Manaus, 3 de julho de 2025
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Opinião

Giovanni Cesar

Fim da escala 6×1: avanço para trabalhadores ou risco para setores essenciais?

Embora a proposta tenha o potencial de transformar a vida de milhões de profissionais, os impactos em setores como saúde e educação levantam preocupações que não podem ser ignoradas.

Fim da escala 6×1: avanço para trabalhadores ou risco para setores essenciais?

(Foto: Polyana Brelaz/Semacc)

* Por Giovanni Cesar

O que você faria se tivesse um dia a mais na semana para descansar ou passar com a família? Essa é a promessa por trás da PEC que propõe o fim da escala 6×1 e a redução da jornada semanal de trabalho para 36 horas. Mas será que o Brasil está preparado para essa mudança? Embora a proposta tenha o potencial de transformar a vida de milhões de profissionais, os impactos em setores como saúde e educação levantam preocupações que não podem ser ignoradas.

O Brasil está entre os países com uma das jornadas de trabalho mais longas do mundo. Esse modelo tem causado reflexos graves na saúde da força de trabalho, como o aumento nos casos de burnout, estresse e problemas psicológicos. A PEC apresentada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) busca aliviar essa carga, oferecendo mais tempo para lazer, autocuidado e convivência familiar. No entanto, implementar mudanças desse porte exige planejamento cuidadoso, especialmente em setores essenciais.

Na saúde, por exemplo, a redução para 36 horas semanais sem a contratação de novos profissionais pode sobrecarregar ainda mais médicos, enfermeiros e técnicos, que já enfrentam jornadas intensas e a pressão de um sistema público deficitário. Sem reforços, o atendimento à população pode sofrer ainda mais. O setor educacional encara um desafio diferente, mas igualmente complexo: adaptar o calendário escolar e garantir que o currículo seja cumprido sem comprometer a qualidade do ensino.

Apesar das dificuldades, a proposta não surge de forma isolada. Experiências internacionais, como as da Islândia e Nova Zelândia, mostram que a redução da jornada de trabalho traz benefícios reais, como o aumento da produtividade e a melhoria no bem-estar dos colaboradores. Mas essas mudanças ocorreram de forma gradual, com etapas que respeitaram as características e necessidades de cada setor. No Brasil, um caminho mais seguro seria começar pela redução para 40 horas semanais, permitindo que empresas, sindicatos e governo ajustem suas estruturas com segurança.

Outro ponto que merece atenção é o impacto na renda dos trabalhadores. Com mais tempo livre, muitos podem buscar um segundo emprego para complementar os ganhos, especialmente em um país em que o custo de vida é alto e o salário mínimo não atende às necessidades básicas. Isso contraria o objetivo da PEC, que é melhorar a qualidade de vida, não sobrecarregar ainda mais os profissionais.

O debate sobre a escala 6×1 vai além das questões trabalhistas. Ele abrange a saúde pública, a economia e a organização social. É uma oportunidade para reavaliar a relação dos brasileiros com o trabalho e avançar para um modelo mais justo. Mas, para isso, é necessário cuidado. Sem medidas complementares, como o estímulo à contratação de profissionais, o fortalecimento da fiscalização e um planejamento estratégico sólido, o que poderia ser um avanço pode se transformar em um problema ainda maior.

Um futuro de trabalho mais humano é possível, mas depende de diálogo e planejamento. A PEC é um passo importante, mas sua implementação precisa garantir que o benefício para os profissionais seja real, sem comprometer setores essenciais. A mudança deve ocorrer com responsabilidade e visão coletiva, porque o trabalho não deve ser apenas uma fonte de renda, mas também uma parte saudável da vida.

 

(*) Giovanni Cesar – Mestre em Direito e advogado trabalhista

 

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