Manaus, 26 de abril de 2024
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Manaus, 26 de abril de 2024

Brasil

Após 59 anos internado em hospital psiquiátrico, paciente recebe alta

Afastado da sociedade desde 1962, com exceção de um curtíssimo período de alta. Rubem deixou nas celas do manicômio sonhos, mas sobreviveu aos momentos de tortura e às sessões de eletrochoques

Após 59 anos internado em hospital psiquiátrico, paciente recebe alta

Rio de Janeiro – Aos 83 anos, Rubem Barroso acaba de deixar pra trás o endereço onde viveu por quase seis décadas. O lavrador estava morando nas ruas do Rio de Janeiro quando foi recolhido, em 12 de fevereiro de 1962 – em um Brasil ainda governado por João Goulart e às vésperas de virar bicampeão mundial de futebol –, para a antiga Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Para a unidade, eram levados os considerados “loucos, subversivos e transgressores da ordem”, principalmente durante os anos de ditadura militar que, dois anos mais tarde, derrubaria Jango da Presidência.

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Diagnosticado com esquizofrenia, Rubem só sairia do local na sexta-feira (21), após 59 anos, ao receber alta e ser transferido a uma residência terapêutica, uma espécie de casa de convívio para portadores de doença mental.

Afastado da sociedade desde 1962, com exceção de um curtíssimo período de alta, Rubem deixou, nas celas do manicômio, sonhos, desejos e sua juventude, mas sobreviveu aos momentos de tortura e violência, e às sessões de eletrochoques, seguidas de altas doses de sedativos, que marcaram durante muito tempo a realidade de hospitais psiquiátricos do país inteiro – e repetida na Juliano Moreira por anos.

Em reabilitação a partir da reforma psiquiátrica, Rubem, finalmente, deixou a unidade e recuperou o direito a ter um lar, mesmo que sob a supervisão de equipes da Secretaria Municipal de Saúde, que contam com psicólogos e cuidadores.

A despedida foi marcada por muita emoção e bastante ansiedade. Assim como Rubem, outros 126 pacientes são considerados de longa permanência (106 deles no Franco da Rocha) e seguem institucionalizados em hospitais psiquiátricos na cidade do Rio – em 1995, eram 4,5 mil vivendo nos manicômios.

A redução segue os parâmetros estabelecidos a partir da reforma psiquiátrica, os quais, além de apostarem na devolução de cidadãos para a sociedade, investiram na desativação dessas unidades, o que acontecerá com o Franco da Rocha em algum momento dos próximos dois anos. O espaço, no entanto, ainda tem de pé alas como o “Pavilhão do Horror” – local desativado, situado no prédio nos fundos da direção do Núcleo, onde funcionava a ala feminina, e que ainda exibe as marcas do terror imposto aos pacientes em épocas mais sombrias.

 

*Com informações Metrópoles