Manaus, 3 de maio de 2024
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Manaus, 3 de maio de 2024

Cidades

Pesquisa do INPA revela ‘formiga-zumbi’ no Amazonas

Os fungos não podem atingir os seres humanos, disse o pesquisador do Instituto

Pesquisa do INPA revela ‘formiga-zumbi’ no Amazonas

O jogo de vídeo game “The last of us” tem fãs pelo mundo inteiro e foi vencedor absoluto dos principais prêmios dedicados à indústria do entretenimento dos jogos eletrônicos. Agora, sete anos depois, a previsão do lançamento do “The last of us II” para 2020 tem deixado os fãs eufóricos.

O que muitos amantes do jogo não sabem é que a história futurística de um mundo invadido por “zumbis” já é realidade, hoje. Alguns insetos na floresta amazônica, podem ser infectados com fungos, parasitas impressionantes como descreveu a pesquisa de Fernando Sarti Andriolli e colaboradores, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Ophiocordyceps camponoti-atricips é o nome do fungo capaz de parasitar as formigas carpinteiras (Camponotus atriceps) e controlar o comportamento desses insetos, levando-os a cometer uma espécie de suicídio. Funciona assim: um esporo do fungo atinge a formiga e entra no corpo dela e começa a se alimentar das entranhas da vítima. Em duas semanas, o fungo faz o inseto apresentar alterações em suas maneiras, mostrou a pesquisa de Andriolli.

A formiga infectada abandona o formigueiro, fica trêmula e em suas andanças pelas trilhas da floresta, por isso, ganhou o apelido de “formiga-zumbi”. Ela vai morrendo por dentro conforme o fungo se alimenta dos seus órgãos. Antes de finalmente falecer, a formiga carpinteira submete-se aos comandos do tirano fungo. Nisso, ela sobe em um arbusto, crava as mandíbulas em uma folha e morre ali mesmo.

Nesses locais, as condições de umidade, temperatura e luminosidade são favoráveis à reprodução do parasita. Do cadáver da formiga emerge a estrutura de reprodução do fungo, chamada de corpo de frutificação. Da altura do arbusto, o fungo está em uma posição estratégica, pois ajuda na propagação dos esporões, que precisam se instalar em novos alvos.

Zumbis humanos

De forma muito semelhantes ao que ocorre com as formigas estudadas pelo pesquisador do INPA, acontece no “The last of us”, a diferença é que as vítimas do fungo somos nós, os humanos. A sorte da nossa espécie, é que a possibilidade de sermos infectados por esse fungo no mundo real é bastante rara. Mas há outras interferências da natureza que podem mexer no “maquinário” humano.

A sorte da nossa espécie, é que o fungo ophiocordyceps camponoti-atricips  que atingem as formigas são bem específicos pra esses insetos, cada espécie de fungo infecta uma espécie de formiga, segundo o pesquisador. “Ao contrário do que acontece com as formigas, na Ásia é comum a utilização de um fungo muito semelhante por seres humanos como infusão terapêutica (um tipo de chá) para tratar diversas enfermidades, dizem que pode ser até afrodisíaco”, revelou Andriolli.

Conforme pesquisador do Inpa, o comportamento da espécie humana muda conforme a produção e o consumo de substâncias químicas. “Nós seres humanos somos um maquinário intermediado por neurotransmissores e substâncias químicas, sejam elas produzidas ou consumidas pelo nosso organismo”. Nisso, a atitude de uma pessoa pode ser uma escolha dela ou “originada por uma resposta química induzida”, essa é “uma polêmica discutível”, reflete o pesquisador.

Para ilustrar, Andriolli fala do amarelão (Ancylostoma duodenale), a doença em que as pessoas contaminadas sentem vontade de comer terra. “Esse comportamento é induzido pelo corpo humano como resposta à deficiência de ferro ou seria um feedback do parasita que convenientemente precisa repor os nutrientes consumidos do hospedeiro? Novamente um exemplo co-evolutivo entre parasita e hospedeiro, e quanto mais específica a mudança de comportamento causa-efeito, maior o nível de complexidade da relação”, esclareceu.