Manaus, 26 de abril de 2024
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Manaus, 26 de abril de 2024

Cidades

Amazônia profunda: estudo mapeia conectividade digital em comunidades ribeirinhas

Estudo recém-concluído pela Fundação Amazônia Sustentável retrata a importância deste serviço na região

Amazônia profunda: estudo mapeia conectividade digital em comunidades ribeirinhas

Foto: divulgação/FAS

Amazonas-  Um recente estudo da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) mapeou os avanços e desafios de comunidades ribeirinhas no acesso à conexão digital. A partir dele foi possível identificar as carências na promoção de educação, saúde, empreendedorismo e até em gestões ambientais. É o que explica a gerente do Programa de Soluções Inovadoras da FAS, Gabriela Sampaio.

“A ideia do estudo veio de vários fatores com intuito de entender que, além do que a Fundação já fazia nessas comunidades distantes, era possível identificar que populações com acesso à internet conseguiam ter avanços com projetos e iniciativas de saúde, lazer e educação. Mas outro ponto é que, a partir da conectividade, também seria possível alavancar diferentes temáticas”, afirma.

Ela comenta que as populações enfrentam uma série de barreiras para ter acesso à conexão digital, principalmente por conta da logística na região.

“O tamanho do Amazonas é super complexo e dificulta chegar em todos os lugares. Outro desafio é a própria parceria local com as prefeituras e polos para ter esse acesso. Também existe a questão da renda para ter a noção de que a população mais isolada tem disponibilidade de pagar, pois assim como a energia solar, é importante ver contrapartida para que esse sistema chegue nessas localidades”, disse.

Segundo informações do estudo, a telefonia móvel/internet é o 4º item mais importante para melhoria da infraestrutura comunitária (19,2%), ficando atrás apenas de abastecimento de água (28,1%) e ambulanchas (26,6%). Já o rádio ainda é um dos principais meios de comunicação para as comunidades ribeirinhas.

Foto: divulgação/FAS

Gabriela Sampaio aponta que a falta de conectividade por meio de plataformas virtuais pode trazer a essas comunidades a exclusão digital. Também permite a propagação de fake news e o isolamento econômico e ambiental.

“A falta de acesso rápido pode impactar em problemas mais estruturais, principalmente, em um país como o Brasil que ainda está em desenvolvimento. Isso amplifica o impacto das desigualdades. Em um período que estamos de pandemia, temos a problemática da informação não chegar corretamente e isso pode trazer um grande problema quando se precisa de união frente a um desafio. Em relação à ótica econômica, falta o investimento em mercados feitos pela internet, como a venda de produtos e lojinhas. Já no ambiental, a internet poderia apoiar em monitoramento de desmatamento e focos de calor. Sem o acesso essa problemática fica isolada naquele território”, detalha.

Outro dado do estudo corresponde aos interesses e prioridades do acesso às redes. Entre as pessoas entrevistadas, considerando um cenário em que tivessem acesso à internet 24h por dia, as atividades que a internet poderia beneficiar, na visão dos entrevistados, foram: “trabalho” (96%), “lazer” (acesso às redes sociais e ouvir música, com 2%)” e “estudar e aprender coisas novas” (2%).

Na avaliação da gerente, o estudo poderá permitir potenciais soluções de conectividade para regiões remotas e potencial estratégia para aproximar o acesso da população em geral. Ela conta que a FAS possui estruturas/bases em algumas localidades que já permitem que a internet chegue para essas populações ribeirinhas.

“São os chamados Núcleo de Conservação e Sustentabilidade, onde existem laboratórios com aparatos de salas e informações para permitir a conexão digital e o desenvolvimento de atividades em apoio às comunidades”, destaca.

Foto: divulgação/FAS

Além disso, ela menciona a importância do resultado do estudo para a melhoria da conectividade na Amazônia Legal. Segundo ela, entre os dados coletados, o mapeamento permitiu entender quais seriam as possibilidades de proposições políticas, seja no nível estadual ou federal, que poderiam de alguma maneira trazer “luz” para levar a conectividade para áreas isoladas.

“Eu vejo que um resultado interessante é o diagnóstico para entender quais são as disposições que as comunidades, por exemplo, de pagar uma conectividade uma vez que ela chegue e entender em que isso influenciaria positivamente dentro desses territórios. Estamos em um período da pandemia, em que todos estão em casa e nesses lugares o acesso é muito difícil, mas a partir da conectividade, isso é possível chegar nessas territórios. Essa junção de possibilidades, não tinha sido mapeado antes e ter isso compilado é um resultado interessante para possíveis tomadas de decisões e até elaboração de novos projetos”, explica.

O estudo que acabou de ser concluído foi conduzido pela FAS com parceria e financiamento do Banco Mundial. Com o mapeamento inédito, Gabriela conta que abre margem para novas perspectivas de coleta de dados em mais localidades distantes.

“A estratégia é de que esse diagnóstico chegue para mais localidades para entender mais sobre as problemáticas dos desafios, para propor soluções concretas. O estudo cumpriu o papel de fazer o levantamento inicial, de trazer um olhar piloto para um território, mas como próximo passo, a gente deslumbra poder levar isso para mais localidades para ter mais ciência do que acontece na Amazônia profunda.”, finaliza a gerente.