenha calma, isso é uma construção e que será feito não só a nível local, mas a nível nacional.
AM1: Vamos falar agora, um pouco do seu mandato, algumas ações, projetos e defesas importantes:
Serafim: Em primeiro lugar, eu creio que educação é tudo. A defesa do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), ele é o Fundo mais transparente do Brasil, no entanto, nem os professores sabiam dessa transparência.
A partir de 2017 quando o meu gabinete elaborou uma cartilha, os professores passaram, a saber, e todos os anos têm sobra do Fundeb e há uma cobrança muito grande, não apenas a nível de Governo do Estado, mas a nível de todo o interior e isso me deixa muito alegre
A defesa permanente da Zona Franca, a nova Lei do Gás. Enfim, são bandeiras desse tipo que eu adotei e que mantenho acessa essas chamas para que elas não se apaguem.
E esses são os motivos que e levaram a ser pré-candidato à reeleição, embora tenha havido convites de vários lados para que eu compusesse uma chapa majoritária, mas eu entendo que, respeitando os outros que têm a mesma idade que eu, eu entendo que alguém com 75 anos não deve se arvorar a ser candidato ao Executivo. É um fardo muito pesado para quem já está nessa faixa etária, respeitando de quem pensa diferente.
AM1: E o senhor pode falar quais foram esses convites, de onde foram esses convites?
Serafim: Não, não. Vieram de várias fontes, de várias direções, no sentido de, por exemplo, que eu fosse o candidato do Lula no Amazonas. Eu ponderei que tenho 75 anos não era mais para eu pegar esse fardo. Interessante foi o contra-arguemento para mim: ‘O Lula tem 76 anos e é candidato a presidente do Brasil’, mas eu disse: ‘O Lula é o Lula, o Serafim é o Serafim’.
Fotos: Marcelo Araújo e arquivo AM1
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