Manaus, 2 de maio de 2024
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Cidades

Orgulho LGBTQIA+: famílias relatam suas dificuldades

A data, que é celebrada mundialmente, objetiva mostrar a perseguição, discriminação e as violências que ocorrem diariamente

Orgulho LGBTQIA+: famílias relatam suas dificuldades

Foto: Arquivo Pessoal

Dia 28 de junho é comemorado o Dia do Orgulho LGTBI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e pessoas Intersex). A data, que é celebrada mundialmente, tem como um dos objetivos mostrar a perseguição, discriminação e as violências que ocorrem diariamente por conta da orientação sexual ou identidade de gênero.

A equipe do Portal do AM1 conversou com duas famílias para falar sobre as dificuldades e superações dos transexuais.

Descobrir a transexualidade não foi fácil para o designer Bernardo Souza, 26, o preconceito da sociedade e a própria estrutura de gênero criada pela sociedade fez com que o jovem tivesse vários conflitos internos.

“Nem sempre é um processo fácil. Anos antes, ao descobrir que existia a possibilidade de ser trans, aquilo já me chamou a atenção e me fez pesquisar muito sobre o tema, porém, o preconceito da sociedade e a própria estrutura de gênero criada pela sociedade me fizeram pensar que aquilo não era pra mim. Depois de bastante conflito interno, consegui me entender como “trans” com meus 24 anos”, comentou.

A assistente social, Joyce Alves Gomes, descobriu aos 12 anos a sua transexualidade. Para ela, foi algo natural e a transição ocorreu aos poucos.

“Não houve um momento que descobri minha identidade, começou a se desenvolver desde cedo, a partir de 12 anos iniciou minha transição, com o uso de hormônios, as primeiras vestes. Em minha transição, não houve um momento em que eu disse: ‘Ah, eu sou trans’. Foi uma coisa que foi acontecendo naturalmente, aos poucos”, comentou Joyce.

Apoio familiar

O apoio dos membros da família é muito importante durante a transição. A mãe do Bernardo, Solange Souza, 53 anos, sempre o apoiou. “Minha mãe sempre esteve ao meu lado, me apoiando, se dispondo a pesquisar bastante sobre o tema. Ela hoje faz parte do grupo Mães pela Diversidade, que dá apoio às mães de pessoas LGBTs. Alguns outros parentes mais distantes, que insistiam em não me chamar pelo nome correto, eu preferi me afastar totalmente”, comentou.

Mas não é sempre que a família entende e apoia quando o membro vem a se identificar como trans. “Em relação a minha família, tive muito desafios, quem deveria dar apoiou dificultou ainda mais, foi um processo que foi apenas eu por mim”, disse Joyce.

Atendimento médico

Ter um atendimento médico e psicológico é considerado um privilégio, visto que muitas pessoas trans não conseguem ter acesso ao Sistema de Saúde. Além disso, enfrentam o preconceito, discriminação e até agressões.

“Comecei a ir atrás de atendimento médico e psicológico que me auxiliasse no processo de terapia hormonal (que não, é algo que todas as pessoas trans querem ou não podem fazer por vários motivos, que podem ser financeiros, de saúde ou por não ver necessidade). Falando para pessoas trans em geral, as maiores dificuldades são em ter acesso a atendimento médico adequado e que nos respeite, fazer a retificação de nome e gênero nos documentos”, disse Bernado.

A falta de profissionalismo e o desrespeito com as pessoas trans nos serviços públicos são apenas alguns dos exemplos de que os órgãos não colocam em prática a saúde e o bem-estar de todos os cidadãos e cidadãs.

“O serviço de saúde sempre foi “capenga” para pessoas trans, temos que sair do Amazonas para conseguir atendimento. Atualmente, já contamos com um ambulatório em Manaus, mesmo com pouquíssimo apoio do Estado. Por vontade de um determinado grupo de profissionais, iniciaram os atendimentos, porém, quando saímos para ir a outros espaços, vivenciamos vários tipos de desrespeito”, disse a assistente social.

Dificuldades

As maiores dificuldades relatadas, segundo os entrevistados, foram : acesso a atendimento médico adequado, acesso à educação e falta de oportunidade no mercado de trabalho. O preconceito é considerado por todos o principal mal que dificulta os direitos básicos a todas as pessoas trans.

“Falando para pessoas trans, as maiores dificuldades são em ter acesso a atendimento médico adequado e que nos respeite, fazer a retificação de nome e gênero nos documentos e ter acesso ao mercado de trabalho”, comentou Bernardo.

“A primeira violência que passamos é a falta de informação, as pessoas nem sempre nos tratam como humanos, tem um ditado que diz: o trabalho dignifica o ser humano. Temos certeza que é exatamente isso que buscamos: dignidade. Entendemos que vivemos tempos difíceis, mas, quantas pessoas são espancadas e mortas por assumirem quem são. Na educação, houve uma maior acessibilidade, porém, ainda não há uma política efetiva de permanência no espaço escolar, porque desde que começamos a frequentar esses espaços, logo chega alguém para nos dizer que não deveríamos estar ali”, comentou Joyce.

A maioria das pessoas trans estão em uma situação financeira bem difícil. Geralmente, são expulsas de casa, não conseguem terminar a escola e tem que recorrer a outros tipos de profissões por falta de opção, como por exemplo, a prostituição.

Transfobia

O mercado de trabalho é um dos grandes exemplos da chamada ‘Transfobia’. Bernado foi vítima quando foi aprovado em uma seleção na empresa Infostore. “Eu, que mesmo sendo privilegiado e tendo conseguido me formar na faculdade, já sofri preconceito em um processo seletivo em uma grande empresa de informática de Manaus, a InfoStore. Quando falei que era trans, me disseram que não poderiam me contratar, pois, meus documentos não estavam com o meu nome ainda, e sim com o nome antigo (o que não seria motivo para não me contratar, pois, o nome social deve ser reconhecido). Um grande exemplo de transfobia, eu já estava no fim do processo de contratação, que era somente a entrega dos documentos”, relatou o designer.

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