Manaus, 25 de abril de 2024
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Cidades

Primeiro dia de operação Monte Horebe é marcado por reivindicações

Barreiras de segurança foram montadas a quilômetros da invasão e muitos moradores tiveram a entrada limitada

Primeiro dia de operação Monte Horebe é marcado por reivindicações

Primeiro dia de operação Monte Horebe é marcado por reivindicações (Foto: Josemar Antunes/Amazonas1)

Os moradores da invasão Monte Horebe, localizada na zona Norte de Manaus,  acordaram na manhã desta segunda-feira, 2, com o local tomado pelas forças de segurança do estado. A reintegração de posse anunciada na última sexta-feira, 28, causou diversos transtornos logo pela manhã.

“Por causa de tudo que tem de ruim lá dentro a gente está sofrendo”, protestou a moradora Rose Raquel de 51 anos. Rose foi uma das pessoas impedidas de entrar no Monte Horebe durante a operação, porque para manter a segurança, duas barreiras foram feitas pela polícia quilômetros antes da invasão. Ninguém podia voltar se saísse do local, e até mesmo a entrada de moradores do Residencial Viver Melhor, nas proximidades da invasão, foi limitada.

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Assim como Rose, outras pessoas tentavam entrar na invasão após terem saído na tentativa de salvar alguns pertences. Entre elas, está uma moradora que por medo de represálias, não quis se identificar. Maria (pseudônimo) revelou à equipe do Amazonas1 que mora há 8 meses na invasão, vinda de um município do interior, ela comprou um barraco no Monte Horebe por R$ 3 mil.

Por questões de segurança a entrada dos moradores foi limitada (Foto: Márcio Silva/Amazonas1)

Além disso, Maria revela que para ter água e luz em casa, pagava uma taxa de R$ 30,00 mensalmente para a facção que comandava o local. “Eles passavam todo mês de porta em porta cobrando, quem não pagava eles ameaçavam e mandavam matar”, disse. Com recibo de compra da casa nas mãos, ela denuncia ainda que os terrenos eram vendidos mais de uma vez. “Agora apareceu uma mulher dizendo que é dona do terreno. A facção vende o terreno que já tem dono, depois, a gente tem que sair do local e eles ficam com o nosso dinheiro, mas eu vou atrás dos meus direitos”, disse Maria.

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Na invasão que tem sido palco de frequentes ações do crime organizado com a realização de execuções sumárias coordenadas por um “Tribunal do Crime”, foi encontrado um cemitério clandestino com vários corpos enterrados. O local seria o novo abrigo de traficantes que foram retirados da Cidade das Luzes e estima-se que existam 6 mil casas, sendo que parte delas invadiu a reserva florestal Adolphe Ducke.

“É ordem, é lei, a gente tem que respeitar, mas tem que ver a situação de todo mundo”, disse Rose. Segundo o secretário de segurança pública Cel PM Louismar Bonates, as famílias ainda não serão retiradas, apenas as casas vazias serão derrubadas. Bonates disse que as famílias só seriam retiradas  após o cadastramento junto aos órgãos de serviço social, para que todas recebessem moradia. No entanto, muitas pessoas revoltadas reclamavam que já tinham tido suas casa demolidas.

Primeiras casas a serem demolidas (Foto: Josemar Antunes/Amazonas1)

“Será que nós não temos dignidade de ter uma casa para gente morar? Eu esfolei a mão de tanto tá roçando aí, para construir minha casa. Eu saí pra fazer o cadastro, e ficaram derrubando a minha casa. Ainda consegui salvar umas coisas porque levei para casa da minha filha”, disse abalada a moradora Iraíde Cordeiro.

Na tentativa de reverter a situação, os moradores fizeram uma cota para tentar pagar um advogado. Em uma reunião realizada no último domingo, 1, cada um pagou R$ 20, 00 para a contratação. Segundo informações dos moradores, a reunião foi realizada por um pastor, que se diz “representante da população” e seria um dos que foram presos na manhã desta segunda, acusado de incitar a revolta contra a operação.

Policiais durante reintegração na Comunidade Monte Horebe (Fotos: Josemar Antunes/Amazonas1)

Policiais durante reintegração na Comunidade Monte Horebe (Fotos: Josemar Antunes/Amazonas1)

O advogado Jônatas Almeida Ribeiro, se apresentou como representante dos moradores, segundo ele, a operação não estaria cumprindo com o acordo de não demolir as casas ocupadas e fazer o cadastramento da população.

No entanto, os policias que faziam a segurança pela manhã, informaram que havia sim uma estrutura para os cadastros dentro da invasão, mas não souberam informar detalhes. Ainda na manhã desta sexta, o governador Wilson Lima garantiu que nenhuma família ficaria desamparada e todas receberiam auxílio aluguel.

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“Então nós vamos desocupar aquela área para dar dignidade a essas pessoas e na sequência nós vamos dar uma destinação para aquela área. Ali vai ser montado pelo Governo do Estado um complexo de segurança pública, para dar tranquilidade para quem mora ali no Viver Melhor e começar a resolver definitivamente as ocupações irregulares que acontecem na zona Norte da capital”, assegurou Wilson Lima.

 

O repórter do Amazonas1, Josemar Antunes, acompanhou a reintegração desde as primeiras horas da manhã, confira: