
(Foto: Reprodução/Freepik)
Manaus (AM) — Setembro Amarelo, mês que da campanha de conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio, o tema da saúde mental volta ao destaque. Entre os anos de 2011 e 2022, a taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil. Os dados são do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) em colaboração com pesquisadores de Harvard, publicado na revista científica The Lancet Regional Health – Américas.
Ao Portal AM1, a psicóloga Bárbara Couto, explica que vivemos tempos diferentes, onde os jovens de hoje enfrentam realidades distintas das gerações anteriores. O crescimento em meio às redes sociais e à tecnologia pode acelerar o processo de amadurecimento, gerando, como consequência, uma pressão crescente por sucesso desde muito cedo e um medo constante do fracasso, que se tornam frequentes na vida dos jovens de nossa sociedade.
“Vivemos em uma época diferente, onde os jovens de hoje não são como os de antigamente. Eles crescem com redes sociais e tecnologia, que aceleram o amadurecimento. Isso cria uma pressão para que eles sejam bem-sucedidos desde cedo, e alcancem grandes objetivos rapidamente, mesmo antes de estarem emocionalmente prontos. Como resultado, o medo de fracassar se torna ainda maior”, ressalta a especialista.
Além das preocupações com a saúde mental, outro dado alarmante para a saúde pública no Brasil é o número de casos de síndrome de burnout, que afeta 30% da população. Segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), essa taxa coloca o país em segundo lugar no ranking mundial de casos, ficando atrás apenas do Japão.
Síndrome de Burnout
A Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, é um distúrbio emocional que surge quando uma pessoa se sente extremamente cansada, estressada e fisicamente esgotada devido a um trabalho muito exigente, competitivo ou com muita responsabilidade.
Nesse sentido, a psicóloga Barbara Couto explica que as questões trabalhistas também pode influenciar bastante nessa realidade e no acometimento da síndrome de burnout em 30% dos brasileiros.
“As questões trabalhistas também influenciam diretamente nessa realidade, como carga horária excessiva, falta de reconhecimento, pouca segurança no emprego, e um ambiente de muita cobrança e pouco descanso”, relatou psicóloga.
A especialista acrescenta que ambientes estressantes podem elevar os níveis de cortisol no organismo, conhecido como o “hormônio do estresse” por seu papel fundamental na resposta a essas situações.
“Toda essa combinação causa instabilidade e tem um impacto significativo na nossa saúde mental. Não podemos exigir que uma pessoa tenha ótima saúde mental se ela não tem tempo de comer, de dormir, se precisa pegar vários transportes, se o ambiente é tumultuado e vive sob constante estresse. Tudo isso eleva muito os níveis de cortisol no nosso corpo e, com certeza, traz o adoecimento”, disse psicóloga
Ansiedade
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior índice de ansiedade no mundo, com cerca de 9,3% da população afetada. Porém, essa não é a única preocupação para a saúde pública. O estudo também revela que aproximadamente uma em cada quatro pessoas no país enfrentará algum tipo de transtorno mental ao longo da vida.
Para a psicóloga Barbara Couto, esse fenômeno acontece porque o Brasil ainda não entende o que é o adoecimento mental, e sem essa compreensão integral, a população fica vulnerável ao esgotamento, ansiedade e depressão, podendo ocasionar, por fim, o suicídio.
“Precisamos entender que o Brasil está dando passos pequenos rumo a compreender o que é o adoecimento mental. Hoje, vemos muitas alternativas que não são científicas, até mesmo no SUS, e a saúde mental ainda não é vista da maneira que deveria ser. Ela é muito negligenciada, e as pessoas são pressionadas a serem eficazes, a funcionarem como se fossem robôs, quando, na verdade, têm necessidades, desejos, precisam de pausas, de sono, de descanso, e não apenas de efetividade. Isso nos adoece muito”, explicou doutora.
Medidas preventivas
A psicóloga Barbara Couto destaca que o governo precisa enxergar a saúde pública de uma forma diferente. Muitas áreas do país carecem de serviços básicos. Segundo a psicóloga, é necessário reconhecer que a infraestrutura é precária e insuficiente.
“Há muita coisa que precisamos organizar para mudar essa realidade, para que a saúde mental seja vista com a importância que merece, com a gravidade que tem. O suicídio, para mim, é o ápice da dor humana, e ele dá muitos sinais antes de acontecer. Se tivéssemos pessoas capacitadas e informadas, muitos casos de suicídio poderiam ser evitados”, enfatizou a psicóloga ao Portal AM1.
LEIA MAIS:
- Fiocruz alerta para aumento da taxa de suicídio entre criança e jovem
- Amazonas é o estado que mais registrou suicídio indígena
- Setembro Amarelo: Manaus reforça medidas de prevenção ao suicídio e valorização da vida
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, siga no Instagram e também no X.