Manaus, 11 de maio de 2024
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Cultura

Mauricio de Sousa confirma candidatura à Academia Brasileira de Letras

Mauricio de Sousa enviou ao presidente da Academia, Merval Pereira, uma carta demonstrando seu interesse em se candidatar à vaga

Mauricio de Sousa confirma candidatura à Academia Brasileira de Letras

(Foto: Claudio Belli/ Divulgação MSP)

Rio de Janeiro (RJ) – O quadrinista Mauricio de Sousa, de 87 anos, se candidatou para a vaga da cadeira 8 da Academia Brasileira de Letras (ABL), que antes era ocupada pela acadêmica Cleonice Berardinelli, que morreu aos 106 anos, em janeiro. Maurício enviou ao presidente da Academia, Merval Pereira, uma carta demonstrando seu interesse em se candidatar à vaga.

Mauricio de Sousa visitou a sede da instituição no Rio de Janeiro e decidiu fazer o pedido após se encantar com os acadêmicos do local. “Esta candidatura é para reunir esforços com todos os acadêmicos em levar a importância desta entidade secular para que crianças e jovens conheçam mais a nossa literatura e grandes autores que por lá estão e já estiveram”, disse o quadrinista.

“Quando jovem, depois que me alfabetizei com os gibis, eu lia um livro por dia e os grandes escritores brasileiros foram minha companhia e me ajudaram a ser o que sou hoje. Quero devolver esse carinho com muito trabalho em prol dos autores brasileiros e também dos quadrinhos”, completou

Neste ano, a criação da sua personagem mais famosa, a Mônica, inspirada em sua filha, completa 60 anos. Também deve ser lançado uma cinebiografia do autor, com o filho Mauro Sousa interpretando o pai na juventude e uma Live-Action do personagem Chico Bento, dando continuidade a obra de filmes da Turma da Mônica.

Confira a carta de Mauricio de Sousa na íntegra:

“Eu tinha entre quatro e cinco anos de idade quando vi uma revista em quadrinhos caída na calçada. Aquelas ilustrações me alegraram de tal forma que pedi aos meus pais que lessem pra mim. Eles começaram a me trazer mais revistinhas em quadrinhos. E toca ler pra mim. Até que minha mãe, muito ocupada com outros afazeres, resolveu me alfabetizar.

Em três meses eu já sabia ler e aí foi uma revolução em minha vidinha de criança. Só sei dizer que depois dos gibis fui para os livros de Lobato e na juventude já era rato de biblioteca. Lia um livro por dia. Eça de Queiroz, Machado de Assis, Raquel de Queiroz, Guimarães Rosa… Hoje, aos 87 anos, e sendo autor de criação de uma turminha viva vejo o mesmo acontecer em milhões de crianças pelo Brasil sendo estimuladas à leitura pelos quadrinhos e a se alfabetizarem até antes da escola. Em meus encontros nas bienais do Livro e pelas escolas do Brasil peço que quem aprendeu a ler com a Turma da Mônica levante a mão. Todos se levantam. Claro que alguns para me agradar, mas todos se sentem infectados pelo bichinho da leitura.

Penso que nossa função, como autores, é criar novos leitores.

A ABL é o centro de valorização, não apenas do autor brasileiro, mas do leitor. Sem leitor não há a mágica da literatura. E para se conquistar o leitor, a melhor época é a infância. E este o será para sempre. A Turma da Mônica hoje está em todas as plataformas de comunicação, para não deixar escapar a conexão que o futuro cobrará de todos. Posso dar esta contribuição para que o trabalho da ABL pelo estímulo à leitura por meio de seus imortais seja mais e mais reconhecido, aproximando os leitores dos nossos clássicos também por meio dos quadrinhos.

Nossos personagens, por esta razão, são emprestados às campanhas importantíssimas no Brasil e no mundo. Projeto com a ONU mulheres e o UNICEF. Em parceria com a UNESCO, ressaltando o direito humano à alfabetização. No projeto Donas da Rua, foram homenageadas diversas escritoras brasileiras, como Clarice Lispector, Maria Firmina dos Reis e Lygia Fagundes Telles.

Personagens criados para melhor informar o que é a empatia e a inclusão, como Luca (um garoto que usa cadeira de rodas) e Dorinha (menina cega inspirada em Dorina Nowill), aproveitando a turminha como fonte de credibilidade para gerar a solidariedade e disseminar ensinamentos sobre os muitos amiguinhos com alguma deficiência. Crianças e jovens precisam não apenas serem informados como formados pela magia da literatura e seus incríveis personagens.

Venho então não pedir apenas participar da eleição para A CADEIRA No. 8 DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, QUE FOI DE CLEONICE BERARDINELLI, mas devolver aos grandes escritores brasileiros que me formaram um pouco do que devo a eles pelo que sou. E os quadrinhos são literatura pura dos tempos modernos onde o desenho se incorporou para conquistar mais e mais leitores.

São milhões deles. Darei minha contribuição se assim os imortais também entenderem. Imortais que em algum número estiveram comigo no chá das cinco do dia 9 de março de 2023. Para breves conversas até mesmo sobre a natureza do meu trabalho. Eu senti o melhor dos climas desde os primeiros passos e palavras ouvidas dentro da maravilhosa sede da ABL.

Atenciosamente,

Mauricio de Sousa”

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