
(Foto: Mauro Neto/Secom)
Manaus (AM) – O número de focos de incêndio no Amazonas aumentou 30% em 2024 em comparação ao mesmo período de 2023. No ano passado, foram registrados 25.499 focos no estado, enquanto em 2023 o total foi de 19.601. Os dados foram apurados pelo Portal AM1 no Banco de Dados de Queimadas (BD Queimadas), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
- (Foto: Reprodução/BD Queimadas)
- (Foto: Reprodução/BD Queimadas)
Além do aumento dos incêndios florestais, o Amazonas enfrentou em 2024 uma estiagem histórica. O Rio Negro registrou, em 9 de outubro, a menor cota em 122 anos: 12,11 metros.
A seca severa trouxe impactos significativos, prejudicando comunidades ribeirinhas, interrompendo o transporte fluvial e comprometendo o abastecimento de água em diversas regiões do estado.
Cenário Nacional
O Brasil também enfrentou uma das secas mais intensas de sua história, agravada pelo fenômeno El Niño e pelas mudanças climáticas. Em setembro, a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, afirmou que a estiagem foi a mais severa em 73 anos no Pantanal e a mais grave dos últimos 40 anos na Amazônia.
O cenário observado no Amazonas reflete uma tendência nacional preocupante. Dados do BD Queimadas indicam que o Brasil registrou mais de 278 mil focos de incêndio em 2024, o maior número desde 2010.
Especialistas
O Portal AM1 conversou com o biólogo e pesquisador Dr. Lucas Ferrante, vinculado à Universidade de São Paulo (USP) e à Universidade Federal do Amazonas (UFAM), para esclarecer as causas do aumento expressivo no número de focos de incêndio no Amazonas. Ferrante destacou que, na Amazônia, a abertura de novas estradas é um dos principais fatores que contribuem para essa alta.
“A relação entre desmatamento e incêndios florestais ela está muito clara, principalmente para a Amazônia. Nós vemos que, inicialmente, esses grileiros e madeireiros removem as madeiras de interesse econômico, depois ateiam fogo nessas áreas para que o próprio incêndio limpe o terreno, e depois nós vemos uma outra técnica sendo implementada, que é a implementação de tratores concorrentes para terminar de remover toda a vegetação. E depois essas áreas se transformam em pastos”, apontou o pesquisador.
Além de analisar as ações humanas que podem contribuir para o aumento dos focos de incêndio no Amazonas, Ferrante também destacou o impacto das mudanças climáticas. Embora desempenhem um papel natural nas interações da biodiversidade, essas mudanças afetam diretamente o equilíbrio ambiental e o cotidiano da região.
“Nós vemos que as mudanças climáticas têm deixado a Amazônia cada vez mais seca, principalmente nos anos de El Niño. Esse é um período em que a região apresenta uma diminuição no volume de precipitação dos grandes rios. Como resultado, a umidade do bioma se torna muito menor, o que, consequentemente, favorece o alastramento desses incêndios florestais, que acabam ganhando grande proporção”, explicou Ferrante.
O Portal AM1 questionou ao pesquisador como ele interpreta a atuação dos governos Federal e Estadual no controle dos focos de incêndio, a fim de evitar que essas ações ganhem dimensão e causem prejuízos ambientais. Na visão do pesquisador, esses Poderes não têm a capacidade de coibir os incêndios devido à conivência com as ações.
“O governo federal, junto com os estados da região Norte e os municípios, não tem capacidade de coibir esses incêndios. Além disso, observamos uma conivência, principalmente por parte do governo do Amazonas, do Pará e de alguns municípios. Tapauá é um exemplo, onde o próprio prefeito tem aberto um ramal ilegal dentro de uma terra indígena e o anuncia como obra da prefeitura”, alertou Ferrante.
Segundo o biólogo, a suposta baixa fiscalização do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) nos últimos dois anos tem contribuído significativamente para o aumento dos incêndios em áreas críticas. Para ele, a presença do Estado nessas regiões é indispensável.
“Um exemplo disso é a baixa fiscalização do IPAAM nos últimos dois anos nessas áreas que concentraram os incêndios. A desculpa esfarrapada foi de que a ausência de pavimentação dificultava a fiscalização. No entanto, o Estado precisa se fazer presente. Se os grileiros têm acesso a essas áreas, não há justificativa para que os fiscais não as alcancem, especialmente porque essa fiscalização é indispensável”, disse Ferrante ao AM1.
Conforme Lucas Ferrante, a redução desses eventos nos próximos anos depende diretamente do fortalecimento de órgãos como a Polícia Federal, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM Bio). Ele enfatizou a necessidade de garantir condições adequadas para que esses agentes possam realizar fiscalizações eficazes, destacando que o apoio estrutural e logístico é fundamental para combater as causas dos incêndios e proteger as áreas mais vulneráveis. “Entretanto, nós precisamos rever algumas políticas públicas, como a reabertura de estradas na Amazônia”, destacou Ferrante.
Outro ponto crucial levantado na entrevista com o biólogo e pesquisador Lucas Ferrante foi sobre as ações necessárias para mitigar os focos de incêndio no Amazonas. De acordo com Ferrante, ações de combate prioritário são questões-chave nesse momento decisivo.
“As ações e fiscalizações de combate prioritário, neste momento, deveriam focar ao longo dessas rodovias. Além disso, é fundamental promover a desintrusão, a destruição dos ramais ilegais e o fechamento dessas rotas, implementando, paralelamente, uma política de desapropriação das terras ilegais. No caso do estado do Amazonas, por exemplo, qualquer ocupação posterior a 2008 é considerada ilegal. Portanto, é necessário avançar na desapropriação dessas áreas, especialmente na região da rodovia BR-319”, completou Ferrante.
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