Manaus, 3 de maio de 2024
×
Manaus, 3 de maio de 2024

Cidades

Estudo de 35 anos revela que aves estão desaparecendo no Norte de Manaus

O monitoramento foi realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia (INPA) e os estudos desenvolvidos por cientistas americanos da Louisiana State University

Estudo de 35 anos revela que aves estão desaparecendo no Norte de Manaus

Foto divulgação

Populações de aves estão diminuindo mesmo em áreas da floresta amazônica que permanecem intactas, mais precisamente ao Norte de Manaus (AM). É o que aponta um monitoramento de mais de 35 anos feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

A redução na população de pássaros acontece principalmente com as aves que forrageiam no chão da floresta, ou seja, aquelas que vivem nas partes baixas da floresta e que se alimentam de insetos no solo.

Os dados foram utilizados por cientistas americanos da Louisiana State University para produzir o estudo, feito na Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), do Inpa.

A redução na população de pássaros acontece principalmente com as aves que forrageiam no chão da floresta – os pássaros que vivem nas partes baixas da floresta e aqueles que se alimentam de insetos no solo.

“Achamos que o que está ocorrendo é uma erosão da biodiversidade, uma perda no número de espécies em um lugar onde nós esperaríamos que a biodiversidade pudesse ser mantida”, disse o professor do departamento de Recursos Naturais Renováveis da LSU, Philip Stouffer, que é o principal autor do artigo publicado da revista Ecology Letters.

Stouffer começou suas pesquisas de campo na Amazônia quando era pesquisador de pós-doutorado na Instituição Smithsonian, em 1991. Ao longo de 25 anos, com apoio da National Science Foundation, principal órgão de fomento à pesquisa dos Estados Unidos, ele levou adiante um longo monitoramento de aves no PDBFF, iniciado em 1980.

Em meados de 2008, ao longo deste monitoramento, ele e seus alunos notaram que algumas espécies de aves que eram abundantes quando o projeto começou, estavam desaparecendo. Dessa observação surgiu o plano de pesquisa para coletar dados atualizados para serem comparados com os dados levantados de 1980-1984. Colaboraram com a pesquisa os estudantes de doutorado da LSU, Vitek Jirinec e Cameron Rutt.

O professor Stephen Midway do departamento de Oceanografia e Ciências de Sistemas Costeiros da LSU, também auxiliou na pesquisa. Foram analisados dados coletados ao longo de 35 anos em 55 localidades diferentes.

Midway afirma que a base de dados é muito robusta e de grande variedade de lugares o que levou anos para ser construída. “O resultado não é um chute, é um padrão real, e parece estar ligado a eventos causados pelas mudanças climáticas globais, que estão afetando até mesmo este lugar praticamente intocado”, afirma o pesquisador.

O professor Stouffer destaca que o fato de os padrões de ocorrência de animais estarem mudando na ausência de mudanças na paisagem é um sinal de alerta. “Preservar apenas as florestas não será o suficiente para manter a biodiversidade das florestas tropicais”.

Para o ornitólogo e pesquisador do Inpa Mario Cohn-Haft, as mudanças nas populações de aves estão associadas a distúrbios humanos indiretos e podem ter várias implicações. “A gente está afetando a floresta, mesmo sem perceber, e as aves são esses indicadores da condição ambiental”, explicou o pesquisador do Inpa.

Em geral, as aves que mais declinaram em números estão associadas de certa forma ao solo da floresta, onde buscam artrópodes, principalmente insetos. Entretanto, há algumas diferenças que fazem algumas espécies serem vencedoras ou perdedoras na luta pela vida na floresta.

Por exemplo, Myrmornis torquata, o pinto-do-mato-carijó, é uma das espécies cuja abundância declinou desde 1980. Essa ave é especialista em buscar alimento sob folhas secas, na serapilheira da floresta. O uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus arada), outra ave em declínio, também é raramente avistada, mas que possui um dos cantos mais icônicos da floresta amazônica.

 

*Informações INPA