Manaus, 19 de abril de 2024
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Manaus, 19 de abril de 2024

Cidades

Sem vacinas, crianças são agentes transmissores de covid-19, alerta especialista

A prioridade foi desenvolver rapidamente imunizantes para as pessoas mais vulneráveis ao novo coronavírus

Sem vacinas, crianças são agentes transmissores de covid-19, alerta especialista

Quase dois meses após o Brasil iniciar a vacinação de grupos prioritários contra a Covid-19 determinados pelo Ministério da Saúde, crianças e adolescentes seguem sem definição de quando devem receber a tão esperada dose. Apesar do público infantil ser menos suscetível à doença, especialistas alertam que é preciso considerá-lo como agente de transmissão.

“Na realidade, os riscos para as crianças, em termos de adoecimento e morte, são baixos. O grande problema é o papel desempenhado pelas crianças, como transmissoras do novo coronavírus, no percurso casa-escola-casa, por exemplo”, alerta o pesquisador e epidemiologista da Fiocruz-Amazônia, Jesem Orellana.

Nesse cenário, onde as crianças fazem parte de um grupo no qual a covid-19 tem pouco impacto, ele explica que a prioridade foi desenvolver rapidamente imunizantes para as pessoas mais vulneráveis.

“Isso foi pensado desde os primeiros ensaios clínicos, estudos e testes para as vacinas. Esse grupo é um pouco complicado de fazer avaliações no sistema imunológico. Nós tínhamos umas informações acumuladas de que principais grupos de riscos, pelo menos, para a mortalidade, são compostos por adultos, jovens e idosos. Então essas vacinas foram desenhadas inicialmente para esses grupos acima de 18 anos”, conta.

Estudos

A boa notícia, segundo ele, é que já existem avaliações preliminares em Israel com crianças de 12 e 16 anos (Pfizer/BioNtech), as quais não tiveram efeitos colaterais graves.

“É preciso ficar claro que essas vacinas não são inviáveis em crianças e sim que há restrições de uso porque as mesmas não foram previamente avaliadas nesses grupos, como em gestantes, por exemplo. A tendência é que essas vacinas sejam aplicadas nesses grupos e que novos estudos surjam nos próximos meses assegurando segurança e eficácia.”, diz Orellana.

Imunidade de rebanho

O especialista comenta sobre a chamada “imunidade de rebanho”, que protegeria as crianças e adolescentes contra a doença, mesmo não vacinadas. Para ele, isso não ocorreria.

“Suponha que o limiar da imunidade de rebanho, pela via vacinal, só possa ser alcançado com mais de 80% de vacinados em toda a população. Mas, sabemos que nunca se vacina todo mundo. Os menores de 18 anos representam 20% da população. Logo, não seria possível alcançar a imunidade de rebanho pela via vacinal, sem também vacinar as crianças”, afirma.

Orellana explica que imunidade de rebanho ocorre quando chega um certo ponto que temos tantas pessoas imunizadas pela via vacinal que, mesmo que o vírus esteja circulando, ele não será mais capaz de sustentar grandes surtos.

“A imunidade de rebanho pela via natural é eticamente inaceitável no caso da covid-19, pois gera o caos e mata milhares em situações extremas. Manaus é o melhor evento sentinela em escala mundial que comprovou o naufrágio dessa teoria estapafúrdia, defendida por alguns pesquisadores, inclusive do Brasil”, destaca.

Escolas

Nesta semana, as escolas particulares retomaram as atividades presenciais no Amazonas. A volta foi garantida, por meio do Decreto Estadual nº 43.520, da última sexta-feira (5), que autorizou a realização de atividades da rede particular de ensino para creches e instituições de educação infantil particulares, com metade da ocupação das salas.

Para isso, a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) elaborou um plano de “Normas e Recomendações para o Retorno Gradual das Atividades Educacionais”, onde consta uma série de medidas para conter o avanço da doença nas unidades.

Distanciamento social, de sanitização de ambientes e de monitoramento de casos suspeitos, são algumas das recomendações da pasta. Apesar disso, o epidemiologista diz que vê com preocupação esse retorno sem as crianças estarem imunizadas.

“É impossível esperar que elas sejam imunizadas no primeiro semestre de 2021. Vejo esse retorno não apenas com preocupação, mas como repetido equívoco das autoridades sanitárias. Isso porque estamos em plena segunda onda e com uma aterradora variante, a P.1, circulando livremente no estado do Amazonas. Nossas UTI seguem saturadas e a epidemia está fora de controle fora do Amazonas”, finalizou.