Manaus, 26 de junho de 2024
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Cenário

Raiff defende PL do Aborto e é detonado por vereadores na CMM

Apesar de serem de direita, os vereadores, Marcelo Serafim, Rodrigo Guedes e Professora Jacqueline foram contra o posicionamento do parlamentar, pois afirmam ser uma ofensa contra a dignidade da mulher.

Raiff defende PL do Aborto e é detonado por vereadores na CMM

(Fotos: Ney Fábio/Kelvin Dinelli/Mauro Pereira)

Manaus (AM) – A discussão em torno do “PL do Aborto”, que equipara o aborto ao crime de homicídio e penaliza a vítima de estupro a 20 anos de prisão, alterou os ânimos na Câmara Municipal de Manaus (CMM) na manhã desta terça-feira (18). O tema foi levado ao Plenário pelo vereador Raiff Matos (PL), que foi contrariado pelos outros parlamentares, que apesar de serem contra o aborto, declararam ser contra o projeto de lei.

Raiff, vereador conservador e de direita, afirmou ser a favor da proposta e finalizou o seu discurso com a frase: “pior do que o estupro é o homicídio”, frase essa que não foi bem-aceita pelos colegas de Parlamento. Rodrigo Guedes (PP), inclusive, pediu ao colega que a retirasse por ser uma ofensa às mulheres vítimas da violência sexual.

“Eu não consigo concordar com a sua frase. O estupro, para algumas mulheres, pode ter certeza que algumas prefeririam morrer. Elas morrem por dentro, porque o estupro destrói todo o psicológico da mulher. O homem raramente é vítima de uma violência sexual […], mas isso, acima de tudo, é uma realidade das mulheres. Então, eu não consigo relativizar e muito menos aceitar essa frase”, disparou.

Guedes ainda complementou: “Eu sou pai de uma filha, de uma menina, e que Deus me livre e livre todos os pais e todas as mulheres de acontecer uma coisa dessa com a minha filha, porque eu não sei nem o que eu sou capaz de fazer. Não garanto, inclusive, a sanidade dos meus atos. […] O estupro é a coisa mais vil que pode acontecer a uma mulher, destrói a alma, mata ela por dentro, destrói o psicológico, destrói ela como ser humano. Então, por favor, não use essa frase!”, reclamou.

“Eu acho que poucas pessoas são radicais como eu contra o aborto, mas o projeto de lei é de uma infelicidade sem tamanho. Você penalizar uma mulher de forma mais rígida que um estuprador, vereador Raiff, é algo que vossa excelência, como cristão, não pode defender.  Nós, homens, talvez não consigamos ter a dimensão do que é estupro, as mulheres têm. Nós não podemos, enquanto cristãos, defendermos algo que penaliza tanto a mãe e o estuprador tudo de boa. […] O projeto, de fato, é uma aberração sem tamanho!”, argumentou Marcelo Serafim (PSB).

A vereadora Professora Jacqueline (UB) disse que a discussão sobre a proposta é tão complexa que até ela, como mulher, ficou refletindo se deveria falar ou não. A parlamentar ainda destaca que a proposta naturaliza o crime de estupro, uma vez que o crime faz a vítima se sentir desvalorizada e, muitas vezes, culpada.

“Eu acredito que, nesse PL, nós mulheres estamos sendo revitimizadas, porque além de sermos estupradas, agora, somos homicidas. A gente pega duas vezes a pena. […] Aqui não é uma questão só legal, é uma questão de vida, de mulheres que perdem as suas vidas quando são estupradas, que passam a vida todinha amargando aquele sentimento de desprezo por si mesma. Dizer que aborto é normal e que é uma lei que decide por nós, sem ter uma discussão menos religiosa e menos fundamentalista, a gente tá negando os direitos das mulheres”.

O posicionamento de Jacqueline vai de encontro com o discurso de Raiff, que usa a “defesa da família” em seu mandato. “Vamos acabar com esse discurso de ideologia. ‘Ah, eu discurso porque o meu tema é família’. Que família é essa? Quer dizer que a minha família, eu posso proteger e a família do outro não? Quer dizer que a dor do filho do outro é normal, só porque eu acredito nessa defesa ideológica?!”, criticou a vereadora.

Apesar das críticas, o vereador recebeu o apoio da bancada evangélica da Casa, tanto os políticos da base quanto os da oposição.

 

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