
Fotos: Arquivo Pessoal
Manaus (AM) – Neste Dia Internacional da Mulher, o Portal AM1 compartilha as histórias de quatro amazonenses que enfrentaram grandes adversidades, e com coragem e determinação, tornaram-se as responsáveis pelo sustento de suas famílias. Elas são um exemplo de resiliência e superação e retratam milhares de brasileiras.
Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o número de mulheres que chefiam os lares brasileiros saltou de 38,7% em 2010 para 49,1% em 2022. Esse crescimento reflete a realidade de milhões de brasileiras que, como as protagonistas dessas histórias, assumem o papel de provedoras, muitas vezes sem rede de apoio, mas sempre com um olhar voltado para o futuro.
Maternidade e empreendedorismo
Thais Martins, 27 anos, natural de Iranduba, teve sua vida virada de cabeça para baixo há quase três anos, quando perdeu seu marido de forma repentina. Na época, estava grávida de seu terceiro filho e já tinha mais dois para cuidar. Sem saber o que fazer, Thais se viu em um momento de desespero, com medo de não conseguir sustentar seus filhos e de não seguir adiante para tocar os projetos familiares que ela e seu esposo haviam construído. No entanto, com o apoio da família e com muito esforço, ela conseguiu encontrar um novo caminho.
“Parece que meu mundo desabou, me vi no fundo do poço. Perdi meu esposo, estava grávida e tinha dois filhos pequenos. Naquele momento, achei que seria o fim de tudo, pois meu marido era um homem incrível, sempre cuidou bem dos filhos e nos proporcionou o melhor. Mas, ao longo do tempo, busquei ajuda psicológica, tentei reorganizar minha vida e fui me reerguendo”, conta Thais.
Nos primeiros meses após a perda, Thais se viu em um momento de profundo desespero, sem perspectivas e sem força para seguir em frente. A situação parecia sem saída. Contudo, o tempo e a ajuda de profissionais foram fundamentais para sua recuperação. Ela buscou acompanhamento psicológico e começou a tentar lidar com a dor da perda, tentando focar no que poderia fazer para reerguer sua vida.
“Eu vivi um período muito difícil, me vi sem saber como sustentar meus filhos e sem recursos. Mas nunca deixei de acreditar que Deus iria me honrar, que minha força seria recompensada. Agradeço a Deus porque, embora tenha enfrentado tantas dificuldades, não cheguei a passar fome. Tive o apoio da minha mãe, da minha avó e da minha sogra, que sempre estiveram ao meu lado. Esse apoio foi fundamental para que eu seguisse em frente”, compartilhou Thais.
Nos momentos mais difíceis, Thais precisou tomar decisões duras, como trancar os cursos, pois não tinha condições de pagar as mensalidades, e vender o carro da família para priorizar as necessidades mais urgentes. Mesmo diante dessas dificuldades, ela nunca perdeu a esperança de um futuro melhor.
“Hoje, posso dizer que estou bem, estou realizada e muito feliz. Deus me honrou, como sempre soube que aconteceria. Hoje, vejo que todo o esforço valeu a pena, e continuo sendo a mulher forte e dedicada que sempre fui, cuidando dos meus filhos e buscando o melhor para nossa família”
Hoje, Thais é formada em Serviço Social, técnica em auxiliar jurídico, e trabalha como consultora jurídica e financeira. Além disso, é empreendedora, com duas lojas virtuais: uma de papelaria e presentes criativos, e outra de maquiagens e cosméticos. A opção de empreender surgiu como uma forma de conciliar seu trabalho com a criação dos filhos.
“Atualmente trabalho de home office com os atendimentos online tanto da consultoria quanto das lojas virtuais. Com isso, consigo me dedicar tanto a eles quanto aos estudos, por isso, optei por empreender.”
Uma vida de luta pela família
Francisca Queiroz de Lima, conhecida como “tia da trufa”, tem 66 anos e uma história de superação que simboliza a força das mulheres brasileiras. Aos 27 anos, ela foi abandonada pelo marido e se viu com três filhos pequenos para criar, sem recursos financeiros e com pouca escolaridade — só havia completado a 5ª série. Mas, em vez de se deixar abater, Francisca decidiu lutar pela sobrevivência e pelo futuro das suas filhas.
“Não tinha estudo, mas comecei a trabalhar onde dava. Trabalhei em casa de família, fui servidora pública, sempre que surgia uma oportunidade, eu pegava. Foi muito difícil, mas, graças a Deus, meus filhos conseguiram estudar ”, relembra Francisca. Ela conta que, na época, o ex-marido não ofereceu o suporte necessário, o que tornou a jornada ainda mais difícil.
Atualmente, Francisca continua trabalhando e ajudando a cuidar dos netos e bisnetos. Ela sempre esteve à frente de sua família, sendo a principal responsável pela casa e o sustento de todos. “Hoje crio minha bisneta, e continuo trabalhando. O que me motiva a seguir em frente é poder ajudar a minha família, como sempre fiz”, afirmou. Sua vida é um exemplo de dedicação e persistência, mostrando que a luta nunca para.
