Manaus, 7 de dezembro de 2024
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Manaus, 7 de dezembro de 2024

Políticos trocam de partido como quem troca de roupa: ‘fragilidade ideológica’

Políticos trocam de partido como quem troca de roupa: ‘fragilidade ideológica’

Manaus, AM – Os meses que antecedem a eleição já começaram agitados para os políticos, que precisam definir, até os primeiros dias de abril, qual será o caminho que irão seguir na disputa. No entanto, enquanto uns se acomodam nas siglas, outros “trocam de time” e começam a jogar ao lado do adversário, que tanto falaram mal, trocaram farpas e enfrentaram na disputa pelos cargos públicos.

Esse exemplo tem sido vivenciado de perto pelos eleitores brasileiros, quando o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiram se unir para tentar derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL). A ação pode ser interpretada de todas as maneiras, mas a que está sendo mais comentada é o fato de que Alckmin “trocou de time”.

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Em uma disputa presidencial entre Lula e Bolsonaro, os políticos pretendem usar todas as cartas para aparecer no jogo, mas Alckmin foi além de tudo o que já fez durante a carreira política, causando surpresa aos eleitores. Isso porque o ex-tucano negocia formar uma chapa com o ex-presidente, para juntos disputarem as eleições deste ano.

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Foto: Reprodução

Tal situação, antes, não poderia ser imaginada no cenário político, uma vez que os candidatos já se enfrentaram nas eleições de 2006, quando Lula conseguiu ser reeleito. Mas, o PT e o PSDB, partido que antes era defendido por Alckmin, já disputam o espaço muito antes do confronto entre os dois.

Mas, parece que o passado político ficou para trás. Alckmin saiu do PSDB e filiou-se ao PSB, além de não poupar elogios a Lula. Como bom apoiador do ex-presidente que se tornou, o ex-tucano também fez críticas ao governo Bolsonaro. No entanto, o comportamento do ex-governador de São Paulo é um velho conhecido dos eleitores, pois durante a história, diversos políticos já “atravessaram o campo” para jogarem ao lado do adversário.

Amazonino e Braga

Apesar de não estarem em lados distintos, Amazonino Mendes (sem partido) e Eduardo Braga (MDB) eram adversários políticos, apesar de já terem ajudado um ao outro. Na eleição suplementar para o Governo do Amazonas, em 2017, Amazonino foi surpreendido com diversas críticas do ex-colega, que mais tarde iria apoiá-lo nas eleições municipais em 2020.

Na época em que foi atacado por Braga, Amazonino afirmou que a campanha eleitoral utilizada pelo senador era “suja”, e ainda faltou a um debate em protesto por conta do adversário. Uma briga ali e um pedido de desculpas aqui, os dois já estavam juntos de novo, e esqueceram o que tinha acontecido.

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Foto: Reprodução

Agora, com uma eleição para o governo do Estado se aproximando novamente, os dois resolveram selar a paz e se unir. Nas redes sociais, Eduardo Braga é só amores com Amazonino, compartilhando momentos entre os dois na política amazonense. Amazonino não descarta uma aliança entre o antigo adversário, “mas que o tempo dirá.”

Ele ainda afirmou que a preocupação com o futuro do Amazonas é o que une os políticos. No entanto, Amazonino segue sem partido e em confronto para se filiar ao PSDB, enquanto Eduardo Braga ainda não oficializou o futuro político, mas está de olho na cadeira no governo, uma vez que faz forte oposição ao governador Wilson Lima.

Arthur e Amazonino

Protagonizando mais uma rivalidade, Amazonino Mendes, por muitos anos, foi adversário do ex-prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB). Nas eleições de 2017, o próprio tucano confessou que existia uma “rivalidade histórica” entre eles, mas deixou de lado para apoiá-lo naquele momento.

No entanto, passados os meses, informações dos bastidores políticos apontaram que a aliança entre os dois havia sido rompida. Porém, o motivo não ficou esclarecido, mas o que contaram fontes foi que Amazonino não teria cumprido com o acordo de nomear o filho de Arthur Neto, o então deputado Arthur Bisneto (PSDB), para ocupar cargos no governo.

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Foto: Reprodução

Mas, como a política vai e volta, agora os dois estão juntos lado a lado, pelo menos é o que Arthur Neto deseja. O tucano quer, de todas as formas, filiar Amazonino no PSDB e apoia a candidatura do político ao Governo do Amazonas, mesmo que essa vontade dele passe por cima da decisão da sigla no Senado Federal, de ter o senador Plínio Valério disputando o cargo.

Do PDT para o PT

Quem imaginaria que uma das principais personagens do governo do PT, Dilma Rousseff, um dia já representou o PDT? Tudo aconteceu após a Ditadura Militar, quando Dilma e o marido Carlos Araújo fundaram o Partido Trabalhista Brasileiro, com Leonel Brizola.

