A Polícia Federal apreendeu na empresa do coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, em São Paulo, documentos que reforçam a ligação do policial com o presidente Michel Temer.
Os papéis tratam da campanha eleitoral de Temer em 2002 e da obra de reforma da casa de uma das filhas do presidente, Maristela Temer.
Procurado pela Folha, o Palácio do Planalto confirmou que Lima Filho “colaborou” com campanhas eleitorais de Temer e que Maristela procurou a empresa do coronel para obter um orçamento sobre uma reforma do imóvel, localizado no bairro paulistano de Alto de Pinheiros, mas acabou desistindo do negócio devido ao valor da proposta, que seria alto demais. A obra teria sido realizada por outra empresa.
A sede da empresa de Lima Filho, a Argeplan Arquitetura e Engenharia, localizada na Vila Madalena, na capital paulista, virou um dos alvos da Operação Patmos, deflagrada no último dia 18, porque dois delatores da empresa de carnes JBS afirmaram, em acordo de delação, que foi entregue R$ 1 milhão nas mãos do coronel Lima Filho, durante a campanha de 2014, como parte de um suposto acordo feito entre Temer e Joesley Batista, um dos donos da JBS.
O presidente é alvo de inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) por causa da delação dos executivos da JBS.
Um dos delatores, Florisvaldo Caetano de Oliveira, afirmou ter mantido dois encontros com Lima Filho para lhe entregar o dinheiro, em espécie. A localização dos papéis em nome de Temer e de sua filha confirma um trecho do depoimento do delator, que relatou aos investigadores que o coronel “era conhecido como sendo alguém ligado a Michel Temer”.
Alguns dos papéis encontrados pela PF foram, segundo descrição nos autos, “um projeto de reforma de imóvel com nome Maristela Temer” e “recibo de pagamento em nome de Maristela de Toledo Temer Julia”.
Também foi apreendido um “saco plástico com envelope pardo contendo planilha com movimentações bancárias, programação de pagamento do escritório político – Deputado Michel Temer, históricos pagamento e de candidatura da eleição de 2002”.
Na Argeplan, foram ainda coletados “impressos e recortes com matérias sobre corrupção e propina”, um “conjunto de matérias de jornais e revistas ligadas principalmente ao presidente Temer” e documentos de operações financeiras em moeda estrangeira e contratos de câmbio.
Os policiais também encontraram trechos de um processo judicial do Rio de Janeiro iniciado a partir da Operação Radioatividade, uma das fases da Operação Lava Jato, para investigar as obras da usina nuclear de Angra 3. A operação levou à prisão, por acusação de recebimento de propina, do então presidente da estatal Eletronuclear, Othon Pinheiro.
Essa investigação apurou que a empresa do coronel Lima Filho também participa de um dos contratos relativos à obra de Angra 3. Na usina, a Argeplan participa de um consócio com a finlandesa AF Consult Ltd. que assinou, em 2012, um contrato de R$ 162 milhões para execução da obra. E-mails apreendidos pela Operação Radioatividade mencionam o nome de uma pessoa identificada como “Lima” –que, para a PF, é referência ao coronel da PM– como alguém que participou do contrato relativo à usina nuclear.
Outro lado
A Secretaria de Imprensa da Presidência da República afirmou, em nota enviada à Folha nesta sexta-feira (2), que o coronel Lima Filho “colaborou com todas as campanhas eleitorais de Michel Temer, desde a primeira eleição em 1986. Era sua função auxiliar na parte administrativa, gerenciando a campanha e supervisionando a prestação de contas. Fez isso também na disputa por vaga na Câmara em 2002”.
Segundo a Presidência, o imóvel citado nos papéis “pertence à filha de Michel Temer, Maristela Temer. Há cerca de dois anos, ela adquiriu o imóvel e o reformou, tudo isso com recursos próprios. Solicitou orçamento à Argeplan para fazer as alterações arquitetônicas na casa, mas considerou o custo apresentado elevado e decidiu fazer com outro prestador de serviços, que estimara valor menor para as obras”.
Indagado se há relações de negócios entre Temer e Lima Filho, o Planalto respondeu que “são amigos e não mantêm relação comercial”.
Fonte: Folha de S. Paulo
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