Manaus, 21 de janeiro de 2025
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Manaus, 21 de janeiro de 2025

Campanha opõe Lula na TV e Bolsonaro nas redes sociais

Campanha opõe Lula na TV e Bolsonaro nas redes sociais

O começo da campanha eleitoral mostrou que a disputa presidencial de 2022 deve opor a habilidade do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais ao talento do petista Luiz Inácio Lula da Silva em se expressar na televisão.

A vitória nas urnas pode ser do candidato que conseguir combinar melhor o efeito de sua campanha nas duas plataformas, segundo análise de especialistas.“Lula sabe usar a TV e Bolsonaro as redes sociais. Essa deve ser a tônica da campanha”, afirmou o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe).

Segundo ele, o que deve marcar a campanha é a convergência de plataformas. “A TV hoje não é a TV isolada do passado. Ela vai para o YouTube, para as redes sociais e circula no rádio. É o efeito combinado dessa convergência que vai determinar o impacto de cada campanha.”Lavareda lembrou que Joe Biden tinha 10% do total de seguidores em redes sociais de Donald Trump e, mesmo assim, o venceu a eleição nos EUA, em 2020. “É preciso conexão da campanha do candidato com a conjuntura do noticiário para ela não ficar sem sentido.”

Para Lavareda, será difícil medir se o eleitor viu a mensagem na TV ou nas redes sociais e qual plataforma provocou o efeito.Leia mais: Lula ataca ‘fanatismo’ por Jair Bolsonaro: ‘ele, a vida inteira, não foi nada!’Esse impacto combinado da televisão com as redes sociais pode ser sentido na quantidade de pesquisas com os nomes dos candidatos em buscadores, como o Google, no dia da sabatina no Jornal Nacional, da TV Globo.

Na comparação entre o dia 22, quando deu a entrevista, com a segunda-feira anterior, Bolsonaro viu as pesquisas por seu nome registrarem alta de 520%. O mesmo foi observado com Ciro (650% na terça-feira) e Lula (480% na quinta-feira), em comparação com o mesmo dia da semana anterior. Os dados são do Google Trends.

Para o cientista político Rodrigo Prando, professor do Mackenzie, Bolsonaro leva vantagem nas redes sociais sobre Lula porque sua equipe tem um repertório maior de edição e produção de conteúdo do que a do petista. Além disso, a construção do bolsonarismo nas redes precede as eleições de 2018. “Bolsonaro tem um desempenho melhor nas redes, mas muita dificuldade nos ambientes que não são controlados, ao contrário do Lula.”Durante a semana, o poder de Lula na TV ficou evidente na sabatina do JN, em comparação com Bolsonaro. Restou ao presidente usar as redes sociais para tentar diminuir o impacto, apesar de Bolsonaro ter atraído audiência maior do que a do oponente.

O JN registrou 33 pontos de média no Kantar Ibope na entrevista de Bolsonaro, ante 31,4 de Lula e 29 de Ciro.O melhor desempenho de Lula é medido pelas menções aos candidatos nas redes sociais no dia das sabatinas. O petista teve 836,7 mil menções no Twitter na quinta-feira, Bolsonaro alcançou 677,3 mil na segunda e Ciro, 229,6 mil na terça.

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O impacto da entrevista de Lula é confirmado pela Quaest Pesquisas. Segundo seu diretor, o cientista político Felipe Nunes, em média 15 milhões de pessoas foram impactadas com postagens sobre a entrevista de Lula durante a exibição. As entrevista de Bolsonaro e de Ciro tiveram alcance menor – 9 milhões e 2 milhões, respectivamente.

Momentos

Para o cientista político, as reações nas redes mostram que Lula se saiu melhor quando defendeu as medidas anticorrupção no seu governo, ao tratar da aliança com Geraldo Alckmin (PSB) e quando afirmou que política não é lugar de ódio. Já Bolsonaro, ao admitir que xingou o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, ao afirmar que aceitaria o resultado das eleições, desde que limpas e transparentes, e ao responder sobre a aliança com o Centrão.

A repercussão do desempenho dos presidenciáveis se expandiu por meio de páginas de políticos adversários e personalidades. Foi o caso da economista Elena Landau, que assessora a candidata do MDB à Presidência, Simone Tebet, e escreveu sobre Lula: “Vamos reconhecer. Lula está passeando. Deve estar muito feliz de ter tido a coragem de ir (à sabatina).”

Os aliados também foram essenciais nesse trabalho. O ex-governador mineiro Fernando Pimentel (PT), candidato a deputado federal que também se livrou da acusação de corrupção – foi absolvido no processo sobre a Operação Acrônimo -, disse: “Lula sendo Lula na Globo… dando show de bola”.

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Fabio Faria, ministro das Comunicações, viu parcialidade no JN, mas não tratou do comportamento do presidente, que confrontou o apresentador William Bonner e o acusou de “fake news”. O ministro cobrou que a emissora fosse tão dura com Lula quanto fora com Bolsonaro.

(*) Com informações do jornal O Estado de S. Paulo