Superação e dedicação
Paula Cavalcante, de 65 anos, é outro exemplo de mulher guerreira e resiliente. Desde muito jovem, Paula precisou começar a trabalhar para ajudar a sustentar a família após a morte do pai. Em 1979, ela começou a trabalhar na empresa CCE da Amazônia, quando ainda não tinha completado 18 anos. Após a morte do pai, Paula assumiu a responsabilidade de ajudar a sustentar a casa junto com os irmãos. A sua jornada de trabalho foi intensa e cheia de desafios, mas sempre com o foco em garantir o futuro da família.
“Foi uma época difícil. Perdi meu pai e, com isso, a necessidade de trabalhar ficou mais urgente. Depois, consegui comprar minha casa e criei meu filho sozinha. No começo, foi complicado, eu tinha que deixá-lo com minha mãe enquanto trabalhava, mas sempre segui em frente”, conta Paula, que atualmente é aposentada.
Paula acredita que as mulheres sempre encontram uma forma de superar as dificuldades, mesmo com os desafios impostos pela vida. “Naquela época, o emprego era mais fácil de conseguir, mas, hoje em dia, sabemos que não é tão simples. No entanto, as mulheres sempre dão um jeito de dar conta das adversidades”, afirmou Paula.
Multitarefas
Rayane Lacerda, 31 anos, é mais um exemplo de mulher que, além de ser mãe de três filhos, consegue conciliar sua rotina de trabalho, cuidado com a família e ainda dar espaço para sua paixão pela poesia. Com um filho de 10 anos, uma filha de 7 e um de 3 anos, Rayane é a principal responsável pelo sustento da casa.
“Quando vou trabalhar, minhas tias cuidam da minha filha mais nova, e meus meninos ficam com a minha mãe enquanto vou trabalhar. Além disso, o pai do meu filho mais velho também me apoia bastante, oferecendo suporte quando preciso. Sem a minha família, não seria possível dar conta de tudo. Precisamos abdicar de nossa presença materna para trabalhar, mas sempre encontramos um jeitinho de conciliar as coisas”, explicou Rayane.
No entanto, a maior dificuldade que Rayane enfrenta é a ausência nos momentos importantes da vida de seus filhos. Ela reconhece que, muitas vezes, a rotina de trabalho faz com que perca momentos cruciais do desenvolvimento deles.
“Acho que essa é a pior parte de tudo. Acabamos perdendo alguns momentos importantes do desenvolvimento deles. Mas, fora isso, sempre tentamos estar juntos nas horas vagas e nas folgas. A minha maior felicidade é quando estou de folga, pois posso estar com meus filhos e fazer algo diferente juntos”, compartilhou Rayane, com emoção.
Além de ser mãe e trabalhadora, Rayane também consegue encontrar tempo para se dedicar à sua paixão pela poesia. Ela escreve poesias e já conquistou um campeonato de poesia falada, uma realização que a enche de orgulho. A paixão pela cultura Hip Hop também faz parte da sua vida desde 2012, quando começou a se envolver no movimento e, atualmente, representa a comissão de poesia junto a uma amiga, além de participar ativamente do evento anual Hip-Hop Curumim, realizado no Dia das Crianças.
“Desde que comecei no Hip-Hop, trabalhamos voluntariamente no movimento. Hoje, junto a uma amiga, represento a comissão de poesia. Também realizamos o evento Hip Hop Curumim todos os anos no Dia das Crianças”, contou Rayane, que, além disso, trabalha no restaurante Terra e Mar.
Rayane trabalha como comissária de serviço no Restaurante Terra & Mar. “Sou muito bem-aceita pelos clientes e recebo ótimas avaliações no grupo e no TripAdvisor pelo meu bom atendimento. A vida é feita de altos e baixos, mas vamos seguindo em frente, tentando equilibrar a vida de mãe, mulher trabalhadora e poeta”, conclui.
Ela enfatiza que a busca por equilíbrio entre o trabalho, os filhos e a realização pessoal não é fácil, mas encontra forças em sua família e nas suas paixões, fazendo de cada desafio uma oportunidade para crescer e inspirar outras mulheres.
Confira uma das poesias de Rayane:
Mulher do Norte
A mulher do Norte é índia guerreira,
O arco e flecha é sua arma,
A maloca é sua morada,
A Floresta Amazônica é seu habitat natural.
A mulher do Norte gosta mesmo é de mandar
E ai de quem tente passar por cima do que foi dito por ela.
Nada está bom, e se tiver bom,
Continua dizendo que não está.
A mulher do Norte é de estatura baixa, porém de temperamento forte,
Tipo aquele ditado: “nos menores frascos, os melhores perfumes”.
A mulher do Norte, matriarca, batalhadora, acorda cedo para trabalhar
Comida na mesa nunca deixa faltar
Incentiva os filhos a estudar
Para que, no futuro, possa da velhice desfrutar.
A mulher do Norte é Quente,
Igualmente a temperatura do sol ardente,
Que no verão de agosto se faz presente.
A mulher do Norte, sobretudo é forte,
Como a espada de Yansã, nas tempestades do inverno amazônico.
A mulher do Norte é a lapidação para este poema,
Pois, eu poderia passar dias e dias definindo a mulher que me é motivo de se inspirar.
Banhada pelo Rio Negro,
A mulher do norte é a PACHA MAMA
A mulher do Norte é o próprio Norte
A mulher do norte é a minha capital,
A mulher do norte é a minha cidade,
A mulher do norte é o meu país,
E o meu país é a Amazônia
A mulher do norte é a minha Manaus.
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