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Comércio legal de maconha no Uruguai supera 10 toneladas em seis anos

Em 2017, o vizinho sul-americano deu início à comercialização legalizada, controlando de perto a produção e a venda para fins recreativos e medicinais.

Comércio legal de maconha no Uruguai supera 10 toneladas em seis anos

(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Montevidéu – A legalização da maconha, há 10 anos, fez o Uruguai ganhar evidência global como um laboratório para observar os impactos dessa medida, que, até então, nunca tinha sido implementada por um país em nível federal. Quatro anos depois, em 2017, o vizinho sul-americano deu início à comercialização legalizada da cannabis em farmácias.

Esse foi outro movimento pioneiro, que se registrando compradores e controlando, de perto, a produção e a venda para fins recreativos e medicinais, por meio do Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA), órgão criado para se dedicar exclusivamente a esse mercado.

Nesses seis anos de comércio legal de cannabis, mais de 10 toneladas de maconha foram compradas de forma regular nas farmácias registradas do país. Apesar de contabilizar 61 mil pessoas com permissão para a compra, apenas 40% dos registrados efetivamente adquirem a erva, segundo informe do mercado regulado de cannabis, elaborado pelo IRCCA em dezembro do ano passado. A aquisição média por comprador é de 14 a 15 gramas por mês, bem inferior ao máximo permitido, de 10 gramas por semana.

A legalização criou ainda os clubes canábicos, que atualmente são pouco mais de 300 associações com autorização para produzir e distribuir a maconha entre seus 10 mil membros, respeitando um limite de 40 gramas por mês por pessoa. O IRCCA também informa que há 14 mil pessoas autorizadas a cultivar maconha para consumo próprio, com licenças que têm validade de três anos.

Mesmo assim, o comércio ilegal continua a movimentar mais da metade da maconha consumida no Uruguai, proporção que, apesar de estar em queda, mostra as limitações e dificuldades de avançar com o modelo adotado.

Outros países e regiões seguiram na mesma direção e optaram por legalizar a cannabis, como o Canadá, a Holanda e diversos estados americanos, como a Califórnia e Nova York.

A política de drogas é um assunto em debate na maioria das democracias das Américas e da Europa. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal discute, desde 2015, a descriminalização da posse de drogas para uso pessoal – o que é diferente de legalizar o comércio ou o cultivo da cannabis.

O julgamento foi suspenso na última quarta-feira (2) por um pedido de vista do ministro relator, Gilmar Mendes, que pretende aprofundar o voto já proferido e prometeu devolver o processo para julgamento na próxima semana. Até o momento, quatro ministros – Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes – votaram a favor de algum tipo de descriminalização da posse de drogas.

Modelo uruguaio

A legalização da maconha no Uruguai se deu a partir da Lei 19.172, que foi discutida e publicada pelo governo de José Mujica, em 20 de dezembro de 2013. O modelo que vigora desde então inclui uma Junta Nacional de Drogas, órgão criado em 1988 e vinculado à Presidência da República, ao qual cabe a responsabilidade pelas decisões que moldam a política nacional de cannabis.

Já o IRCCA é um instituto criado com a legalização para exercer as funções de regulador do mercado e de assessor técnico do governo para a implementação da política nacional.

É o IRCCA que emite todas as licenças para produção, pesquisa e comercialização de cannabis no país e também registra os usuários de cannabis para a compra em farmácias, autocultivo e participação em clubes canábicos.

A partir da lei que legalizou a maconha em 2013, tanto os clubes canábicos quanto o autocultivo se tornaram possíveis no país. Já a venda em farmácia só foi regulamentada em 2017. Para comprar, aderir aos clubes ou ao autocultivo, é necessário ter pelo menos 18 anos, ser cidadão uruguaio e residir no Uruguai. Turistas e imigrantes não têm acesso à maconha legal no país, e os uruguaios devem aderir a apenas uma das três formas de acesso à maconha.

Antes de a maconha chegar nas 37 farmácias licenciadas, o Estado uruguaio intermedia a comercialização, comprando dos produtores e vendendo para esses estabelecimentos, por meio do IRCCA que, dessa maneira, controla diretamente o mercado, inclusive tabelando os preços.

As concentrações de THC, substância psicotrópica da maconha, também são fiscalizadas, e apenas três tipos de cannabis podem ser cultivados e vendidos: a alfa, a beta, com concentrações menores, e a gamma, um pouco mais concentrada. Os preços variam de R$ 52 a R$ 57 por cinco gramas de maconha, segundo a tabela divulgada para agosto de 2023 e o câmbio peso/real em 1º de agosto.

O IRCCA assumiu a responsabilidade por promover campanhas de conscientização sobre o uso seguro da cannabis e a redução dos seus danos, assim como arrecadar recursos gerados pelo comércio para a saúde pública uruguaia.

Em suas ações, o instituto alerta que o uso frequente de cannabis traz riscos à saúde, podendo gerar dependência, danos respiratórios, psicológicos e neurológicos. A droga também limita a capacidade de concentração e os reflexos e é especialmente contra indicada para adolescentes e grávidas.

(*) Com informações da Agência Brasil