Manaus, 18 de abril de 2024
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Brasil

Militar vira réu acusado de estuprar presa política na ditadura militar

É a primeira vez que é aberto um processo criminal de estupro contra militares por crimes cometidos durante o período militar.

Militar vira réu acusado de estuprar presa política na ditadura militar

Antônio Waneir Pinheiro Lima, o carcereiro da Casa da Morte de Petrópolis, na região serrana do Rio (Reprodução)

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) aceitou nesta quarta, 14, a denúncia contra o sargento reformado Antônio Waneir Pinheiro de Lima, acusado de sequestrar e estuprar uma presa política durante a ditadura militar.

A acusação foi feita por Inês Etienne Romeu. Na década de 1970, ela foi presa e levada para a Casa da Morte, como ficou conhecido o imóvel em Petrópolis, no Rio, que funcionou como centro clandestino de tortura na ditadura militar.

É a primeira vez que é aberto um processo criminal de estupro contra militares por crimes cometidos durante o período militar. 

Etienne foi a única sobrevivente dos que passaram pela Casa da Morte. Em seus relatos, ela acusou o sargento reformado dos crimes. Ele sempre negou, afirmando que era caseiro do local e que apenas teve contato com Etienne.

Ela morreu em 2015. Dois anos depois, a 1ª Vara Criminal de Petrópolis arquivou a denúncia. O juiz considerou que não havia elementos probatórios contra o militar, afirmou que o crime estava prescrito e invocou a Lei da Anistia.

Por 2 votos a 1, os desembargadores da 1ª Turma Especializada do tribunal reverteram a decisão e transformaram o sargento reformado em réu.

De acordo com os magistrados, o Brasil já foi condenado duas vezes na Corte Interamericana de Direitos Humanos por não investigar os crimes da ditadura.

Como o país é signatário de acordos internacionais que exigem que os acusados sejam investigados e não fiquem impunes, eles decidiram que a denúncia deveria ser aceita.

O militar pode recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedindo o trancamento da ação.

 

 

Por Mônica Bergamo, da Folhapress*