Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade, mas também a mentira.
E a meia-verdade, mas também a suposição e a dúvida.
Quem sabe a maledicência, de mãos dadas com a virtude,
E também a calúnia, tomando o chá da tarde com a esperança.
Artigo II
Fica decretado que vale o boato, mas também a prova.
Que o homem confiará no homem, mas que a desconfiança também será ok.
Que a palavra de apoio será colorida, mas que a indireta será banhada em ouro.
Fica decretado o aroma do orvalho aos que atravessam na faixa,
Mas institui-se também uma salva de palmas aos que passam pelo acostamento.
Artigo III
Fica decretado que, no país dos girassóis nas janelas,
A gravidade dos crimes seja inversamente proporcional à quantidade de criminosos.
Se todo mundo estiver fazendo, então está tudo certo.
Se ninguém está fazendo, crime continuará sendo.
Artigo IV
Fica decretada anistia aos crimes que todos cometeram.
Que o ICMS seja perdoado e também o PIS e a COFINS, junto com uma bala de menta.
Que todo homem fique livre do IPTU e do IPVA
Que a Prefeitura e a Receita enviem cartas de parabéns no lugar de cobranças.
E enviem também uísque escocês sonegado.
Fica decretado, aliás, que todo uísque sonegado seja perdoado.
Que o imposto de renda não seja retido na fonte.
Que os governos confiem nos homens, e que os homens nunca se esqueçam de pagar o imposto de renda.
Artigo V
Na medida em que ninguém sequestra mais ninguém, o sequestro mantém-se crime hediondo.
E que se todos sequestram todos, o sequestro passa a ser apenas contravenção.
Fica decretado que, se a Constituição manda, então ela não manda.
E vamos combinar que, se todos burlaram o sistema político,
O problema é o sistema político.
Que é preciso “primeiro cortar o pra trás”, para que todo homem ande com uma imensa begônia na lapela.
Fica, aliás, decretado que quem tem coragem de se reunir no porão do Palácio do Jaburu, à meia noite, com o anticristo em pessoa, tem direito a não usar tornozeleira.
Artigo VI
Fica decretado que “temos que trocar os juízes” vira “papapá”
E que “Essa merda das 10 medidas” vira “nananã”
A República passa a ser terra de homens ingênuos.
E as concordâncias passam a ser etiqueta social.
Concordou, é porque não queria ser indelicado.
Artigo VII
Furar fila vira ingenuidade,
Aquela ligaçãozinha pro Gilmar vira parceria institucional.
Indignação agora chamar-se-á chatice.
Será permitido roubar a nação e, com o produto do roubo,
Será permitido comprar a liberdade.
Juízes serão punidos com aposentadoria remunerada.
Corruptos serão condenados à Quinta Avenida de Nova Iorque.
Artigo VIII
Fica decretado que merda, caralho e bosta sejam inscritos na Bandeira Nacional.
Que a Andréa Sadi seja presidente da Câmara,
Que a Camila Bonfim seja a presidente do Senado,
E que o programa de rádio “A Hora do Brasil” passe a se chamar,
Daqui em diante, “Meia Horinha De Conversa Com o Presidente no Porão do Palácio”.
Artigo IX
Institui-se, também, que João Santana e Mônica Moura
Encomendem, de suas contas na Suíça,
Um jingle que rime “Lula Lá” com “Diretas Já”,
E que o judiciário brasileiro se divida em 1ª instância, 2ª instância, Trânsito em Julgado e
Gabinete da Presidência da República.
Artigo X
Decreta-se que nada será obrigado,
Nem proibido,
Tudo será permitido,
Inclusive brincar com os rinocerontes.
Fica decretado, portanto, que agora vale tudo.
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