
Desinformação sobre métodos preventivos causam proteção ineficaz contra o HIV (Foto: Reprodução/Freepik)
Manaus (AM) – O índice de mortalidade por aids no país teve registro de queda no Brasil na última década, de 25,5% no coeficiente, que passou de 5,5 para 4,1 óbitos por 100 mil habitantes. Apesar de ser um cenário positivo, em uma perspectiva a longo prazo, cerca de 30 pessoas morreram de aids por dia em 2022, destas, a maioria era negra. O levantamento retoma a importância das divulgações de práticas de prevenção à infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
Ao Portal AM1, a médica infectologista do Hospital Do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo, Drª Marli Sasaki, destacou que para o tema deixar de ser um tabu, é essencial implementar algumas práticas informativas sobre a temática.
“Para que o HIV deixe de ser tabu no Brasil são recomendadas várias estratégias que envolvem educação, conscientização, políticas públicas e apoio comunitário. Implementar programas de educação sexual nas escolas, incluindo informações sobre prevenção, tratamento e convivência com o vírus HIV. Além das campanhas de conscientização na mídia para desmistificar o HIV e o estigma associado”, pontua Marli.
Prevenção combinada
A conscientização sobre o assunto faz parte das prevenções combinadas, desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, para lidar com o número de infecções de HIV, assim como outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
O Ministério classifica os tipos de prevenção a partir de três abordagens: biomédicas, comportamentais e estruturais.
A abordagem biomédica possui um viés de redução do risco à exposição ao vírus. Por exemplo, é nessa abordagem, que se enquadra a utilização de preservativos nas relações sexuais.
“As intervenções biomédicas são ações voltadas à redução do risco de exposição, mediante intervenção na interação entre o HIV e a pessoa passível de infecção. Essas ações podem ser divididas em três grupos:
- intervenções biomédicas clássicas, que empregam métodos de barreira física ao vírus, já largamente utilizados no Brasil;
- intervenções biomédicas baseadas no uso de antirretrovirais (ARV);
- intervenções biomédicas apoiadas na utilização de testes para diagnóstico oportuno.
Enquanto a abordagem biomédica se dedica a utilização e criação dos métodos, a abordagem comportamental se preocupa em difundi-los por meio das campanhas e divulgação de espaços que oferecem a orientação adequada.
“As intervenções comportamentais são ações que contribuem para o aumento da informação e da percepção do risco de exposição ao HIV e para sua consequente redução, mediante incentivos a mudanças de comportamento por parte da pessoa e da comunidade ou grupo social em que ela está inserida”, explica Ministério.
Já ações com a abordagem estrutural se dão por meio de práticas direcionadas aos grupos sociais em específico, em função de direcionar os discursos, fatores e condições socioculturais que influenciam diretamente a vulnerabilidade dos indivíduos.
Segundo a infectologista Marli Sasaki, os especialistas recomendam uma combinação de medidas para prevenir a infecção pelo HIV, incluindo o uso consistente de preservativos, profilaxia pré-exposição (PrEP), profilaxia pós-exposição (PEP), testagem regular para HIV, tratamento como prevenção (TasP), circuncisão masculina e redução de danos para usuários de drogas injetáveis com seringas estéreis.
“Para os especialistas o ideal é a combinação das medidas de prevenção combinada e não apenas uma delas para prevenir a infecção pelo HIV e incluem: uso de preservativos consistente e correto durante as relações sexuais; uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas que têm um risco significativo de contrair HIV; uso de medicamentos antirretrovirais dentro de 72 horas da exposição ao HIV, por 28 dias; identificação precoce e encaminhamento para tratamento; uso regular de antirretrovirais por pessoas vivendo com HIV para manter a carga viral indetectável e, assim, reduzir a transmissão do vírus ao parceiro sorodiscordante (HIV negativo)”, comenta médica.
Para facilitar a compreensão dos métodos, o Ministério da Saúde disponibilizou um “mandala” onde classifica as ações combinadas de prevenção.

(Arte: Ministério da Saúde)
PrEP & PEP
Dentro dessas classificações estão a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), ambos métodos fazem parte de uma prevenção combinada que organizam uma série de estratégias na área da saúde que previnem a infecção pelo HIV.
A profilaxia pré-exposição, como o próprio nome já anuncia, se dedica a evitar a infecção por HIV. O método consiste na tomada de comprimidos antes da relação sexual, que permitem ao organismo se preparar para enfrentar um possível contato com o lentivírus.
No Amazonas, existem 21 unidades dispensadores de PrEP. Além de Manaus, Lábrea, Parintins, Tabatinga e Tefé ofertam o serviço nas Secretarias Municipais de Saúde (SMS).

(Foto: Reprodução/Ministério da Saúde)
A pasta da Saúde também dispõe de algumas orientações e recomenda o uso de PrEP a grupos vulneráveis específicos. Entre eles estão pessoas que, frequentemente, não utilizam preservativos durante relações sexuais; pessoas que se expõem com frequência; aqueles que possuem histórico de episódios de ISTs; praticam relações sexuais em troca de dinheiro, objetos de valor, drogas ou moradia; realizam a prática sexual sob a influência de drogas psicoativas.
O PEP, segundo o Ministério da Saúde, é um método de urgência para ser utilizada em situação de risco à infecção pelo HIV, existindo também prevenção específica para o vírus da hepatite B e para outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Ainda deve ser utilizada em situações onde exista um risco de contágio, como em casos de violência sexual, relações sexuais sem proteção e acidade ocupacional.
O método também funciona mediante a medicamentos que visam reduzir o risco de infecção e devem ser utilizados nas primeiras duas horas da exposição e, no máximo, em até 72 horas após o risco de contágio. O método preventivo pode ser encontrado gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).
A infectologista ressalta que a desinformação sobre esses métodos de prevenção pode fazer com que as pessoas não saibam quando e como aplicá-los corretamente, resultando em uma proteção inadequada contra o HIV.
“A divulgação inadequada sobre esses métodos preventivos pode levar as pessoas a não entenderem quando e como usar cada um, resultando em uma proteção insuficiente contra o HIV. Por isso, campanhas educativas claras e acessíveis são essenciais para aumentar o conhecimento e o uso adequado dessas estratégias preventivas”, complementa a especialista.
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