Manaus (AM) – As festas conhecidas como “adegas” têm se tornado um fenômeno crescente entre os jovens de Manaus. Realizadas frequentemente ao ar livre, em praças públicas ou outros espaços coletivos, esses eventos reúnem multidões atraídas por música alta e bebidas alcoólicas. Porém, o crescimento dessas festas trouxe à tona uma série de preocupações.
A ausência de fiscalização e segurança expõe os frequentadores, muitos deles menores de idade, a diversos riscos. Além do consumo indiscriminado de álcool, relatos apontam para um aumento de brigas e tráfico de drogas. Isso levanta um alerta em relação aos eventos.
Em outubro deste ano, a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) divulgou a imagem de um jovem procurado por exibir uma arma durante uma adega na zona Sul de Manaus. Em um vídeo, ele aparece rodeado de pessoas, apontando a arma para cima.
Um mês antes, em setembro, também na zona Sul, no bairro Educandos, um homem identificado como Jairo Alberto Rodrigues de Sena, de 40 anos, foi executado a tiros. Segundo a polícia, ele participava de um evento identificado como “Adega Coisa Nobre”, na avenida Lourenço Braga, quando homens armados chegaram ao local e dispararam diversas vezes contra ele. Jairo faleceu no local após ser atingido na cabeça e em outras partes do corpo.
Outro episódio registrado em uma adega envolveu um grupo de jovens, filhos de políticos e empresários da cidade. Eles causaram uma verdadeira pancadaria em uma festa na Ponta Negra, no dia 8 deste mês. Vídeos mostram o grupo brigando no local e o caso repercutiu.
A confusão teria começado após a troca do gênero musical, o que exaltou os ânimos e rapidamente a situação fugiu do controle.
Já no último dia 17, um homem foi preso após exibir uma arma de fogo semelhante a um fuzil, que, segundo informações preliminares, seria uma réplica de pressão, também durante uma adega, essa realizada no bairro Compensa, na zona Oeste da capital.
Perigo para menores
O conselheiro tutelar Vanilson Holanda adverte que a presença de crianças e adolescentes nesses eventos pode trazer sérias consequências para os responsáveis pelos estabelecimentos ou organizadores. Caso seja comprovada a frequência de menores e a venda de bebidas alcoólicas ou outras substâncias no local, o espaço pode ser interditado judicialmente, além de os responsáveis enfrentarem sanções legais.
“Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas e drogas, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é claro: o artigo 243 proíbe o fornecimento, oferecimento ou entrega, de qualquer forma, de bebidas alcoólicas, drogas ou outros produtos que causem dependência química a menores de 18 anos. Essa prática é considerada crime e está sujeita a punições previstas em lei. Nos casos dessas festas, sendo comprovada a presença de menores no local, provavelmente o estabelecimento pode ser fechado, autuado, o dono vai ser notificado, e há todo um processo policial de investigação”, pontua.
Segundo o conselheiro tutelar, a presença de menores em festas é regulada por portarias judiciais em diversos municípios e estados, que determinam horários e faixas etárias permitidas. Em algumas situações, menores podem permanecer acompanhados pelos pais ou responsáveis, enquanto em outras, menores de certa idade são proibidos de participar, mesmo acompanhados, devido aos riscos de confusões e outros incidentes que podem colocá-los em perigo.
“A permanência de crianças, adolescentes e jovens em bares, festas ou locais onde há uso de drogas pode trazer sérias consequências. Primeiramente, é responsabilidade dos pais educar e proteger seus filhos — a autoridade maior é deles. Se o filho for aliciado ou induzido a permanecer nesses locais, consumindo drogas, bebidas alcoólicas ou sendo explorado em trabalho infantil, os pais que não denunciarem podem ser considerados omissos. Essa omissão pode levar a punições previstas em lei, incluindo a perda da guarda da criança ou adolescente e outras sanções legais. O importante é denunciar, para que sejam feitas as fiscalizações”, afirma.
Medidas adotadas por proprietários
O Portal AM1 também conversou com João Paulo Amorim, proprietário de uma adega localizada no bairro Grande Vitória, na zona Leste. O empresário destacou as medidas que adota para garantir a segurança em seus eventos e evitar problemas associados a festas do tipo.
“As adegas em Manaus cresceram tanto que, hoje, praticamente há uma em cada esquina. Nossos negócios são diferentes porque não permitimos a participação de menores. Estamos atentos a isso, já que vemos muitas reportagens sobre casos problemáticos. Já vimos casos de mortes, tiroteios e brigas em festas similares. Por isso, estamos sempre atentos, tomando precauções para evitar que algo grave aconteça”, diz João Paulo.
No entanto, segundo ele, sempre há insistências de menores de idade tentando entrar nos eventos. Com isso, para evitar problemas, adota medidas rígidas.
“Nas festas, todos são revistados, e exigimos identificação, pois vemos os casos de outras festas, em que muitos menores estão até usando drogas na frente dos estabelecimentos e muitos proprietários não se atentam. Sempre contamos com o apoio da Polícia Militar, que faz rondas e revistas. Também tomamos cuidados extras, como retirar garrafas das mesas para evitar que sejam usadas em brigas. Também oferecemos o ‘copão’, tornando tudo mais prático e seguro. Isso evita que as garrafas fiquem circulando”, conta.
O ‘copão’ citado por João Paulo se tornou um drink famoso nos bailes de Manaus, com cores vibrantes e diversos sabores, sendo altamente procurado pelos frequentadores.
Eventos improvisados geram preocupação
Apesar de alguns locais adotarem medidas de segurança, o conselheiro tutelar Vanilson Holanda destaca que uma das maiores preocupações está nos eventos realizados a céu aberto, de forma improvisada, onde não há controle adequado do público. Esses eventos representam um risco maior, especialmente pela ausência de fiscalização e pela facilidade com que menores de idade têm acesso a bebidas alcoólicas, drogas e outros perigos.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) para questionar como o policiamento tem atuado nesses encontros e quais medidas estão sendo tomadas para controlar a presença de menores, além do combate ao tráfico de drogas. No entanto, até o momento, não houve retorno por parte da secretaria.
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