
Municípios do Amazonas (Foto: Antônio Lima/Secom)
Manaus (AM) – O Amazonas tem seis municípios com os piores índices de progresso social (IPS) 2023, segundo levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Lábrea, Apuí, Novo Aripuanã, Boca do Acre, Humaitá e Manicoré são os municípios que mais desmataram a Amazônia nos últimos três anos, segundo dados do instituto.

(Foto: Divulgação)
O estudo avaliou 47 indicadores de qualidade de vida de áreas como saúde, educação, segurança e moradia e indicou que o desmatamento está relacionado com o baixo desenvolvimento da Amazônia.
Segundo o Imazon, os municípios que mais destruíram a floresta nos últimos três anos tiveram os piores desempenhos sociais.
“O IPS é um pouco melhor nas capitais e em alguns territórios com mais de 200 mil habitantes. Por outro lado, em geral, os municípios com altas taxas de desmatamento apresentam notas muito baixas. Isso mostra mais uma vez que a expansão da derrubada não gerou desenvolvimento na Amazônia. Pelo contrário, deixou os 27 milhões de habitantes da região sob condições sociais precárias”, destaca Beto Veríssimo, cofundador do Imazon e coordenador da pesquisa.
Em 2020, por exemplo, a Amazônia foi responsável por cerca de 52% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, mas contribuiu com apenas 9% do PIB. “As curvas de crescimento econômico e desmatamento estão dissociadas. No período de maior queda na taxa de derrubada, entre 2004 e 2012, a economia da Amazônia cresceu. E o contrário ocorreu nos últimos anos, de 2017 a 2022, quando a destruição aumentou e a economia esteve em baixa”, completa Veríssimo.
Se a Amazônia fosse um país, estaria entre os piores no IPS Global
Em relação ao Brasil, cujo IPS foi de 67,94, a nota da Amazônia em 2023 foi 25% menor (54,32). Já na comparação mundial, se a região fosse um país, o desenvolvimento social amazônico equivaleria ao de Malawi. A nação africana está na posição 125ª entre 169 países avaliados no último IPS Global, de 2022. Ou seja: a Amazônia estaria em uma posição sofrível: 44º pior país em qualidade de vida. Embora o índice mundial possua indicadores diferentes, essa comparação ilustra a situação social crítica que afeta a região.
Além disso, nenhum dos nove estados da Amazônia Legal superou a média nacional. Mesmo a maior nota, de Mato Grosso (57,38), ainda foi 18% inferior à do Brasil. Os piores resultados foram do Pará (52,68), Acre (52,99) e Roraima (53,19).
O IPS Amazônia 2023 possui três dimensões de indicadores: Necessidades Humanas Básicas, Fundamentos para o Bem-Estar e Oportunidades. Essa última foi a que apresentou pior desempenho: enquanto a nota brasileira foi de 58,38, a da Amazônia ficou em 40,31, 45% menor do que a nacional. Essa dimensão reúne indicadores como vulnerabilidade familiar, violência de gênero, trabalho infantil, acesso à educação superior, transporte público e acesso à cultura e lazer. Já dentre os componentes das dimensões, os que tiveram as menores notas na Amazônia foram de Acesso à Educação Superior (13,19), Acesso à Informação e Comunicação (13,25) e Direitos Individuais (25,59). Já os componentes com os melhores resultados foram Nutrição e Cuidados Médicos Básicos (86,70), Saúde e Bem-estar (82,31) e Moradia (79,66).
“Para promover o progresso social na Amazônia é necessário reduzir drasticamente o desmatamento e as atividades ilegais associadas, pois essas deterioram o ambiente econômico inibindo bons investimentos e, com isso, retardando a marcha da prosperidade na região”, indica Veríssimo.
Série histórica do IPS mostra Amazônia estagnada
Esta é a quarta edição do IPS Amazônia, que também foi publicado em 2014, 2018 e 2021. Neste ano, dois novos indicadores foram agregados à dimensão de Oportunidades, no componente de Direitos Individuais: acesso a programas de direitos humanos e existência de ações para direitos de minorias. Por isso, a publicação de 2023 recalculou as notas dos anos anteriores com base nos 47 indicadores usados na edição mais atual. E o resultado mostrou que a Amazônia segue estagnada em seu desenvolvimento social, sempre com a nota 54, variando apenas nas casas decimais.
Entre as três dimensões analisadas, a Amazônia melhorou em Necessidades Humanas Básicas e Fundamentos para o Bem-estar, porém piorou em Oportunidades. Já entre os 12 componentes que agregam os 47 indicadores, a região piorou em metade deles: Nutrição e Cuidados Médicos Básicos, Segurança Pessoal, Acesso à Informação e Comunicação, Qualidade do Meio Ambiente, Liberdades Individuais e de Escolha e Inclusão Social.
“A história mostra que desde o início do ciclo de ocupação da Amazônia com base no desmatamento, na década de 1970, os resultados sociais, econômicos e ambientais têm sido desastrosos. A Amazônia tem um potencial enorme de desenvolvimento sem desmatamento, principalmente por meio do aumento da produção agropecuária nas áreas já derrubadas e da melhoria da bioeconomia e do pagamento dos serviços ambientais onde a floresta segue em pé”, sugere Veríssimo.
Entenda o IPS
O IPS é um índice de prestígio internacional criado em 2013 para analisar as condições sociais e ambientais de qualquer território (países, estados, municípios e até mesmo comunidades). Concebido a partir do entendimento de que os índices de desenvolvimento baseados apenas em indicadores econômicos são insuficientes, o IPS utiliza exclusivamente variáveis socioambientais. Eles são agrupados em doze componentes e três dimensões, os quais geram uma nota de 0 a 100, do pior para o melhor, para cada um deles. O IPS Amazônia é a média dos índices das três dimensões.
No Brasil, o Imazon lidera a publicação do índice para a Amazônia Legal desde 2014, quando foi a primeira vez que ele foi usado em escala subnacional no mundo.
O IPS Amazônia foi publicado dentro do Projeto Amazônia 2030 na edição de 2021 e agora em 2023. Além disso, para cada um dos 772 municípios amazônicos, o IPS apresenta um perfil (scorecard) dos seus resultados, que também auxilia na comparação das notas com localidades de PIB per capita semelhantes.
Além da realização do Imazon e do Amazônia 2030, o IPS Amazônia 2023 contou com parceria do Centro de Empreendedorismo da Amazônia e da Social Progress Imperative. O IPS Amazônia 2023 também contou com apoio do ICS, CLUA e Fundo Vale.
Com informações do Imazon
LEIA MAIS:
- TCE-AM emite alerta aos 62 municípios para combate às queimadas e estiagem
- Governo do AM articula ações para programas de combate ao desmatamento
- Cientistas pedem urgência no combate ao desmatamento para evitar o “ponto de não retorno”
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, siga no Instagram e também no X.