Manaus, 3 de dezembro de 2024
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Política

Visita de Biden a Manaus é uma despedida melancólica de promessas de campanha frustradas

Biden em 2020 havia prometido uma política ambiental com forte discurso a oposição da política ambiental de Trump.

Visita de Biden a Manaus é uma despedida melancólica de promessas de campanha frustradas

(Foto: Dhyeizo Lemos / Semcom)

Manaus (AM) – A visita à Amazônia é vista por analistas políticos ouvidos pelo AM1 como um desfecho simbólico para uma série de promessas de campanha em 2020 a favor da preservação do meio ambiente. Biden fez muitas promessas para o bioma, inclusive durante sua campanha presidencial, mas entregou muito pouco. O meio bilhão de dólares acabou como um valor de US$ 50 milhões ao Fundo Amazônia.

Durante sua campanha de 2020, Biden havia destacado as mudanças climáticas como uma das prioridades de sua administração, usando a crise dos incêndios na Amazônia para reforçar sua imagem como líder ambiental global. Ainda que a visita de um presidente americano a Manaus seja importante, o cientista político Carlos Santiago destaca que é um final melancólico.

“É muito importante a presença de um presidente dos Estados Unidos a Manaus. Tem um aspecto simbólico estar na Amazônia, acompanhar de perto as diferenças sociais e culturais. Mas me parece mais uma visita turística de final de mandato, sem grandes compromissos, sem apresentação de grandes apelos e de acordos internacionais. Até porque o eleitorado dos Estados Unidos já deu o recado que essas questões de pautas ambientais não é importante”, destacou Santiago ao AM1.

Biden ainda em 2020 designou seu Enviado Climático, John Kerry, para negociar com o governo brasileiro em busca de avanços na preservação ambiental, oferecendo recursos financeiros em troca. Kerry queria demonstrar rapidamente resultados concretos, visando reafirmar a liderança dos EUA na área. Porém, o governo Bolsonaro ainda em vigência na época exigia que os americanos se comprometesse a destinar US$ 1 bilhão por ano para a Amazônia, sem que o Brasil tivesse que apresentar resultados prévios em termos de redução do desmatamento. Ao mesmo tempo, o governo cortava o orçamento de órgãos de fiscalização ambiental. A percepção entre os democratas era de que Kerry estava sendo enganado pelos bolsonaristas, a ponto de ele ser chamado para dar explicações no Congresso. No final das contas, embora as negociações continuassem até o fim do governo Bolsonaro, nenhum dinheiro foi liberado e o Congresso americano foi rígido em não liberar tanto dinheiro para essa causa.

O cientista político Helso Ribeiro destaca que com a eleição de Lula, que prometeu reverter a política ambiental de Bolsonaro, o novo governo restaurou a parceria com Marina Silva, uma figura respeitada pelos americanos na área ambiental, mas já era tarde demais. Quando Biden pressionou por uma visita de Lula nos primeiros meses de 2023, antes da viagem para a China, Brasília acreditava que os Estados Unidos cumpririam suas promessas de aporte financeiro, especialmente para o Fundo Amazônia, recém-reativado. Já na Cúpula do Clima do Egito, antes da posse de Lula, os americanos sinalizaram que iriam fazer os repasses o que não aconteceu.

“Houve tentativas e se sabia sobre a necessidade disso tendo em vista o que a Amazônia viveu com aquela estiagem histórica. Mas ainda assim entendo que essa foi uma visita histórica e os Estados Unidos não é o salvador da Pátria. A preservação da Amazônia deve ser um cooperação coletiva.” Explicou Ribeiro.

Entretanto, quando a visita foi marcada para fevereiro de 2023, os EUA só haviam disponibilizado US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia, um valor considerado simbólico pelos brasileiros. Diplomatas americanos disseram que esse seria apenas um “gesto inicial” de boa vontade e confiança no trabalho de Lula, e que mais recursos seriam enviados em breve. No entanto, em abril de 2023, Biden anunciou que os EUA pretendiam enviar US$ 500 milhões ao Fundo Amazônia, a serem divididos ao longo de cinco anos. Mas, como os recursos precisariam ser aprovados pelo Congresso, a chance de que o dinheiro realmente chegasse à Amazônia era pequena.

Os democratas tinham esperanças de reconstruir a relação ambiental com o Brasil durante um possível governo de Kamala Harris, especulando que ela usaria a COP30 em Belém para anunciar grandes parcerias bilaterais. Porém, a vitória de Trump frustrou esses planos, e não há expectativa de que o presidente republicano participe da COP no Brasil. Biden então chega a um final melancólico e veio ao Brasil, mas com muito menos do que o valor prometido.

“Os americanos elegeram Trump que é um homem contra os acordos internacionais de impactos climáticos. Então a visita do presidente dos Estados Unidos tem um valor simbólico, tem a sua importância histórica, mas parece mais uma passagem turística, sem grandes compromissos. Os americanos escolheram olhar mais para dentro do que para fora, do que para o mundo”, explicou Santiago.

Planejamento

Oficialmente, o Departamento de Estado Americano defendeu que o plano de Biden ir à Amazônia já estava traçado antes da derrota de Kamala Harris nas urnas e que, a manutenção da agenda apenas reforça o compromisso de Biden com o tema. Após a passagem pelo Musa, Biden comunicou que o dia 17 de outubro é sim uma data importante para o ecossistema, estabelecendo o dia 17 de novembro como o Dia Internacional da Conservação.

“Diz-se que a floresta amazônica é os pulmões do mundo. Florestas como estas, que se estendem pelas Américas, África e Ásia — incluindo a Amazônia, Tongass, Congo e Sundaland — representam nosso coração e alma. Agora, mais do que nunca, devemos reafirmar o compromisso urgente de enfrentar as mudanças climáticas — juntos, podemos garantir que esses tesouros sejam desfrutados pelas gerações futuras. AGORA, PORTANTO, EU, JOSEPH R. BIDEN JR., presidente dos Estados Unidos da América, em virtude da autoridade que me é conferida pela Constituição e pelas leis dos EUA, proclamo, por meio deste, o dia 17 de novembro de 2024 como o Dia Internacional da Conservação”, disse o presidente em seu discurso no Musa em Manaus.

 

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