Em uma tentativa de sobreviver após fugir da crise na Venezuela, homens venezuelanos encontraram no lixão da cidade fronteiriça de Pacaraima, em Roraima, a única fonte de subsistência.
Enfiados entre os dejetos da cidade, os imigrantes ficam da manhã à tarde em busca daquilo que possam aproveitar. Recolhem metais, papelões e comida. Eles dizem que não conseguem outro trabalho porque a cidade está cheia de venezuelanos carentes, enquanto outros cometem crimes e “por um todos pagam”.
O número de venezuelanos que fogem para o Brasil aumentou em meio a manifestações e confrontos no vizinho sul-americano desde a última terça-feira (30).
O presidente autoproclamado Juan Guaidó, que preside a Assembleia Nacional, anunciou ter apoio de militares e convocou o povo às ruas um dia antes do 1º de Maio para derrubar o regime de Nicolás Maduro. O chavista, no entanto, afirma que os oposicionistas “fracassarão”.
Só na terça-feira (30), 848 imigrantes passaram pelo posto de triagem na cidade fronteiriça de Pacaraima. Segundo a operação Acolhida, que controla o fluxo migratório, o movimento foi considerado “atípico” se comparado a média diária de 450.
Correria em aterro de Pacaraima
O venezuelano em Pacaraima Miguel Arteaga conta que duas vezes ao dia, normalmente de manhã e à tarde, um caminhão leva mais lixo para o aterro. Nesses momentos costuma haver correria.
“Aparecem muitos venezuelanos jovens, com 19, 20 anos. Correm quando o caminhão chega”, relata um dos companheiros de Arteaga, Gustavo Santana, 48. “O governo da Venezuela não serve. Nos fez chegar a este ponto”.
Segundo a ONU, 3,4 milhões de venezuelanos saíram do país desde 2014 quando se agravou a grave crise política e econômica no país. Cerca de 96 mil buscaram refúgio no Brasil, mas no estado fronteiriço de Roraima, que concentra maior quantidade, só 9% conseguem inserção no mercado formal, conforme levantamento da Organização Internacional para Migrações (OIM).
Com as pernas metidas no lixo, o terceiro venezuelano entrevistado pelo G1 revirava entre restos. Ele encontrou um curto pedaço de arame e o guardou. Mais jovem entre os três, é o que tem mais experiência ali. Está há três meses vivendo do lixo.
“Havia uma grávida, mas ela já pariu e se foi daqui”, conta Fresby Artiaga, de 19 anos. “Pagam 10 centavos pelo quilo de papelão, e o de lata custa R$ 3. Dividindo tudo o que conseguimos, são entre R$ 15 e R$ 20 ao dia para cada um. Só dá para comer”.
Um homem e quatro garotos também caminham entre os montes de lixo. Um dos meninos carrega um saco nas costas. São índios warao, etnia que vive em território venezuelano e também migra em massa ao Brasil.
“De repente consigo um dinheiro para passagens e me vou daqui”, completou Gustavo, que não esconde a vontade de sair dali. “Quero ir mais ao Sul do Brasil, encontrar um trabalho. Recomeçar”.
*Informações retiradas do G1
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