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Fenômeno El Niño potencializa queimadas no AM? Especialistas explicam

Porém, ressaltam que o El Niño está reduzindo o seu período de incidência devido consequências do aquecimento global.

Fenômeno El Niño potencializa queimadas no AM? Especialistas explicam

Crescimento no número de queimadas, pode ter relação com o fenômeno El Niño, apontam especialistas (Foto: Reprodução/BD Queimadas)

Manaus (AM) – O aumento das queimadas no Amazonas é um fenômeno que causa preocupação. Dados do Bando de Dados (BD) de Queimadas, organizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas e Estatísticas (INPE), o aumento do primeiro semestre de 2023 comparado ao primeiro semestre de 2024, foi de 70,7%. Em 2023, durante os meses de janeiro a junho, houveram 390 focos de incêndio, enquanto em 2024, com o mesmo período de referência, foram 666 focos de queimada, com base no satélite Aqua Tarde.

Embora parte significativa dos números de focos de incêndio sejam causadas por ações humanas, esse crescimento também pode estar sendo potencializado devido ao fenômeno climático El Niño, apontam especialistas.

El Niño x La Niña

O nome pode soar familiar, mas as consequências do evento climático são desconhecidas por muitos. Pensando nisso, o Portal AM1 conversou com alguns especialistas para esclarecer o significado do termo. Conforme professor e ambientalista da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Erivaldo Cavalcanti, esse fenômeno altera significativamente o clima da terra. Segundo o especialista, os efeitos do El Niño na região incluem chuvas intensas, enchentes e deslizamentos de terra.

“O El Niño é um dos principais fenômenos climáticos naturais que altera significativamente o clima. Ele surge a partir do aumento das temperaturas na superfície das águas do oceano Pacífico e se dissemina, principalmente, pela Amazônia. O seu impacto na região são intensas chuvas, enchentes e deslizamentos de terra”, descreve professor.

O geógrafo e ambientalista Carlos Durigán explica que esse fenômeno afeta várias partes do mundo, mas têm um impacto particular na Amazônia. O ambientalista completa ainda que o El Niño não ocorre com frequência regular; pode aparecer a cada três ou cinco anos, ou em intervalos variados.

“Isso causa alterações em diversas partes do mundo, mas em especial aqui para a Amazônia. O que acontece durante esses períodos, com esse aquecimento anormal do Pacífico, é a influência que, durante os períodos de verão, nós temos verões mais intensos, com menos chuva. Isso leva a um cenário de secas mais extremas, períodos secos mais extremos”, pontua

Durigán ressalta que o El Niño está reduzindo o seu período de incidência devido consequências do aquecimento global.

“Existem alguns estudos indicando a maior frequência de incidência de períodos de El Niño nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, esses períodos de El Niño aparecendo de forma extrema. O aquecimento, além de outros registros anteriores, tem relação direta com a questão do aquecimento global. Então não é só o El Niño isoladamente, o El Niño, sim, traz elementos que transformam bastante o clima para a nossa região, mas, nos últimos anos, esses efeitos têm se intensificado, como foi o caso do ano passado”, esclarece Durigán.

 

O La Niña, conforme a socioambientalista Muriel Saragoussi, também pode contribuir para a intensificação dos impactos ambientais no Amazonas. Embora o El Niño, por si só, já afete bastante o clima da nossa região, os impactos têm se fortalecido nos últimos anos, como aconteceu no ano passado.

“O fenômeno El Niño e o fenômeno La Niña são dois fenômenos de esquentamento e de esfriamento das águas do Pacífico. Eles têm uma influência direta no clima da Amazônia. O El Niño potencializa as queimadas, porque ele torna o ar mais quente, mais seco, facilitando com que o fogo pegue e se espalhe e, que não tenha chuva suficiente para poder ajudar a apagar, nem para manter a umidade da floresta. A gente ainda está pegando o final do El Niño, que começou no ano passado. Por isso que continua a ter muita seca e aumento de queimadas.”, explicou Saragoussi.

Muriel ainda aponta que esse fenômeno do crescimento das queimadas não possui uma explicação simples e muito menos imediata porque, se acontecesse dessa forma, “há muito tempo que elas já teriam sido combatidas”.

Desmatamento

Desde 2023, o Brasil iniciou um período positivo de redução do desmatamento em alguns setores da Amazônia, como as Unidades de Conservação (UC’s) na amazônia.

Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o primeiro semestre de 2024 apresentou o melhor cenário dos últimos anos. Entretanto, segundo o geógrafo e ambientalista Carlo Durigán esse cenário acabou não evitando um período de extrema seca, potencializado pelo fenômeno do El Ninõ.

“Desde 2023, nós iniciamos um período em que tivemos uma redução do desmatamento em alguns setores da Amazônia. E isso, inclusive, tem gerado uma expectativa positiva. Isso tem se mantido em 2024, um processo de redução do desmatamento. Em contrapartida, tanto em 2023 como agora, já no início do verão amazônico, nós tivemos um período de extrema seca. 2023 foi o ano marcado pelo fenômeno El Nino, por efeitos de um fenômeno extremo, que está relacionado a mudanças climáticas globais, um aumento da temperatura do planeta nos últimos anos. 2023 foi um ano de recordes de temperaturas em todo o planeta, e temperaturas altas”, lembra o geógrafo.

 

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