Manaus, 18 de abril de 2025
×
Manaus, 18 de abril de 2025

Cenário

Augusto Ferraz encerrará mandato sem construir teleférico na orla de Iranduba

A construção de um teleférico na orla de Iranduba foi uma promessa feita durante a campanha política 2020. No entanto, o projeto não saiu do papel.

Augusto Ferraz encerrará mandato sem construir teleférico na orla de Iranduba

Augusto Ferraz e o vice, Robson Adriel, fazendo visita no local onde seria construído o teleférico - (Foto: Divulgação/Facebook)

Manaus (AM) – O prefeito de Iranduba, Augusto Ferraz (UB), está prestes a concluir seu primeiro mandato sem cumprir uma das promessas feitas durante a campanha política de 2020: a construção de um teleférico na orla da cidade. O projeto, que previa ligar terra firme e várzea até o porto do município, no rio Solimões, tinha como objetivo impulsionar o turismo, gerar empregos e aumentar a renda local; no entanto, a ideia só ficou no papel.

Durante a campanha, Ferraz e o vice-prefeito, Robson Adriel, divulgaram um vídeo no qual apresentavam planos para a orla do município. As propostas incluíam a criação de uma pista de skate, uma praça de alimentação, botecos e o teleférico.

No vídeo, Ferraz afirma: “A gente pode fazer uma pista de skate aqui embaixo (apontando para a área verde), para movimentar o esporte radical dentro do município de Iranduba. Além de tudo isso, com esse espaço cultural que nós vamos criar, criaremos o teleférico, que é muito importante a gente ter um teleférico, para contemplar essa beleza natural que Deus deixou para nós”, diz.

A proposta do teleférico gerou polêmica entre os moradores, que defendiam que Ferraz priorizasse questões mais urgentes da cidade como a infraestrutura e a construção de um novo hospital.

Em fevereiro de 2021, já eleito prefeito, Ferraz compartilhou uma foto ao lado do deputado federal Silas Câmara (Republicanos), em Brasília, onde participaram de uma audiência no Ministério do Turismo para tratar da construção do teleférico e da orla de Iranduba. Na legenda, ele escreveu “Lá vem o teleférico”. Contudo, não foi divulgado o resultado da reunião. Na época, planejava-se que a obra fosse financiada com recursos públicos e privados.

O que diz a prefeitura?

Procurada pelo Portal AM1, a assessoria do prefeito informou que obras como a construção do teleférico “serão reavaliadas e repensadas para um momento propício”. Em nota, Augusto Ferraz justificou que assumiu a gestão de Iranduba em meio à pandemia de Covid-19 e que, em mais de um ano de administração, as atenções se voltaram exclusivamente para ações relacionadas à pandemia.

 

Augusto Ferraz ao lado de Silas Câmara – (Foto: Divulgação/Facebook)

“Registre-se ainda que a gestão vivenciou uma das maiores cheias e a maior seca da história do município. Some-se a isso as dívidas astronômicas que foram herdadas pela atual Administração, que estão sendo rigorosamente pagas, e o estado deplorável das 57 escolas municipais, as quais seguem sendo requalificadas, ampliadas e devidamente equipadas, inclusive com laboratórios de informática”, diz um trecho da nota.

Ainda conforme a nota, quaisquer outros projetos, por mais importantes que sejam – e o teleférico é, indubitavelmente, de extrema importância para o avanço do turismo no município – devem ser reavaliados e repensados para um momento propício.

“No entendimento do prefeito Augusto Ferraz, primeiro devem ser tratadas as prioridades: educação, saúde, infraestrutura, assistência social, etc., que estão recebendo uma atenção especial por parte do Governo Municipal. Estas são áreas que não podem esperar”, finaliza.

Quais estudos devem ser feitos em uma obra como essa?

O Portal AM1 conversou com o engenheiro civil Eduardo Almeida para saber quais estudos preliminares são necessários antes de iniciar o projeto de um teleférico. Segundo ele, primeiramente, é necessário realizar uma análise de viabilidade técnica e econômica para entender se o projeto é possível e financeiramente sustentável. Em seguida, estudos topográficos detalhados são essenciais para mapear o terreno e determinar o trajeto ideal. Análises geotécnicas também são cruciais para avaliar as condições do solo e a capacidade de suportar as estruturas de apoio do teleférico.

Orla do município de Iranduba – (Foto: Divulgação/Marcos Holanda)

“Além disso, é imprescindível realizar um estudo ambiental para identificar e reduzir impactos negativos ao meio ambiente, especialmente em áreas sensíveis, como a orla de Iranduba. Análises climáticas e de vento ajudam a garantir a segurança operacional do teleférico. Todo esse processo preliminar pode levar de seis meses a um ano, dependendo da complexidade do local e das condições específicas”, esclarece.

Quanto ao tempo de construção, de acordo com Eduardo Almeida, uma vez concluídos os estudos e obtidas as aprovações necessárias, a obra pode levar de um a dois anos para ser finalizada. “Isso inclui a fabricação das estruturas, a instalação dos cabos e das gôndolas, além dos testes de segurança”, frisa.

É possível construir em área de várzea?

Questionado se teria condições de ser construída uma obra desse tamanho em locais de várzea, como é o caso da orla de Iranduba, o engenheiro afirmou que é possível, mas a obra apresenta desafios adicionais. “A principal preocupação é a estabilidade do solo, que em áreas de várzea, pode ser bastante instável e sujeito a inundações. Para isso, é necessário um estudo geotécnico aprofundado para garantir que as fundações das torres de suporte sejam adequadas”, explica.

Ele acrescenta que, em áreas de várzea, pode ser necessário utilizar técnicas especiais de fundação, como estacas profundas, para alcançar camadas de solo mais estáveis. “É importante considerar o impacto ambiental e garantir que a construção não prejudique os ecossistemas locais. Com planejamento adequado e técnicas de engenharia apropriadas, é viável construir um teleférico em tais áreas”, pontua.

Iranduba x Campos do Jordão

Teleférico de Campos do Jordão – (Foto: Divulgação/prefeitura)

Em Campos do Jordão tem um teleférico que atrai milhares de turistas que passam pela cidade. Inaugurado oficialmente em 1970, é o primeiro Teleférico de Cadeirinha do Brasil. Nos últimos anos, ele passou por uma transformação total e, hoje, é o primeiro modelo de Teleférico Misto da América Latina, com opção de cadeira com 6 lugares e cabine com 8 lugares.

Comparando a obra de Campos do Jordão à de Iranduba, Eduardo Almeida afirma que o teleférico da cidade paulista é um bom exemplo de um projeto bem-sucedido em uma área turística. No entanto, as condições geográficas e ambientais são bastante diferentes de Iranduba.

“Campos do Jordão está localizado em uma região montanhosa, o que facilita a instalação de teleféricos devido à topografia acidentada, que oferece pontos elevados naturais para as estações”, afirma.

A comparação principal está na adaptação das técnicas de engenharia para as condições locais. Segundo ele, enquanto Campos do Jordão pode servir de inspiração, o projeto de Iranduba deve ser cuidadosamente adaptado para enfrentar seus desafios únicos.

 

LEIA MAIS: