Manaus, 10 de maio de 2024
×
Manaus, 10 de maio de 2024

Cidades

Como Manaus registrou terceira pior qualidade do ar do mundo

O problema segue sem controle neste mês de novembro, quando a cidade voltou a ser tomada por fumaça.

Como Manaus registrou terceira pior qualidade do ar do mundo

(Foto: Del Lima/ arquivo AM1)

(*) Por Bianca Feifel – Agência Pública

“As portas estavam fechadas, mas a fumaça tinha entrado e parecia que tinha um monte de ‘neblina’ dentro da minha casa. Quase não conseguia enxergar”, descreveu a recepcionista Carla Bindá, 21 anos, moradora do bairro Novo Aleixo, sobre como teve que lidar com o volume de fumaça de queimadas que tomou Manaus (AM) no dia 12 de outubro, quando a cidade virou destaque internacional e atingiu o terceiro pior nível de ar no mundo. O nível atingido é considerado “perigoso à saúde”, segundo a IQAir, base de dados colaborativa que registra as condições do ar. O problema segue sem controle neste mês de novembro, quando a cidade voltou a ser tomada por fumaça.

Neste ano, que teve o outubro com mais queimadas em 15 anos, a população teve que lidar com o ar poluído em mais da metade dos dias. Dos 31 dias corridos, 16 foram considerados com algum nível de risco à saúde, sendo oito deles classificados como “insalubres” ou “muito insalubres” – e apenas um dos dias teve qualidade do ar considerada “boa” pela IQAir. A iniciativa classifica a situação a partir dos critérios adotados pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, relacionando a concentração de poluentes no ar com possíveis agravos à saúde.

“Tive crises de asma e fiz uso de bombinha e fisioterapia pulmonar para conseguir respirar. Só conseguia andar na rua com um pano de algodão molhado no rosto. É muito ruim você querer respirar e não conseguir”, completou Carla a respeito dos momentos de “sufocamento”, descrição que encontrou eco nas redes sociais de moradores da região.

Pesquisadores ouvidos pela Agência Pública explicam que, apesar da diminuição do desmatamento durante 2023, a conjunção de aquecimento global e El Niño, que levou a uma estiagem extrema na região amazônica, contribuiu para um aumento alarmante dos focos de incêndio.

De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Física Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP) Luciana Rizzo, a intensa nuvem de fumaça que sufocou a cidade foi resultado de dois fatores principais: a seca severa na Amazônia e as queimadas na região metropolitana de Manaus, especialmente nos municípios de Careiro e Autazes, nas proximidades da BR-319.

“A região tem passado por uma seca muito severa decorrente do El Niño de grande intensidade. A gente tem visto os rios supersecos batendo recorde [de níveis baixos], a precipitação está muito abaixo da média. Quando você tem esse tempo muito seco, qualquer fagulha de fogo, ainda que tenha começado legalmente, numa região onde seria permitido usar fogo para manejo de agricultura, é muito fácil descontrolar”, explica.

A maior parte do fogo se dá, porém, como a etapa final do processo de desmatamento. Em 2021 e 2022, a derrubada da floresta cresceu no Amazonas, fazendo o estado chegar à segunda posição como o mais desmatado na Amazônia. A mudança de cenário motivou um posicionamento do presidente Lula, nesta quarta-feira (1º).

“O governo federal reduziu o desmatamento em 49,5% em 2023, no comparativo com o mesmo período do ano passado, mudando a tendência depois de anos de descaso com o meio ambiente na gestão anterior. Durante as queimadas que deixaram o Norte sob a fumaça, os brigadistas do Ibama e do ICMBio têm reforçado o combate aos incêndios feitos pelos estados, reduzindo os focos em 78% na terceira semana de trabalho”, escreveu Lula em uma rede social. Os relatos de moradores de Manaus e os dados já disponíveis, no entanto, mostram que ainda não há muito o que comemorar.

(*) Com informações da Agência Pública

LEIA MAIS: