Manaus, 30 de abril de 2024
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Manaus, 30 de abril de 2024

Esportes

Karateca faz rifa para disputar campeonato brasileiro em Uberlândia

Multimedalhista aos 8 anos de idade, a amazonense Kayane Lucena precisa de ajuda para conseguir pagar as despesas da viagem

Karateca faz rifa para disputar campeonato brasileiro em Uberlândia

Kayane, aos 8 anos, é multimedalhista (Bruno Pacheco/Amazonas1)

Com apenas 8 anos de idade, Kayane Lucena já foi campeã brasileira de Karatê, venceu cinco títulos nacionais e mais de 15 disputas regionais, no entanto, a atleta amazonense sub-10 tem enfrentado dificuldades para disputar o campeonato nacional que acontece em Uberlândia, Minas Gerais, no mês de outubro.

Orgulho para os pais, a dona de casa Richerle Vieira Neves e o motoboy Kario Lucena, a filha talentosa começou a treinar com apenas 5 anos de idade e disse não sentir mais tanto nervosismo. O maior sonho dela, que hoje é faixa verde, é competir uma das edições do Campeonato Mundial de Karatê, a principal competição do esporte no mundo, promovido pela Federação Mundial de Karatê (WKF) a cada 2 anos.

Richerle, Kario e Kayane (Thaise Rocha/Amazonas1)

Mas, assim como inúmeros atletas regionais, mesmo com os títulos, Kayane encontra problemas para participar de competições fora do Estado, pois não consegue patrocínio. No entanto, a família está angariando recursos, por meio de rifas, para bancar as despesas da viagem para a cidade mineira.

 “Sobre a respeito de patrocínio, é o ‘pai-trocínio’, porque é muito difícil a gente conseguir patrocínio. Os empresários que têm dificuldade para apoiar a gente, mas nós já vamos fazer quatro anos no esporte e graças a Deus estamos conseguindo competir”, comenta Kario. 

No último domingo, 1º, Kayane foi uma das 121 crianças e adolescentes que participaram da 3ª Edição de 2019 do Circuito Amazonense de Karatê, garantindo mais duas medalhas. A mãe, que está grávida de sete meses, destaca que a família tem recebido apoio de amigos, que dão auxílio com o que podem. Para a viagem à Uberlândia, eles precisam de R$ 2 mil.

https://www.instagram.com/p/B14PLfQh4sJ/

“O valor será usado para o hotel, passagem, ajuda de custo, que é um apoio básico. O karatê no Amazonas não é muito valorizado, normalmente, ninguém olha para os atletas e isso é muito complicado. No caso da Kayane, porque ela tem 8 anos, as pessoas não dão muito valor para ela, mas não sabem do potencial que ela tem”, diz a mãe.

Richerle destaca que a filha é uma guerreira, pois quando ela vai para as competições nacionais, compete com até 14 meninas e mesmo assim, Kayane sai feliz só de estar participando dos eventos. “Para ela, é muito gratificante só de ficar com um terceiro lugar, pois compete com até 14 garotas. E para nós, pais, também é muito bom, mas é muito ‘ralado’”, comenta a mãe, destacando que em todas as competições disputadas, a filha foi medalhista.

A mãe conta, ainda, que é o pai quem viaja com a menina, além da federação e os sênseis. Devido as despesas serem muito altas, ela não viaja com a filha. Para Uberlândia, no entanto, Kayane terá o apoio da tia, que sempre ajuda a menina.

Orgulho

Kayane treina de segunda a sexta-feira, sempre nos horários da noite na academia que fica próximo a casa dela. De terça a quinta-feira, os treinos duram uma hora, mas na segunda, quarta e sexta-feira, os treinos são de duas horas. Ver o esforço da filha, é um sinônimo de orgulho para os pais.

(Thaise Rocha/Amazonas1)

“É um orgulho muito grande de ter uma filha competindo fora do Estado, apesar de o Karatê não ser tão visado, a gente corre muito atrás só para ver o esforço dela”, relata a mãe. Para o pai, também é uma alegria e uma satisfação ver a alegria da filha. Atualmente, Kayane é a primeira no ranking Estadual e a terceira no ranking Nacional de Karatê.

