Manaus, 18 de abril de 2024
×
Manaus, 18 de abril de 2024

Mundo

Hamas dispara foguetes, e Israel revida após novos conflitos em Jerusalém

Hamas lançou ataque sobre Israel no Dia de Jerusalém, um feriado nacional. Resposta israelense veio logo em seguida, com bombardeio de Gaza

Hamas dispara foguetes, e Israel revida após novos conflitos em Jerusalém

Imagem: Reprodução/ Freepik

JERUSALÉM, ISRAEL – Após novos conflitos entre manifestantes palestinos e forças de segurança israelenses perto da mesquita de Al-Aqsa -terceiro lugar mais sagrado para o islamismo- simultâneos às comemorações do Dia de Jerusalém, em que os judeus celebram a reunificação do país, o Hamas deu um ultimato a Israel exigindo que o Estado retirasse seus militares dos dois principais pontos de conflito.

O grupo islâmico, que controla a Faixa de Gaza e é considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, tem expressado apoio aos palestinos em Jerusalém e deu, nesta segunda, um prazo que se encerrou ao meio-dia (horário de Brasília) para que as forças israelenses recuassem de suas posições na Esplanada das Mesquitas e no bairro Sheik Jarrah, palco de ações judiciais para despejos de famílias palestinas.

Minutos após o fim do prazo, foguetes foram disparados de Gaza em direção a Israel. As Forças Armadas contabilizaram ao menos sete foguetes, dos quais um foi interceptado pelo sistema de defesa antimíssil e seis caíram em áreas abertas. Não há relatos de feridos, mas as autoridades ordenaram uma evacuação temporária de algumas regiões da Cidade Antiga, do Muro das Lamentações e de prédios oficiais como o do Knesset, o Parlamento israelense.

Leia mais: ‘Eu poderia ser um dos mortos’, diz brasileiro que escapou de tragédia em Israel

O porta-voz das Forças Armadas de Israel, Hidai Zilberman, confirmou que o Exército retaliou com um ataque aéreo contra alvos do Hamas, o que teria provocado a morte de três militantes. Já o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, que é controlado pelo grupo islâmico, afirmou que ao menos 20 palestinos morreram em decorrência do bombardeio nesta segunda, incluindo 9 crianças.

No começo da tarde, uma árvore pegou fogo na Esplanada das Mesquitas, mas as chamas foram controladas antes que o incêndio atingisse a mesquita de Al-Aqsa. Durante a noite desta segunda, foram registrados novos confrontos entre palestinos e forças de segurança israelense no local.

No que depender de Israel, os episódios desta segunda, que marcam um agravamento da violência que contrasta com a relativa calma da região nos últimos meses, devem se prolongar. “Nos próximos dias, o Hamas sentirá o longo braço do Exército [israelense]. Não vai demorar alguns minutos, vai demorar alguns dias”, disse Zilberman.

O porta-voz disse que “todas as opções estão na mesa”, incluindo um conflito mais amplo com uma operação terrestre, bem como operações para matar líderes terroristas. “Temos um endereço claro: o Hamas. O grupo pagará um preço caro por suas ações. Vamos responder com veemência.”

Alerta internacional

Diante da escalada de violência, o governo dos EUA, que mais cedo havia pedido calma a israelenses e palestinos, divulgou um alerta para que funcionários dos postos diplomáticos americanos em Jerusalém não saiam de casa até pelo menos o próximo domingo (16).

Nesta segunda, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu para avaliar a violência dos últimos dias em Israel, mas não chegou a uma decisão conjunta. Segundo relatos de diplomatas à agência de notícias AFP e ao jornal Times of Israel, os EUA se opuseram a uma declaração pública por considerar o momento inoportuno.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinke, pediu que os dois lados trabalhem para diminuir a tensão na região e afirmou que o Hamas deve para imediatamente de lançar foguetes em direção a Israel.

A proposta de resolução, apresentada pela Noruega em conjunto com China e Tunísia, exige “que Israel interrompa as atividades de colonização, demolição e expulsão” de palestinos “incluindo em Jerusalém Oriental”. Além disso, o documento expressa a “profunda preocupação” do Conselho com os incidentes e solicita às partes que evitem “medidas unilaterais que exacerbem as tensões e minem a viabilidade da solução de dois Estados”.

Conflito Israel x Palestina

A sequência de conflitos em Jerusalém já dura quatro dias e deixou centenas de feridos. Só nesta segunda, de acordo com a ONG Crescente Vermelho Palestino, ao menos 330 palestinos ficaram feridos ao serem atingidos por balas de borracha e granadas de atordoamento.

