Manaus, 26 de abril de 2024
×
Manaus, 26 de abril de 2024

Cidades

Menino de 11 anos se suicida após sofrer bullying e deixa carta para família

'Eu não aguento mais ir para escola e não existe maneira nenhuma de não ir'.

Menino de 11 anos se suicida após sofrer bullying e deixa carta para família

Diego Gonzáles e carta deixada por ele. (Foto: Reprodução)

Um menino chamado Diego Gonzáles, de apenas 11 anos, decidiu tirar sua própria vida após sofrer bullying na escola pelos próprios colegas. Como despedida para sua família, Diego deixou uma carta em cima de um urso de pelúcia que dizia: ‘Eu não aguento mais ir para escola e não existe maneira nenhuma de não ir’. (Leia carta completa abaixo)

Diego Gonzáles e carta deixada por ele. (Foto: Reprodução)

Diego entrou no colégio católico Nossa Senhora dos Anjos de Leganés aos três anos, e nunca havia demonstrado ter algum problema, nem mesmo com notas.

O caso ocorreu em  dia 14 de outubro de 2015, em Madri, na Espanha e chocou o país devido as circunstâncias de uma criança cometer suicídio.  Recentemente o caso voltou à tona devido uma decisão da justiça.

Na época, foi questionado  se instituições, como a própria escola ou os serviços sociais, não desconfiaram nada a respeito da situação pela qual Diego estava passando.

Pela gravidade do caso, os próprios pais de Diego, Manuel González e Carmen González, decidiram publicar a carta de despedida que seu filho lhes deixou e denunciar o caso à presidente da Comunidade de Madri e ao conselheiro de educação.

O caso de Diego, um bom aluno que não queria ir à escola

Diego tirava boas notas, era um bom aluno e seus pais estavam orgulhosos dele. Sua mãe relatou que em algumas ocasiões, quando ela o buscava na escola, ele pedia que ela fosse embora rapidamente, correndo para fugir de algo ou alguém.

Diego Gonzalés e seus pais (Foto: Reprodução)

Ele só parecia verdadeiramente feliz quando chegavam o verão e as férias,quando ele ficava livre das aulas ou do seu colégio em Leganés. Os pais lembram também que durante quatro meses ele esteve afônico. Uma afonia nervosa que, de acordo com o médico, era certamente causada por algum impacto.

A família nunca soube ao certo que o motivo realmente era o que eles temiam e qual era a realidade que Diego vivia na escola.

Por outro lado, o próprio centro, quando deu início às investigações, explicou que a criança não apresentava nenhum problema e que não havia denunciado nenhuma incidência.

Fica claro que, em algumas ocasiões, os recursos de um centro não são suficientes para detectar o abuso, mas é possível intuir a tristeza de um menino. Os professores a veem, e os próprios colegas de classe que observam os acontecimentos simplesmente se calam.

Atualmente não há nenhum responsável que possa ser julgado ou investigado por causa da morte deste menino, e por isso os pais de Diego buscam, antes de tudo, colocar em evidência a gravidade do bullying, deste abuso escolar que levou a vida de seu filho tão pequeno.

Investigação

Durante as investigações da polícia, em 2016, sobre a morte do menino de 11 anos,  ao menos dois colegas de classe relataram detalhes algumas cenas presenciadas por eles. Segundo os colegas, Diego sofria bullying constantemente, assim como eles, e tudo era visto pela direção e professores, que não fizeram nada a respeito.

Pais segurando a carta deixada por Diego. (Foto: Reprodução)

“Outras crianças tentaram fazer amizade com ele e ele estava sempre triste …” , testemunhou o pai de um de seus ex-colegas, segundo o resumo do caso e confirmado por fontes judiciais. Seu filho também sofreu várias agressões a ponto de perder o dente duas vezes e foi confrontado com gritos com o diretor da escola, o padre Vicente Ribas.

Outra garota contou que ela era muito próxima de Diego e de um terceiro parceiro. Os três sofreram a perseguição de um grupo de três meninos e meninas.

Diego foi chamado de “merda, nerd, estranho, sem graça”, de acordo com a garota. Para ela, além de insultá-la, forçavam os outros estudantes a deixá-la sozinha, cutucavam, beliscavam. Os pais da menina contaram que ela sofreu terrores noturnos, gritando à noite”. Ela repetiu para eles que queria fazer o que Diego fez com sua família, que ele não queria ir à escola. Ao conversarem com o diretor do centro, padre Rivas, os pais obtiveram uma resposta idêntica ao resto dos casos. “São coisas de crianças, não importa” , disse ele, embora prometesse agir. 

Depois disso, os próprios diretores chamaram a garota na frente dos perseguidores e eles a repreendem por contar o que aconteceu com seus pais. Depois de passar pelo psicólogo, a menina abandonou a escola.

Caso Arquivado

Até 2018, os pais de Diego não foram chamados para depor, não houve nenhum julgamento, nenhuma razão oficial para o que aconteceu ou culpado e  a Justiça encerrou o caso.

”Pedimos justiça. A justiça é que pelo menos que tenha tem um julgamento. Deixe eles te ouvirem, chame você para declarar. Ninguém nos deu essa oportunidade. Em quase três anos ninguém nos deu”, declarou a mãe de Diego.

Mãe pede justiça (Foto: Reprodução)

A carta de despedida de Diego

Diego decidiu escrever uma carta de despedida para seus pais. Ele deixou uma nota que dizia “Vejam em Lucho” na janela da qual ele pulou.

Lucho era seu bicho de pelúcia favorito, aquele que em seu quarto guardava em silêncio as últimas palavras da vida de um menino de 11 anos infeliz, que dizia adeus aos seus pais de um modo maduro, admirável e emotivo. Porque Diego era, sem dúvida, um menino especial.

Carta

“Papai, mamãe, estes 11 anos em que estive com vocês foram muito bons e eu nunca me esquecerei deles assim como nunca esquecerei de vocês. Papai, você me ensinou a ser uma boa pessoa e a cumprir as promessas, e além disso, brincou muito comigo. Mamãe, você cuidou muito de mim e me levou a muitos lugares. Vocês dois são incríveis, mas juntos são os melhores pais do mundo.

Tata, você aguentou muitas coisas por mim e pelo papai, e eu agradeço muito e te amo muito. Vovô, você sempre foi muito generoso comigo e sempre se preocupou. Te amo muito. Lolo, você me ajudou muito com as minhas lições de casa e me tratou muito bem.

Desejo sorte a você para que possa ver Eli. Digo isso porque eu não aguento mais ir ao colégio e não há outra maneira para não ir. Por favor espero que algum dia vocês possam me odiar um pouquinho menos. Peço que vocês não se separem, mamãe e papai, pois somente vendo-os juntos e felizes eu também serei feliz. Eu sentirei saudades e espero que um dia possamos voltar a nos ver no céu. Bom, me despeço para sempre.

Assinado Diego. Ah, uma coisa, espero que você encontre um emprego bem rápido Tata.”

Diego González.

Carta original deixada por Diego (Foto: Reprodução)