“É um sentimento inexplicável de gratidão e alegria”. É assim que os 39 novos Condutores Ambientais da Comunidade Céu e Mar, no ramal da Morena, em Balbina, município de Presidente Figueiredo, se sentem após concluírem o curso inédito que mudou a visão deles em relação ao local em que vivem e a
forma de gerar renda para suas famílias.
Na noite do dia 10 de agosto, os formandos realizaram um sonho que para muitos jamais poderia ser concretizado. Os alunos do curso de Condutor Ambiental Local, ofertado pelo Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam) de Presidente Figueiredo, colaram grau de forma simbólica, com o
objetivo de incentivar o interesse dos alunos, dos jovens e de toda a comunidade, em buscar qualificação profissional e obter melhorias para as suas vidas.
A moradora e nova condutora ambiental, Patrícia Emília dos Santos contou ao Portal AM1 sobre como se sentia após participar da festa de colação dos formandos. “Apesar de ter sido uma colação simbólica, me senti muito feliz em participar com os meus amigos deste evento que marcou um novo momento na
vida de cada um de nós. Um momento de crescimento, aprendizado, de entender o que nós podemos fazer para mudar a nossa comunidade, mudar as nossas vidas, mudar o âmbito em que vivemos e, por isso, foi muito importante para nós concluir este curso”, disse Patrícia.
Patrícia é também cerimonialista, ajudou a organizar o momento e foi, inclusive, a anfitriã da festa, cedendo a sua casa para a realização do evento. Ela contou à reportagem que ofereceu a ajuda para que a noite se tornasse inesquecível para todos.
Aldenize Oliveira, técnica de enfermagem e agora, condutora ambiental, contou que antes do curso tinha uma visão viciada e limitada do local onde mora. Para ela, a comunidade não tinha como crescer, não poderia gerar economia e não via o rio Uatumã como sinônimo de lazer, por exemplo.
“Há uma diferença entre aprender a viver e a sobreviver. Isso para mim foi de grande crescimento como pessoa, muitas coisas que já possuo eu não dava o devido valor, e hoje, tenho uma nova visão focada no crescimento pessoal e financeiro. O meu sítio, por exemplo, as pessoas procuram porque aqui tem um tablado e ele serve para a pesca, e agora, eu valorizo isso. Hoje eu não abro espaço para todos entrarem, porque se quiser visitar é preciso pagar um valor para deixar tudo em ordem e limpo e eu ter um retorno financeiro”, afirmou Aldenize.
De acordo com Priscila Roberta, gerente do Cetam em Presidente Figueiredo, o curso foi um marco, uma vez que foi a primeira vez que uma instrutora do órgão ministrou aula dentro de uma comunidade.
“A colação de grau foi muito gratificante, porque nunca tinha sido feito um curso dentro da comunidade e com muito esforço, e muita luta, conseguimos levar este curso para esses moradores. O Cetam local com o apoio do Governo, que tem ajudado muito os municípios é o responsável por isso. Essa turma é muito empenhada, essas pessoas tiveram a oportunidade de obter conhecimentos que servirão para as suas vidas e com certeza, esses conhecimentos já estão trazendo mudanças para a comunidade. Para nós professores é muito gratificante ver tudo isso”, enfatizou Priscila.
O curso teve carga horária de 160 horas, quatro horas diárias de aula. Os alunos aprenderam sobre Legislação Ambiental, Técnica de Vendas, Geografia Local, Política, Formas de Comunicação, entre outros assuntos. Ele é especificamente voltado para pessoas que residem em áreas de preservação ambiental, com o objetivo de fazer com que os moradores que mantinham práticas de destruição do meio ambiente, como realização de queimadas de lixos (resíduos sólidos), desmatamento e poluição, passem a ter
consciência ambiental, preservando o local que é uma Área de Preservação Permanente (APP).
Feira dos Condutores
No último sábado (13), foi realizada a 1ª Feira dos Condutores Ambientais na comunidade. Na feira, os condutores colocaram em prática todo o conhecimento que adquiriram durante o período das aulas e cumpriram mais uma etapa do curso, uma vez que o evento foi considerado uma aula prática
para eles.
Os condutores se tornaram expositores e ofereceram à comunidade e a cerca de 100 visitantes que passaram pelo local, seus produtos artesanais, distribuídos em 15 barracas. O evento contou com venda de café da manhã e almoço regional, laços, tiaras infantis, óleo de cocos, polpas de frutas, açaí, além da disponibilização de momento de pescaria, visitas a espaços turísticos, como o Porto do Miranda e outros rios que a comunidade possui.
Um percentual do valor vendido na feira será direcionado para ajudar na construção de uma nova sede para a comunidade, que hoje possui apenas um pequeno local de madeira para a realização das atividades comunitárias.
A economista, condutora e expositora da Feira, Simone Araújo falou com alegria sobre a realização do evento. “Estou muito orgulhosa da nossa comunidade. Trabalhei com café regional na nossa feira e foi um sucesso, todos cooperaram, ajudaram e todos estão de parabéns por esse momento”, pontuou.
A nova condutora ambiental, Verônica Silva vendeu durante o evento, açaí e caipifruta. Ela enfatizou que espera que a oportunidade não seja a primeira e a última, mas que sejam realizadas muitas outras feiras do condutor ambiental.
O funcionário público Júlio César Gomes foi prestigiar a feira e se disse surpreso. “Vim fazer uma visita aqui e achei um espetáculo, muitas barracas e tudo muito organizado. É o primeiro evento e para mim, a comunidade, o Cetam e todos os envolvidos estão de parabéns”, disse.
A professora Francisca Cunha também passou pelo local e considerou o evento um sucesso. “Os condutores foram muito bem conduzidos e colocaram em prática tudo que aprenderam. Gostei de tudo que estava exposto na feira, a nossa comunidade está fazendo sucesso, a visão dos condutores é outra e
tudo isso, graças ao curso, isso já está fazendo a diferença”, frisou a visitante.
Valorização
A instrutora do curso, a engenheira ambiental, Michele da Rocha disse ao Portal AM1 que tem certeza que deixou uma semente que vai frutificar dentro da comunidade Céu e Mar. Michele destacou que a maior conquista é ter deixado no local, pessoas que acreditam em seus potenciais e na educação
ambiental como melhoria de qualidade de vida.
“Eu me sinto muito feliz e grata, porque eu mostrava o caminho e eles caminhavam, se eles não quisessem aprender eu não iria conseguir transmitir nada para eles e tenho certeza que eles vão gerar mais e mais renda no local. Acredito muito na educação ambiental, esses moradores entenderam que não
precisam sair da comunidade para ter qualidade de vida e ao mesmo tempo aprenderam que não podem aceitar uma pessoa de fora chegar e dizer quanto quer pagar pelo produto que eles têm e nem podem levar tudo de graça”, explicou Michele, que também é Engenheira de Segurança do Trabalho, Engenheira Eletricista e pós-graduada em Docência do Ensino Superior.
A engenheira frisou também que entre os alunos, havia pessoas idosas, aposentadas que, em tese, não precisavam mais estar fazendo um curso como o ofertado no local, mas que estavam lá para dar exemplo para os mais jovens.
“A gente vê jovens, que antes estavam à mercê do tráfico de drogas, sonhando com uma oportunidade de emprego, em estudar, se qualificar, falando sobre o futuro, sendo um verdadeiro condutor ambiental local, fazendo passeios de barco com turistas, conduzindo os visitantes. A educação muda a vida das
pessoas e é muito gratificante ver elas prosperando e acreditando em si. Pode ter certeza, que eles vão mudar o rumo daquela comunidade”, finalizou.
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