Manaus, 17 de junho de 2024
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Cenário

BR-319: estrada-parque pode garantir direito de ir e vir de pessoas e animais

O modelo já existe. Na Ufam foram construídas pontes aéreas, que formam uma espécie de corredor, desenvolvidas para a travessia em segurança dos primatas.

BR-319: estrada-parque pode garantir direito de ir e vir de pessoas e animais

(Fotos: Reprodução/Instagram projetosauimdecoleira)

Manaus (AM) – A Amazônia é detentora de uma enorme biodiversidade, tanto que há ainda espécies de animais e plantas não catalogadas; talvez, por isso, seja tão difícil chegar a um consenso quando se trata da BR-319.

Embora haja tal dificuldade, diversas pessoas preocupadas com as espécies ameaçadas de extinção já desenvolvem, em Manaus, a passagem aérea para animal arborícola. Essa espécie é comumente vista na área urbana, assim como os marsupiais (conhecidos pelos amazonenses como mucura) e serpentes, que antes das pontes eram atropelados com frequência.

Há 20 anos que o professor, biólogo e pesquisador Marcelo Gordo, da Universidade Federal da Amazônia (Ufam), coordena os trabalhos em prol da preservação do sauim-de-coleira, que vive no entorno da universidade.

Na Ufam, foram construídas pontes aéreas, que formam uma espécie de corredor, desenvolvidas especialmente para a travessia em segurança dos primatas, que antes eram atropelados, mesmo com diversas placas distribuídas no local, alertando para a presença de animais silvestres e que correm risco de extinção.

Assim como esses pequenos macacos, outras espécies de animais selvagens precisam de “pontes” que os afastem dos perigos urbanos. A ideia é criar pontes aéreas ao longo da BR-319 — uma alternativa para proteger os animais.

Além disso, também é uma possibilidade para garantir o direito de ir e vir dos manauaras, que anseiam por uma estrada trafegável na única rodovia que liga a capital do Amazonas aos demais estados brasileiros.

Conforme o também professor e doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, Rogério Fonseca, da Ufam, outras cidades do Brasil já utilizam recursos para diminuir o atropelamento de animais, como a BR-101, na região do Rio de Janeiro, e na rodovia dos Tamoios, que liga São José dos Campos a Caraguatatuba, no estado de São Paulo.

Rogério destaca que, no Brasil, há mais de 90 mil quilômetros de rodovias federais. Destas, já existem ao menos 500 passagens de fauna instaladas. Mas existe um “conflito” entre as normas estadual e federal quanto ao manejo de área protegida da Amazônia.

“Nós que trabalhamos na região, aqui, a gente sabe que existe no sistema estadual de unidades de conservação uma forma de administração. A gente chama isso tecnicamente de uma categoria de manejo de área protegida, que se chama estrada-parque e que caberia muito bem na BR-319”.

Agora, o que acontece, a BR-319 é uma rodovia federal, e aí o regramento normativo dela está na mesma esfera da lei federal, que é a lei 9985 de 2000. A qual não prevê esta forma de administração, lembrando categoria de manejo de unidade de conservação estrada-parque.

“A gente tem reserva biológica, um monumento natural refúgio de vida silvestre. A gente tem reserva particular do patrimônio natural. Tem floresta, tem reserva de fauna, reserva extrativista, área de proteção ambiental e área de relevante interesse ecológico. Mas a gente enxerga outras formas de proteger o ecossistema. Sendo que uma das formas de proteger o ecossistema é construindo estrada-parques”, pontua o doutor em Ecologia.

Rogério Fonseca diz que os órgãos ambientais precisam se ouvir e criar para o Amazonas um modelo próprio. Não somente fazer críticas aos projetos que estão sendo propostos, mas dar uma melhor orientação técnica para que o Dnit e o governo federal consolidem a área da BR-319, e o cidadão não seja cerceado do direito de ir e vir.

“Precisamos pensar se essas cercas que estão sendo feita são as mais adequadas para os animais daqui. E até substituir as cordas por fibra natural. Nós temos que proteger, ao longo da estrada, esses animais que temos aqui na Amazônia.”

 

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