Manaus, 28 de março de 2024
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Brasil

Queimadas na Amazônia causam aumento de pessoas com problemas respiratórios

Segundo estudo da WWF-Brasil e da Fiocruz, no Amazonas, 87% das internações hospitalares foram causadas pelas queimadas

Queimadas na Amazônia causam aumento de pessoas com problemas respiratórios

Foto: Divulgação Fotos Públicas

MANAUS, AM – Estudos da WWF-Brasil em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostram que, nos últimos 10 anos (2010-2020), as queimadas foram responsáveis pelo aumento de pessoas com problemas respiratórios dentro dos hospitais. No Amazonas, segundo o mesmo estudo, 87% das internações hospitalares foram causadas pelas queimadas.

O estudo mostra algumas recomendações que podem ser tomadas para evitar o agravamento das queimadas, evitando, dessa forma, o aumento de pessoas com problemas respiratórios.

Algumas de tais recomendações são: melhorias dos sistemas oficiais de vigilância e monitoramento em saúde; especialmente os direcionados às populações indígenas; implantação de políticas de redução do desmatamento e queimadas. Além disso, há a necessidade de promover a prevenção do controle de zoonoses, pois, os custos associados com prevenção são substancialmente menores, comparados aos custos econômicos, sociais e de saúde no controle de potenciais epidemias e ou pandemias.

Queimadas e a saúde

Em conversa com a pesquisadora da Fiocruz e especialista em saúde pública, Sophia Livas, ela alertou sobre os riscos que as queimadas na floresta trazem para a saúde do ser humano.

Sophia explicou que a fumaça das queimadas contém vários elementos tóxicos nocivos (prejudiciais) para a saúde humana. Esses elementos não são facilmente vistos a olho nu, entretanto, eles contêm monóxido de carbono, dióxido de carbono e óxidos de nitrogênio e, ao serem inalados, percorrem todo corpo humano, causando diversos problemas.

“As queimadas geram partículas de vários tamanhos e, as menores (finas ou ultrafinas), quando inaladas, percorrem todo o sistema respiratório e conseguem transpor a barreira epitelial (a pele que reveste os órgãos internos), atingindo os alvéolos pulmonares durante as trocas gasosas e chegando à corrente sanguínea”, disse Sophia.

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Além disso, a especialista ressalta que o monóxido de carbono (CO) também é bastante prejudicial, pois ao atingir a corrente sanguínea e entrar em contato com a hemoglobina, acaba impedindo o transporte de oxigênio para as células e tecidos do corpo.

“Como consequência, ocorre um processo inflamatório generalizado, causando efeito deletérios no coração e o pulmão. Podendo em algumas situações causar a morte”, alertou.

A inalação desses elementos das fumaças pode causar problemas como: dificuldade para respirar, dor e ardência na garganta, rouquidão, dor de cabeça, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos.

A especialista enfatiza que a situação pode piorar: “Os danos vão além disso. Como relatei, a fumaça pode prejudicar os pulmões, os vasos sanguíneos e o sistema imunológico”.

Aumento das queimadas e a chegada da covid-19

De acordo com estudos do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em 2020, a Amazônia registrou, ao todo, 103.161 focos, sendo esse o maior dado já registrado até o memento. Ainda de acordo com o referido dado, o  aumento é de 15,7% em comparação a 2019.

Com a chegada da Covid-19, a quantidade de pessoas dentro dos hospitais chegou a um número demasiadamente elevado, resultando assim em um colapso na saúde pública. As queimadas crescentes prejudicam ainda mais os pacientes com o vírus.

O aumento das queimadas e a influência das fumaças na qualidade ar, somados à pandemia da covid, fizeram com que a quantidade de pessoas internadas com problemas graves de respiração fosse grande.

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O mestre em biologia e doutorando do programa de biologia do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Lucas Ferrante, frisou que esse aumento agrava o número de internações.

“Agravando o número de internações por síndromes respiratórias no Amazonas – o que vem a se somar com a grave situação da pandemia e eminência de uma terceira onda no Estado”, alertou o doutorando.

Segundo Lucas, ambos fatores – queimadas e covid-19 -, precisam ser controlados para que não aconteça um novo colapso na saúde, visto que, com o aumento das queimadas, pode-se gerar uma maior quantidade de pessoas internadas com problemas respiratórios sérios. Quanto mais pacientes precisam do mesmo tipo de tratamento para determinada doença, a resposta do sistema público de saúde acaba diminuindo.

“Como a covid e as síndromes respiratórias, geradas pelas queimadas, necessitam do mesmo tipo de tratamento isso agrava e diminui a resposta do Estado ao tratamento das doenças, tanto a covid-19 quando as doenças respiratórias geradas pelas queimadas”, falou Lucas Ferrante.

Para saber mais, acesse: https://bit.ly/3nUhAG9