Manaus (AM) – No cenário político nacional, está em pauta a proposta de redução da jornada de trabalho, que defende o fim do modelo atual de seis dias de trabalho e um dia de descanso (6×1), substituindo-o por uma semana de trabalho de quatro dias, com três de descanso.
Atualmente, a Constituição estabelece uma carga máxima de 8 horas diárias e 44 horas semanais, o que permite o trabalho por seis dias seguidos, com um dia de descanso. A deputada federal Erika Hilton (PSoL-SP) e o deputado federal de Minas Gerais, Reginaldo Lopes (PT), são os principais responsáveis pela introdução da pauta, que, no início desta semana, ultrapassou as assinaturas necessárias a fim de seguir para o Congresso Nacional e ser apresentada oficialmente como uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
Diante deste cenário, a reportagem do Portal AM1 foi às ruas de Manaus para entender como a população avalia o tema.
A aposentada Maria Vitória, que trabalhou por dezoito anos em um regime de escala com seis dias de trabalho e um de descanso, considera o modelo atual exaustivo. Para ela, as pessoas não têm tempo para lazer ou para estar com a família e amigos.
“Acho importante, sabe, porque, na minha época, quando eu trabalhava, eram oito horas. Era muito pesado, entendeu? Então, significa que hoje tem muita coisa importante. Por exemplo, uma jornada de trabalho muito pesada você adoece; você não tem tempo, é muito cansativo”, disse Maria Vitória.
Ela acredita que a mudança poderia até ajudar a desafogar o sistema de saúde.
“Essa, agora, vai ser boa, porque diminui, o trabalhador tem mais tempo para a família. Tipo, vai ao médico, tem tempo para se cuidar, não sufoca o sistema de saúde, que está defasado mesmo. Então, é melhor que fique assim, com essa jornada mesmo. Eu acho que o jovem, hoje, deveria ter mais tempo para estudar e para trabalhar, porque é muito trabalho; tem que ajudar a família, aí sufoca, deixa de estudar, abandona a faculdade, deixa tudo para trabalhar. E é uma carga pesada, às vezes, nem dá tempo”, destacou.
Essa visão também é compartilhada por outros moradores da capital amazonense. A artesã Raina Lopes, de 33 anos, vê a atual jornada de trabalho como um obstáculo para se ter uma “vida digna”. Ela enfatiza como as mulheres, em particular, enfrentam pressões sociais que dificultam a conciliação entre o trabalho e as responsabilidades domésticas.
“A minha opinião é que isso deveria não só ser colocado em pauta para discussão, mas também ser aprovado, porque não tem como você ter uma vida digna, uma vida em que consiga viver, se você não consegue descansar, não consegue ter lazer, não consegue desfrutar da presença da sua família. Porque, num dia de folga, você tem que cuidar de casa, principalmente quem é mulher: cuidar de casa, resolver problemas que a gente não consegue resolver, porque, geralmente, num domingo, não tem nada aberto. Cuidar de filho, dos afazeres domésticos, e não dá”, afirmou Raiana.
A digitadora Rose Rodrigues, que trabalhou por um ano no regime de escala 6×1, também enxerga a realidade vivenciada pelas mulheres.
“Seria bom, né? Tem muita mãe que, às vezes, não tem quem deixar o filho, não tem uma irmã, uma amiga, alguém para olhar. E essa diminuição da jornada seria ideal, principalmente para as mães, né? Por conta de não ter com quem deixar os filhos; seria ótimo!”, avaliou.
O professor José Castro, que trabalha em regime de 4 horas semanais, enxerga a proposta como uma oportunidade de beneficiar o trabalhador.
“Para mim, é importante, porque o trabalhador sempre é o mais prejudicado em todas as decisões vindas do governo. Obviamente, se vai favorecer o trabalhador, eu concordo com a redução da jornada. Até porque o trabalhador tem família, tem que ter lazer, tem que ter vida social. E, no momento em que estamos vivendo, a jornada de trabalho é crucial, o salário não é muito digno e é preciso ver o que vai acontecer”, defendeu o professor.
Redução da jornada de trabalho
Vale ressaltar que já tramita na Câmara dos Deputados outra proposta sobre a redução da jornada semanal, a PEC 221/19, do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG). A proposta visa reduzir a jornada de 44 para 36 horas semanais. Contudo, o texto de Lopes está, desde março deste ano, aguardando um relator na Comissão de Constituição e Justiça, conforme apurou o Portal AM1.
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