Manaus, 28 de abril de 2024
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Cultura

Dia da Mentira: quando mentir vira crime ou é doença

O excesso de mentiras pode acabar se tornando hábito degradante às relações sociais, e pode até ser tipificado como crime

Dia da Mentira: quando mentir vira crime ou é doença

Celebrado neste sábado (1º), Dia da Mentira, Dia dos Tolos ou Dia dos Bobos, remonta à França da segunda metade do século XVI.

MANAUS (AM) – Bafo, balela, conto, fábula, fraude, “invencionice”, inverdade, fake news ou apenas mentira. Com a difusão da comunicação, especialmente nas redes sociais, a mentira ganhou força e tem interferido, mais do que nunca, nos rumos da sociedade. Para especialistas, em excesso, a mentira pode caracterizar até uma doença. 

Celebrado neste sábado (1º), Dia da Mentira, Dia dos Tolos ou Dia dos Bobos, remonta à França da segunda metade do século XVI. De acordo com o UOL Escola, em 1564, o rei francês Carlos IX tornou oficial nos domínios de seu reinado o novo calendário, definido durante o Concílio de Trento (1545 a 1563).

Esse novo calendário ficou conhecido como calendário gregoriano por ter sido proposto pelo Papa Gregório XIII. O calendário gregoriano substituiu o calendário juliano (proposto por Júlio César no século I a.C.), provocando alterações fundamentais, como a mudança de datas comemorativas.

Segundo o psicólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Sérgio Freire, todo mundo mente em diferentes graus e hoje mentimos muito mais do que antes por conta da sociedade da visibilidade. 

“Como estamos mais expostos, somos obrigados a configurar nossas personas aos vários ecossistemas em que convivemos. Isso requer adequação e adequação requer escolher o que se mostra, o que não se mostra e o que se mostra mais ou menos, o que acarreta a distorção necessária dos fatos, conhecida como mentira”, explicou o psicólogo. 

A sociedade da visibilidade é conceituada por filósofos e especialistas como uma existência vinculada à visibilidade, e consequentemente à celebridade.

O conceito é uma ramificação da “sociedade da transparência”, definida na obra com o mesmo nome, do filósofo sul coreano Byung-Chul Han, como uma sociedade da desconfiança e da suspeita, que se baseia no controle em virtude do desaparecimento da confiança. 

Para o filósofo Byung-Chul Han, a “transparência é um dos conceitos para compreender os fenômenos sociais e cibernéticos que consolidam a sociedade contemporânea como um regime de controle, cujo reflexo imediato é a cultura da exibição, da desritualização e da nudez”.

Excesso de mentira

O excesso de mentiras pode acabar se tornando hábito e degradando as relações sociais. Nas últimas eleições no Brasil, por exemplo, uma rede de mentiras difundidas amplamente, especialmente na Internet, trouxe à tona o amplo alcance das “fake news” – mentiras criadas a partir de um fato inexistente para gerar ganho ou prejuízo.

“Mentira é um termo mais genérico. Toda fake news é mentira, mas nem toda mentira é fake news”, explicou o psicólogo e professor Sérgio Freire. 

A legislação brasileira define, no Código Penal, pelo menos três crimes relacionados à difusão de informações falsas (fake news) e/ou ligados a boatos e mentiras: calúnia, difamação e injúria, punidos com penas de detenção e multa. 

Para o psicólogo, o excesso de mentiras pode acabar degradando as relações sociais. 

“As relações são pactos, são contratos que se estabelecem. Quando as pessoas mentem dentro de uma relação e com essa mentira rompem o acordado, a relação tende a se enfraquecer e, em última instância, a se romper. Novamente estaremos dentro do espectro que é amplo, que vai da mentirinha sem muita consequência (white lie) a mentira que arrebenta os alicerces de uma relação. De novo, há graus. Saber a gradação da mentira para sobreviver é um exercício subjetivo. Mas todos mentimos”, explicou o psicólogo Sérgio Freire. 

De acordo com ele, há graus de mentira e isso é fator determinante para definir quando uma mentira pode acabar sendo um transtorno psicológico. 

“Todo mundo mente. Mas há graus. Existe aquilo que os americanos chamam de White Lie, que é a mentira que não faz mal. Por exemplo, quando alguém pergunta se você não tem dinheiro trocado para pagar algo. Você até tem, mas quer destrocar uma nota maior. É uma white lie. Ninguém morre por isso. Mas quando a mentira é uma característica recorrente do comportamento de uma pessoa, pode, de fato, ser um transtorno.  A mitomania é a compulsão pela mentira, contada de forma consciente, que tem por objetivo a autoproteção ou, muitas vezes, o falseamento da realidade, de maneira a fazê-la parecer melhor. Trata-se de um processo de adoecimento psíquico, em que a pessoa que sofre vive alimentando mentiras. É um grau elevado e é importante dizer: há graus”, esclareceu o psicólogo e professor.