MANAUS , AM – Indígenas, sejam de comunidades isoladas ou até mesmo nas aldeias urbanas, vem sofrendo com a chegada da Covid-19, pensando na situação dele foi que o Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI), junto com o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas (PPGAS/Ufam), liderados pelo coordenador do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI), professor do departamento de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e pesquisador da Rede Saberes e Educação do Instituto Brasil Plural, Gilton Mendes dos Santos, decidiram dar espaço para que os alunos do próprio Núcleo relatassem como eles lidam e veem a pandemia.
O professor Gilton contou que desde que foi decretado, pelo estado, a quarentena, a NEAI começou a pensar em como manifestar a situação e a visão dos estudantes indígenas sobre o assunto.
“Desde que foi decretada a quarentena, começamos a pensar em como nos manifestar enquanto coletivo, sobretudo a partir dos estudantes indígenas do NEAI. Assim, partimos de duas importantes referências. A primeira, de reconhecer que fenômenos como este são historicamente conhecidos pelos povos indígenas. Desde a colonização, os ameríndios sofreram incontáveis surtos epidêmicos, ataques de vírus, bactérias e outros agentes patológicos que provocaram uma significativa de população no continente, levando muitos grupos à extinção, portanto, ao genocídio. Isso não é novidade, está registrado na história, e não devemos esquecer disso, nunca. A segunda referência é que, considerado a anterior, os povos indígenas desenvolveram estratégias, comportamentos e atitudes diante desses fenômenos de baixa, e que podem ser revisitados, reconhecidos e explicitados”, relatou.
Relatos
Clarinda Maria – índia da etnia Sateré
Clarinda Maria Ramos, 53 anos, indígena da etnia Sateré, graduada em pedagogia pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e metre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), contou para o Portal Amazonas 1 que sente que este é um momento difícil para todos.
A mestre contou que teve covid-19 em abril de 2020, juntamente com seu esposo e filha, e realizaram tratamento em casa, entretanto Clarinda relatou que além dos medicamentos, eles usaram muito o uso de chás naturais para se sentirem melhor. Ela afirmou que os parentes que moram nas aldeias passam por uma dificuldade maior, mas que muitos os que residem na capital decidiram voltar para as aldeias.
“Muitos dos nossos parentes decidiram ir para as comunidades, para tentar se afastar, se proteger dessa pandemia”, contou.
Clarinda Maria relatou o caso de sua tia, também indígena, decidiu voltar para o interior assim que viu a situação do mundo com a covid-19.
“Quando começou a aparecer no jornal nacional o gráfico, aquele desenho, do vírus ‘cheio de perninhas’, ela falou que ia embora para o interior porque ela tinha visto o vírus na televisão que era muito grande, era do tamanho de uma raia, então ela preferiu ir da cidade para o interior para se proteger. Isso é um mecanismo que nós indígenas usamos também como forma de se proteger, não só de doenças, mas também de violências, de outras coisas, mas nesse caso foi devido a pandemia”, contou a indígena.
Ela ressaltou que há muitas etnias que habitam em Manaus, mas explicou que é muito difícil esses povos terem um apoio, porque sempre há muita burocracia. E pede que as instituições responsáveis pela saúde local, possa agir de forma mais rápida, fazendo com que os atendimentos cheguem nas aldeias, pois a situação dos que moram longe está cada vez mais complicada.
“Mesmo eles morando nas aldeias, eles são humanos, eles tem sentimentos, eles tem vida, eles precisam de tratamento, eles precisam de atendimento, eles precisam de atenção”, finalizou Clarinda.
Jaime Diakara – Povo Desana
O indígena e antropólogo Jaime Diakara, 46 anos, do povo Desana, relatou para o Portal AM1 que contraiu o vírus no ano passado após retornar de uma viagem ao Rio Janeiro e ao retornar descobriu que estava com Covid-19. Diakara contou que decidiu tratar-se em casa com chás e medicamentos caseiros.
“Resolvemos fazer o tratamento com as próprias plantas medicinais, fazendo chá, eu mesmo fazendo meus benzimentos até melhorar, mas foi 15 dias direto com esse sintoma. Mas até hoje, essa questão de sequela, a gente sente aqui em casa”, contou Diakara.
Para o antropólogo, os indígenas que residem na capital não tem atenção adequada. Para o profissional, o foco maior do governo está para aqueles indígenas que moram nas aldeias. Ele se queixa da falta de apoio, ressaltando que o foco no caso vacinação contra a covid-19, são os que residem nas aldeias, mas os que moram na capital estão sendo esquecidos.
A reportagem procurou as autoridades responsáveis para esclarecer a situação da imunização dos indígenas, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) esclareceu em nota:
“A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) esclarece que a definição de grupo prioritário é do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde que repassa aos Estados e até o momento, não há nenhum informe técnico referente à inclusão dos indígenas não aldeados como grupo prioritário para Campanha Nacional de Vacinação contra Covid-19 em 2021. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) esclarece que a execução das ações de imunização da população indígena é de responsabilidade da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), por meios dos seus Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei’s) e ressalta que as informações sobre a aplicação das vacinas em índios aldeados em Manaus estão disponíveis no vacinômetro da FVS-AM no endereço: https://bit.ly/3aPIvyb.”.
A SEMSA (Secretaria Municipal de Saúde) informou:
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