Manaus, 7 de maio de 2024
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Brasil

“Vi a morte de perto”, diz jovem gay esfaqueado 22 vezes

O caso aconteceu na madrugada do dia 7 de outubro. O jovem estava em um evento beneficente no Distrito Federal

“Vi a morte de perto”, diz jovem gay esfaqueado 22 vezes

Mais de três semanas depois de ser esfaqueado 22 vezes na Rua do Lago, em Brazlândia, a cena ainda está latente na memória do estudante de odontologia Felipe Augusto Correia Milanez, 23 anos, que nesta quinta-feira, 31, deixa o Distrito Federal por medo de perder a vida. O círculo formado pelos mais de 15 jovens, os gritos e, principalmente, o ódio marcaram Felipe, mais uma vítima de homofobia na capital do país.

O caso aconteceu na madrugada do último dia 7. O jovem estava em um evento beneficente e saiu do local por volta das 19h30. De lá, foi encontrar as primas em uma festa próxima às margens do Lago Veredinha. “Elas ficaram comigo até por volta de meia-noite e foram embora. Acabei ficando sozinho por um tempo, mas encontrei um amigo”, relata.

Às 2h, diz Felipe, ele decidiu ir para outro lugar em Brazlândia na companhia do colega. O amigo estava com um cavalo amarrado no final da rua e eles precisavam buscar o animal. “Foi no momento que caminhávamos que chegaram três homens e começaram a me xingar de coisas horríveis, sempre no feminino”, lembra.

A reação do jovem foi apenas se virar e dizer que não queria confusão. Os três, no entanto, insistiram. “Um deles perguntou se eu sabia com quem eu tava falando. Disse que não e dei as costas mais uma vez. Foi aí que recebi a primeira facada na cabeça”, conta.

A partir daí, uma grande briga se iniciou. O estudante de odontologia revidou com um soco, mas os outros dois agressores o seguraram contra a parede e tentaram sufocá-lo. Felipe caiu no chão e viu cada vez mais homens se aproximando para continuar o ataque. Com apenas uma faca, mais de 15 jovens se revezavam nas perfurações aos gritos de “menos um viado no mundo”. Apesar de várias pessoas presenciarem o fato, ninguém tentou ajudá-lo.

A saída que ele encontrou foi se rastejar para dentro de um carro que estava com a porta aberta, enquanto recebia pauladas e chutes. “Quando entrei no carro, vi que tinha uma mãe com o bebê dentro. Não achei que seria justo pôr em risco a vida de outras pessoas e saí”, explica.

Ao cair de volta na rua, uma conhecida de Felipe se jogou nas costas dele para fazer com que o espancamento parasse. “Eu ainda não tinha muita dimensão do que estava acontecendo. Só sangrava muito. Ela me levantou, me colocou de volta no mesmo carro e fechou a porta. Fiquei meio preso ao lado da cadeirinha do bebê.”

Mesmo assim, um dos agressores deu a volta e abriu a porta do outro lado, desferindo um golpe no peito de Felipe. Enquanto isso, os outros homens tentavam levá-lo para fora do veículo. Em um dado momento, o puxaram pelo cabelo.

“Foi tão forte que imaginei que meu pescoço quebraria. Como não conseguiram me tirar do carro, começaram a cortar meu cabelo com a própria faca”. Até o dia da tentativa de homicídio, ele usava cabelo comprido.

Nesse meio tempo, o dono do carro tentava fugir para o Hospital Regional de Brazlândia (HRBraz), mas não conseguia dar a partida no veículo, que só ligou após um tempo. Chegando na unidade de saúde, Felipe foi internado e só saiu oito dias depois. Foi necessário que ele ficasse em uma sala escondida, pois os agressores tentaram entrar no hospital “para terminar o serviço”.

Homofobia

Felipe não conhecia nenhum dos agressores e atribui o fato exclusivamente ao ódio por alguém que possui orientação sexual diferente. “Nada justifica o que fizeram comigo. É homofobia. Homofobia mata, eu vi a morte na minha frente”, conta.