No entanto, a sigla recebeu um novo nome, Partido Democrático Trabalhista (PDT), e mesmo ligado à centro-esquerda, rivalizou eleições importantes nas décadas de 80 e 90 com o PT. Dilma começou a caminhar para a “bandeira vermelha”, em 1998, quando aceitou comandar a Secretaria de Energia, Minas e Comunicações no Rio Grande do Sul, durante a administração do PT.

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Foto: Divulgação / PT

Dilma conseguiu ganhar visibilidade e no governo Lula, assumiu o Ministério de Minas e Energia, além de ser nomeada ministra-chefe da Casa Civil. 

Suplicy em novo caminho

Sendo uma das principais militantes do PT, a ex-ministra dos governos petistas, Marta Suplicy (sem partido) faz parte do time de políticos que mudaram de posicionamento. Em 2015, ela pediu a desfiliação do partido, alegando escândalos de corrupção.

Depois de sair do PT, a ex-senadora se filiou ao MDB e ainda votou a favor do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, de quem foi ministra. Atualmente está sem partido, mas é secretária de Relações Internacionais de São Paulo.

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Foto: Divulgação

Em recente entrevista, Suplicy revelou que foi sondada por Lula para voltar ao PT, mas que não há possibilidade de voltar ao partido. No entanto, a ex-senadora afirmou que é a favor da candidatura de Lula à Presidência.

Caminhos opostos

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, é mais um dos exemplos de políticos que “viraram a casaca”. Ele esteve de frente contra a Ditadura Militar e, após a volta da legalidade, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), sendo um dos deputados mais atuantes da Assembleia Constituinte.

Porém, por conta de divergências dentro da sigla, acabou saindo e fundando o próprio partido, o Partido Popular Socialista (PPS), que hoje se tornou o Cidadania.

Foto: Agência Senado

Durante os governos do presidente Lula, Freire foi oposição do petista, além de apoiar candidatos do PSDB em São Paulo. Nas eleições de 2022, o Cidadania deve formar uma federação com o PSDB e o MDB.

Oito partidos na carreira

O presidente Jair Bolsonaro pode não ter trocado de posicionamento ao decorrer da carreira política, mas já trocou diversas vezes de partido. Bolsonaro agora ostenta a sigla do PL, com o qual deve concorrer à reeleição. No entanto, antes disso, ele passou por diversos partidos, uns com um período mais longo, outros, bem curtos.

No início da carreira, em 1989, Bolsonaro entrou no Partido Democrata Cristão (PDC), quando foi eleito como vereador do Rio de Janeiro, mas exerceu a função apenas por dois anos, pois conseguiu se eleger para deputado federal.

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Em 1993, o partido se fundiu e criou-se o Partido Progressista Reformador (PPR), legenda que possui o nome de Bolsonaro como um dos fundadores. No mesmo ano, o presidente saiu do partido após passar por uma nova divisão, o qual surgiu o Partido Progressista Brasileiro (PPB), que também leva o nome de Bolsonaro na fundação.

Foto: Alan Santos/PR

De lá para cá, Bolsonaro se filiou ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), entre 2003 e 2005, no Partido da Frente Liberal (PFL), em que permaneceu apenas um ano, no Partido Progressista (PP), onde ficou até 2016.

Em 2016, Bolsonaro filiou-se ao Partido Social Cristão (PSC), mas ficou até o ano de 2018, após não ficar satisfeito com os comportamentos da bancada evangélica do partido.

Conseguiu se eleger presidente pelo Partido Social Liberal, onde ficou até 2019, após um racha entre ele e o presidente nacional do PSL, o deputado federal Luciano Bivar. Até então, Bolsonaro estava disposto a criar o próprio partido, o Aliança pelo Brasil.

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No entanto, Bolsonaro acabou se filiando ao Partido Liberal (PL), após passar dois anos sem uma sigla. Mas escolheu um partido do chamado Centrão, comandado por Valdemar Costa Neto para concorrer à reeleição em 2022.

Desencanto

Ao Portal AM1, o cientista político Helso Ribeiro afirmou que a movimentação partidária de Geraldo Alckmin para se aliar a Lula não é uma exceção, mas sim uma regra. Conforme foi explicado por ele, os políticos tendem a trocar de partido, o que vai desencantar o eleitor.

De acordo com ele, essa movimentação vai se multiplicando o tempo todo no cenário político regional e nacional. “Isso gera um certo desencanto no eleitor, porque ele vê que o parceiro de hoje era o inimigo de ontem, que acaba se tornando o inimigo de amanhã”, explicou.

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Foto: reprodução

Ainda segundo ele, a troca de partidos e a movimentação política dos candidatos é considerada uma “fragilidade ideológica de partidos políticos”. Ribeiro ainda destacou que, muitos dos candidatos, apenas se filiam em novas siglas para disputar eleições.

“Boa parte de deputados, senadores, governadores, até o atual presidente já trocou de partido. Então, a gente acaba confirmando a fragilidade ideológica de partidos políticos, e eles estão lá, muitas vezes, apenas para conquistar uma eleição”, declarou.