Manaus, 12 de fevereiro de 2025
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Manaus, 12 de fevereiro de 2025

Brasil

Amazonas registra aumento de 30% nos focos de incêndio em comparação a 2023

Brasil registra 278,2 mil focos de incêndio no ano, pior número desde 2010.

Amazonas registra aumento de 30% nos focos de incêndio em comparação a 2023

(Foto: Mauro Neto/Secom)

Manaus (AM) – O número de focos de incêndio no Amazonas aumentou 30% em 2024 em comparação ao mesmo período de 2023. No ano passado, foram registrados 25.499 focos no estado, enquanto em 2023 o total foi de 19.601. Os dados foram apurados pelo Portal AM1 no Banco de Dados de Queimadas (BD Queimadas), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Além do aumento dos incêndios florestais, o Amazonas enfrentou em 2024 uma estiagem histórica. O Rio Negro registrou, em 9 de outubro, a menor cota em 122 anos: 12,11 metros.

A seca severa trouxe impactos significativos, prejudicando comunidades ribeirinhas, interrompendo o transporte fluvial e comprometendo o abastecimento de água em diversas regiões do estado.

Cenário Nacional

O Brasil também enfrentou uma das secas mais intensas de sua história, agravada pelo fenômeno El Niño e pelas mudanças climáticas. Em setembro, a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, afirmou que a estiagem foi a mais severa em 73 anos no Pantanal e a mais grave dos últimos 40 anos na Amazônia.

O cenário observado no Amazonas reflete uma tendência nacional preocupante. Dados do BD Queimadas indicam que o Brasil registrou mais de 278 mil focos de incêndio em 2024, o maior número desde 2010.

Especialistas

O Portal AM1 conversou com o biólogo e pesquisador Dr. Lucas Ferrante, vinculado à Universidade de São Paulo (USP) e à Universidade Federal do Amazonas (UFAM), para esclarecer as causas do aumento expressivo no número de focos de incêndio no Amazonas. Ferrante destacou que, na Amazônia, a abertura de novas estradas é um dos principais fatores que contribuem para essa alta.

“A relação entre desmatamento e incêndios florestais ela está muito clara, principalmente para a Amazônia. Nós vemos que, inicialmente, esses grileiros e madeireiros removem as madeiras de interesse econômico, depois ateiam fogo nessas áreas para que o próprio incêndio limpe o terreno, e depois nós vemos uma outra técnica sendo implementada, que é a implementação de tratores concorrentes para terminar de remover toda a vegetação. E depois essas áreas se transformam em pastos”, apontou o pesquisador.

Além de analisar as ações humanas que podem contribuir para o aumento dos focos de incêndio no Amazonas, Ferrante também destacou o impacto das mudanças climáticas. Embora desempenhem um papel natural nas interações da biodiversidade, essas mudanças afetam diretamente o equilíbrio ambiental e o cotidiano da região.

“Nós vemos que as mudanças climáticas têm deixado a Amazônia cada vez mais seca, principalmente nos anos de El Niño. Esse é um período em que a região apresenta uma diminuição no volume de precipitação dos grandes rios. Como resultado, a umidade do bioma se torna muito menor, o que, consequentemente, favorece o alastramento desses incêndios florestais, que acabam ganhando grande proporção”, explicou Ferrante.

O Portal AM1 questionou ao pesquisador como ele interpreta a atuação dos governos Federal e Estadual no controle dos focos de incêndio, a fim de evitar que essas ações ganhem dimensão e causem prejuízos ambientais. Na visão do pesquisador, esses Poderes não têm a capacidade de coibir os incêndios devido à conivência com as ações.

“O governo federal, junto com os estados da região Norte e os municípios, não tem capacidade de coibir esses incêndios. Além disso, observamos uma conivência, principalmente por parte do governo do Amazonas, do Pará e de alguns municípios. Tapauá é um exemplo, onde o próprio prefeito tem aberto um ramal ilegal dentro de uma terra indígena e o anuncia como obra da prefeitura”, alertou Ferrante.

Segundo o biólogo, a suposta baixa fiscalização do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) nos últimos dois anos tem contribuído significativamente para o aumento dos incêndios em áreas críticas. Para ele, a presença do Estado nessas regiões é indispensável.

“Um exemplo disso é a baixa fiscalização do IPAAM nos últimos dois anos nessas áreas que concentraram os incêndios. A desculpa esfarrapada foi de que a ausência de pavimentação dificultava a fiscalização. No entanto, o Estado precisa se fazer presente. Se os grileiros têm acesso a essas áreas, não há justificativa para que os fiscais não as alcancem, especialmente porque essa fiscalização é indispensável”, disse Ferrante ao AM1.

Conforme Lucas Ferrante, a redução desses eventos nos próximos anos depende diretamente do fortalecimento de órgãos como a Polícia Federal, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM Bio). Ele enfatizou a necessidade de garantir condições adequadas para que esses agentes possam realizar fiscalizações eficazes, destacando que o apoio estrutural e logístico é fundamental para combater as causas dos incêndios e proteger as áreas mais vulneráveis. “Entretanto, nós precisamos rever algumas políticas públicas, como a reabertura de estradas na Amazônia”, destacou Ferrante.

Outro ponto crucial levantado na entrevista com o biólogo e pesquisador Lucas Ferrante foi sobre as ações necessárias para mitigar os focos de incêndio no Amazonas. De acordo com Ferrante, ações de combate prioritário são questões-chave nesse momento decisivo.

“As ações e fiscalizações de combate prioritário, neste momento, deveriam focar ao longo dessas rodovias. Além disso, é fundamental promover a desintrusão, a destruição dos ramais ilegais e o fechamento dessas rotas, implementando, paralelamente, uma política de desapropriação das terras ilegais. No caso do estado do Amazonas, por exemplo, qualquer ocupação posterior a 2008 é considerada ilegal. Portanto, é necessário avançar na desapropriação dessas áreas, especialmente na região da rodovia BR-319”, completou Ferrante.

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