Desde que saiu do HRBraz, no dia 15, a vida dele precisou mudar completamente. Só saiu de casa para ir à residência da tia, que fica a 50 metros de distância, e não encontra com mais ninguém. “Eu que estou preso. Além de sofrer com a violência, não posso mais sair de casa e meu medo não me deixa fazer mais nada.”

Os próximos passos da vida, ele ainda não sabe como dar. “A recuperação física está acontecendo, mas o psicológico é que o sabota. Outro dia, meu primo chamou meu nome e tomei um susto achando que poderia ser algum dos agressores”, explica.

Quem também sofre é a mãe, Jamile Correia, 49. Desempregada, ela lembra que perdeu a voz quando recebeu a notícia de que o filho estava no hospital. “Não acreditava. Fiquei sem conseguir falar por muito tempo. Quando toquei nele, estava gelado. Estar vivo é um milagre de Deus”, comemora.

A partir de agora, Jamile afirma que lutará para que o acontecimento com o filho não saia impune. “A orientação do meu filho não interfere no caráter dele. Fiquei os oito dias no hospital com ele e vou até o julgamento para ver todos os culpados. Minha luta será contra a homofobia”, finaliza.

 

(*) Com informações do Metrópoles

Ao cair de volta na rua, uma conhecida de Felipe se jogou nas costas dele para fazer com que o espancamento parasse. “Eu ainda não tinha muita dimensão do que estava acontecendo. Só sangrava muito. Ela me levantou, me colocou de volta no mesmo carro e fechou a porta. Fiquei meio preso ao lado da cadeirinha do bebê.”

Mesmo assim, um dos agressores deu a volta e abriu a porta do outro lado, desferindo um golpe no peito de Felipe. Enquanto isso, os outros homens tentavam levá-lo para fora do veículo. Em um dado momento, o puxaram pelo cabelo.

“Foi tão forte que imaginei que meu pescoço quebraria. Como não conseguiram me tirar do carro, começaram a cortar meu cabelo com a própria faca”. Até o dia da tentativa de homicídio, ele usava cabelo comprido.

Nesse meio tempo, o dono do carro tentava fugir para o Hospital Regional de Brazlândia (HRBraz), mas não conseguia dar a partida no veículo, que só ligou após um tempo. Chegando na unidade de saúde, Felipe foi internado e só saiu oito dias depois. Foi necessário que ele ficasse em uma sala escondida, pois os agressores tentaram entrar no hospital “para terminar o serviço”.

Homofobia

Felipe não conhecia nenhum dos agressores e atribui o fato exclusivamente ao ódio por alguém que possui orientação sexual diferente. “Nada justifica o que fizeram comigo. É homofobia. Homofobia mata, eu vi a morte na minha frente”, conta.

Desde que saiu do HRBraz, no dia 15, a vida dele precisou mudar completamente. Só sai de casa para ir à residência da tia, que fica a 50 metros de distância, e não encontra com mais ninguém. “Eu que estou preso. Além de sofrer com a violência, não posso mais sair de casa e meu medo não me deixa fazer mais nada.”

Os próximos passos da vida, ele ainda não sabe como dar. “A recuperação física está acontecendo, mas o psicológico é que o sabota. Outro dia, meu primo chamou meu nome e tomei um susto achando que poderia ser algum dos agressores”, explica.

Quem também sofre é a mãe, Jamile Correia, 49. Desempregada, ela lembra que perdeu a voz quando recebeu a notícia de que o filho estava no hospital. “Não acreditava. Fiquei sem conseguir falar por muito tempo. Quando toquei nele, estava gelado. Estar vivo é um milagre de Deus”, comemora.

A partir de agora, Jamile afirma que lutará para que o acontecimento com o filho não saia impune. “A orientação do meu filho não interfere no caráter dele. Fiquei os oito dias no hospital com ele e vou até o julgamento para ver todos os culpados. Minha luta será contra a homofobia”, finaliza.

(*) Com informações do site Metrópoles