Segundo a polícia, 21 agentes também se feriram, atingidos pelas pedras lançadas pelos palestinos.

https://twitter.com/arquivomundial/status/1391899317191970816?s=20

Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, acusou as “forças de ocupação israelenses” de conduzirem um “ataque brutal” em Al-Aqsa. Abbas, há semanas, denunciou o “incitamento ao ódio” de grupos israelenses de extrema direita e instou a comunidade internacional a “proteger” os palestinos em Jerusalém Oriental.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, que pode deixar o cargo se a oposição conseguir formar um governo de coalizão, disse que Israel vai responder aos ataques “com muita força”.

Antes, ele chegou a convocar uma reunião de emergência e pediu calma a todas as partes envolvidas. O pedido, no entanto, não cessou os enfrentamentos, ainda que o premiê tenha afirmado que a liberdade de culto está sendo mantida para todos os residentes e visitantes de Jerusalém.

Feriado nacional

O Dia de Jerusalém é o feriado em que Israel celebra a reunificação do país, ocorrida em 1967, após o conflito que ficou conhecido como Guerra dos Seis dias. A comemoração, porém, aborda tópicos delicados dos conflitos na região, já que parte do território capturado por Israel naquele ano inclui locais que também são sagrados para muçulmanos e cristãos.

Em um esforço para amenizar a onda de violência dos últimos dias, a polícia israelense proibiu grupos judeus de visitarem a praça sagrada que abriga a mesquita de Al-Aqsa, apesar de a área também ser reverenciada pelos judeus como um local dos templos bíblicos.

As autoridades também cancelaram a tradicional marcha do Dia de Jerusalém, durante a qual milhares de jovens judeus com bandeiras de Israel passam pelo Portão de Damasco, uma das entradas da Cidade Antiga, e pelo bairro Muçulmano. Vídeos nas redes sociais mostram pequenos grupos de judeus correndo enquanto soam as sirenes de alerta para ataques de foguetes.

Segundo o jornal Times of Israel, a polícia de Jerusalém autorizou, pouco após os disparos, a retomada das celebrações na Cidade Antiga.

No mês passado, uma marcha menor, formada por judeus ultranacionalistas que entoaram gritos de “morte aos árabes” e “morte aos terroristas”, serviu de gatilho para os confrontos entre israelenses e palestinos em meio ao clima de tensão desde o início do ramadã, mês mais importante para a tradição religiosa dos muçulmanos. Na ocasião, houve mais de 120 feridos e 50 presos.

Quando a violência na Esplanada das Mesquitas diminuiu nesta segunda mais cedo, a polícia israelense começou a permitir a entrada de palestinos com mais de 40 anos. O impedimento da passagem era visto como provocação e também serviu de combustível para os conflitos.

Disputa antiga

Outro fator que contribuiu para o aumento das tensões foi a decisão em primeira instância que prevê o despejo de famílias palestinas de uma área disputada em Jerusalém. Neste domingo (9), a Suprema Corte de Israel adiou uma audiência sobre o tema, como forma de ganhar tempo e acalmar os ânimos.

A disputa central envolve a retirada de quatro famílias palestinas do bairro de Sheik Jarrah que, por decisão do tribunal regional de Jerusalém, devem devolver os terrenos a famílias judias -o local abriga um espaço sagrado para os judeus: a tumba de Simeão, o Justo, sumo sacerdote por volta do ano 300 a.C.

Pela lei de Israel, se judeus provarem que suas famílias viviam em Jerusalém Oriental antes de 1948, eles podem pedir a restituição de seus direitos de propriedade.

A regra é contestada pelos palestinos, mas o governo de Israel argumenta que eles estão “tratando uma disputa imobiliária entre partes privadas como uma causa nacionalista, para incitar violência”.

Ainda que o tribunal de primeira instância tenha decidido a favor dos colonos judeus, em um movimento legal de última hora os apelantes pediram à corte para buscar a opinião do procurador-geral Avichai Mandelblit, o que abriu caminho para o adiamento da audiência que estava prevista para esta segunda.

Conflito milenar

Jerusalém está no centro do conflito israelense-palestino. Israel reivindica a cidade inteira, incluindo seu setor oriental capturado na guerra de 1967, como sua capital. Os palestinos, por sua vez, buscam fazer de Jerusalém Oriental a capital de um futuro Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza.

No mês passado, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório em que acusa Israel de cometer crimes de apartheid e perseguição contra árabes e palestinos, o que, no direito internacional, equivale a crimes contra a humanidade.

No documento com mais de 200 páginas, intitulado “Um Limite Ultrapassado: Autoridades Israelenses e os Crimes de Apartheid e Perseguição”, a HRW aponta restrições impostas por Israel à movimentação dos palestinos e a apreensão de terras para a construção de assentamentos judaicos em territórios ocupados desde a guerra de 1967 como exemplos dos crimes cometidos.