O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse, na sexta-feira, 3, que vai aos Estados Unidos no próximo mês para conhecer uma solução de “transmissão de energia elétrica sem meios físicos”, mas a tecnologia apontada pelo governante como eventual solução para problemas de suprimento em Roraima é algo distante da realidade, improvável de ser aplicada atualmente, segundo especialistas.
O estado da Região Norte tem enfrentado dificuldades energéticas porque era abastecido principalmente por importações da Venezuela, e o projeto de um linhão de transmissão visto como saída para a situação se arrasta há anos em meio a dificuldades de obtenção de licença ambiental para início das obras.
A afirmação do presidente a jornalistas, no entanto, causou estranhamento entre especialistas, que apontaram que sistemas para transmissão de eletricidade sem fio, quando existem, são ainda experimentais e aplicáveis apenas em pequena escala.
Especialistas do setor de transmissão de energia, no entanto, questionaram a possibilidade de uma solução inovadora como a citada pelo presidente ser aplicada no estado, que tem população estimada de 605 mil pessoas.
“Obviamente que isso é uma meta, é um sonho chegar a esse ponto. Eu sei que há pesquisas realmente nessa área, mas até onde se sabe isso está limitado a baixíssimas potências. Está muito longe de ser o que é necessário (para Roraima)”, disse o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ruy Carlos Ramos de Menezes.
“Certamente é uma coisa para o futuro, tudo indica que haverá (a tecnologia). Agora, a preocupação com Roraima imagino que seja muito mais imediata. Achar que essa tecnologia é solução para o linhão é realmente um disparate”, acrescentou.
O professor Dorel Ramos, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que só conhece aplicações comerciais que conseguem evitar a construção de subestações de energia com o uso da chamada indução para alimentar pequenas comunidades, mas ainda assim é necessária uma linha de transmissão.
“Isso existe há muito tempo, mas é muito restrito a questões específicas. Não é uma transmissão sem fio ampla, geral e irrestrita… Roraima é um estado, não é uma pequena carga, e ‘sem meio físico’ é forma de falar. Simplesmente você evita fazer uma subestação, mas se não tem uma linha de transmissão de alta tensão você não consegue fazer nada”, afirmou.
“Não sei se é disso que ele está falando, não sei se tem outro tipo de tecnologia, mas que eu saiba não tem nada… solução que existe para grande escala é com fio”, finalizou o professor.
(*) com informações do Metrópoles
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