Para quem quiser ajudar a atleta, basta entrar em contato com a família através do número (92) 99156-0021 e adquirir a rifa no valor de R$ 10.

https://www.instagram.com/p/B1on6JwBvJ1/

Dificuldades para conseguir patrocínio

Mesmo com amazonenses conquistando inúmeras medalhas em campeonatos regionais e nacionais, e até mesmo em competições internacionais, como foi o caso do jovem Carlos Faria, que foi medalhista de ouro (modalidade Kumitê) e prata (modalidade Katá) no Pan-Americano 2019, no último dia 29 de agosto, os atletas do Amazonas encontram dificuldades para participar de torneios pelo país, pois não conseguem patrocínios e muitos deles não têm recursos próprios suficientes para bancar as viagens.

De acordo com Sidney Fernandes, presidente da Associação Nintai Kan de Karatê Shotokan e Desportos, de cada 100 atletas que se classificam para as competições fora do Estado, apenas 20% conseguem participar. Um número preocupante para o faixa preta no esporte e para a Associação Amazonense de Karatê (FAK).

“Daqui do Amazonas temos mais de 100 atletas classificados para a final do brasileiro. Para conseguir o acesso, você participa de cinco etapas e em uma delas você tem que se classificar e aguardar a final que vai ser em outubro. Mas aí vem aquela situação: conseguimos classificar, mas normalmente, nem a metade vai, porque não consegue estadia, alimentação, passagem”, destacou Sidney, enfatizando que todos os atletas precisam do apoio.

“São poucos os atletas que conseguem ajuda, um patrocínio. Eu posso chutar uma porcentagem de no máximo 20% de todos esses que se classificaram. Os demais, estão contando com passagens da Secretaria de Esporte e Lazer (Sejel), de patrocinadores, contando em conseguir um meio para arrecadar fundos para comprar as passagens”, disse.

Sidney Fernandes e Washigton Melo (Bruno Pacheco/Amazonas1)

O presidente da Federação Amazonense de Karatê, Washigton Melo, chama atenção do poder público e das empresas privadas, no que compete aos incentivos e valorização dos atletas profissionais do esporte no Amazonas, que são pouco vistos e tampouco recebem patrocínios.

“O esporte amazonense, independente dele ter se tornado olímpico ou não, porque eu achei que quando o Karatê se tornasse olímpico, as coisas iriam melhorar, mas não mudou em nada. Nós continuamos de ‘piris’ na mão, continuamos pedindo, em outras palavras: mendigando”, desabafa Washigton Melo.

Ouro e prata nos jogos Pan-Americano 2019

No último dia 29 de agosto, o atleta Carlos Faria, de 13 anos, estreante na Seleção Brasileira, representando o Amazonas e o país no Pan-Americano, sagrou-se na categoria sub-14, abaixo de 45kg, na modalidade Kumitê – demonstração de movimentos de luta – e ainda foi medalhista de prata na modalidade Katá – lutas eliminatórias.

O jovem viajou até a cidade de Guayaquil, no Equador, para competir os jogos junto com a irmã, Natália Faria, que também foi destaque no Pan-Americano, conquistando o quarto lugar na categoria Katá, feminino cadete. Mesmo aos 15 anos, a jovem disputou na categoria sub-21, representando a Seleção Brasileira pela terceira vez na modalidade.

Sinônimos de orgulho e inspiração para futuras gerações

Atletas como os irmãos Faria e tantos outros karatecas são sinônimos de orgulho e inspiração para as futuras gerações. Como é o caso das irmãs Flávia Betrine e Maria Vitória Cavalcante da Silva, de 6 e 7 anos, ambas faixa verde, que competem há dois anos.

Maria Vitória e Flávia Betrine Cavalcante da Silva, 7 e 6 anos (Bruno Pacheco/Amazonas1)

Os pais militares da Força Aérea Brasileira no Amazonas, Fábio Cunha da Silva, 43, e Francielza Cavalcante, 39, são os maiores incentivadores. A filha mais velha, Rebeca, de 13 anos, também está classificada para o Campeonato Nacional, em Uberlândia.

Confira o vídeo: