Manaus, 28 de março de 2024
×
Manaus, 28 de março de 2024

Cenário

‘Serei político até morrer’, diz Serafim Corrêa após rumores de aposentadoria

Serafim Corrêa falou ao AM1 sobre os planos do PSB para as eleições de 2022 e que aguarda posição da sigla sobre sua candidatura no pleito

‘Serei político até morrer’, diz Serafim Corrêa após rumores de aposentadoria

Foto: Mario Silva

MANAUS (AM) – Cumprindo seu segundo mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), Serafim Corrêa é um dos poucos deputados da Casa Legislativa que ainda possui uma atuação independe de alianças. Natural de Manaus, Serafim é economista, advogado e técnico em contabilidade.

Além da extensa carreira profissional, Serafim também possui vasta experiência política e o interesse pela política começou em 1986, quando se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Exerceu o cargo de vereador em Manaus por duas vezes consecutivas, eleito nos pleitos de 1988 e 1992.

Leia mais: Ramos, Arthur e Serafim reprovam; Alberto Neto aplaude tanques nas ruas

Após quatro eleições frustradas, Serafim conseguiu se eleger prefeito de Manaus no ano de 2004, com 51,68% dos votos, e assumiu o governo da cidade em janeiro de 2005, superando, entre outros, o ex-prefeito e ex-governador Amazonino Mendes. Tentou a reeleição no pleito de outubro de 2008, mas foi derrotado por Mendes.

Após o desgaste político, Correa voltou a política partidária em 2015, quando assumiu seu primeiro mandato como deputado estadual, em 2018 foi reeleito para o cargo, que deve ocupar até dezembro de 2022.

Em entrevista exclusiva ao Portal Amazonas1, Serafim disse que não pretende abandonar a carreira política nos próximos anos e enquanto tiver seu mandato vigente atuará sempre a favor da igualdade na sociedade e do equilíbrio nos poderes.

Confira a entrevista completa:

AMAZONAS 1: O senhor coleciona diversos mandatos e uma trajetória política extensa, ano passado o senhor chegou a ser cogitado para as eleições municipais, mas disse que não estaria disposto a fazer uma campanha de rua, agora, nos bastidores, há uma possibilidade de o senhor encerrar a carreira. De fato, é um plano seu? O senhor pretende atuar na próxima legislatura ou irá encerrar os trabalhos?

SERAFIM CORRÊA: O homem é um animal político, sempre está fazendo política, até quando ele não é candidato, ele está fazendo política. Eu estou a 34 anos no mesmo partido e tenho uma visão da política de que você se filia no partido para seguir aquelas ideias, a proposta do PSB é lutar por uma sociedade mais justa e equilibrada. A sociedade amazonense ainda é muito injusta, uns têm muito e outros não possuem nem o mínimo para viver e eu luto por igualdade, por uma sociedade equilibrada. Ano que vem eu serei candidato a algum cargo, isso é uma decisão partidária, que só será tomado no ano que vem. Mas quero continuar minha carreira política, serei político até morrer.

AMAZONAS 1: Em algumas votações na Assembleia o parlamento tem votos favoráveis em massa em alguns temas polêmicos como; liberação de credito bilionário para o Governo do Estado, mas o senhor em muitos casos é único voto contrário? Qual os seus critérios na votação dos Projetos de Lei?

SERAFIM CORRÊA: Eu analiso o projeto, por exemplo, eu não consigo entender que exista uma lei complementar federal, 173/2021 que estabeleceu a impossibilidade de reajuste salarial a funcionários públicos. E o que ocorreu foi a apresentação de vários projetos propondo aumento para funcionários do Ministério Público, Tribunal de Contas e até mesmo a Assembleia. E eu voto contra sempre, porque eu credito que enquanto nós não podermos aumentar o salário dos professores e profissionais da saúde, por exemplo, não poderemos aumentar os salários dos burocratas. As vezes não sou compreendido, as vezes sou apupado, mas essa é a consequência de algumas escolhas que fazemos na vida. E a vida segue.

AMAZONAS 1: Em 2004, o senhor foi eleito Prefeito de Manaus, onde comandou a gestão municipal por quatro anos. Com sua experiência, como o senhor analisa a gestão do prefeito David Almeida, algo precisa mudar, o que precisa ser feito?

SERAFIM CORRÊA: O prefeito está nos primeiros sete meses de mandato. E eu sempre costumo dizer que, qualquer um que for prefeito de Manaus, vai ter o primeiro mandato como aprendizado. O primeiro ano é o ano de aprendizado, onde ele vai conhecer a máquina da prefeitura e essa máquina é muito grande, são 33 mil funcionários. Então de repente, você tem uma cidade com mais de 2 milhões de habitantes, com problemas em todos os aspectos; infraestrutura, saúde, saneamento básico. Por isso, o prefeito, antes de anunciar propostas, ele precisa primeira analisar e ser ciente da situação da cidade. Na minha visão, o primeiro ano é de aprendizado, após o segundo ano é que as coisas poderão deslanchar, eu vivi isso e sei como é. Entendo que o prefeito Davi está suprindo as expectativas, tem enfrentado a pandemia com muita competência, creio que frente as limitações do município David está se saindo bem.

AMAZONAS 1: Na gestão pública amazonense existe uma prática de perpetuar empresas na prestação de serviços públicos. Uma empresa que passou por sua gestão e continua com contratos vigente até hoje é a Tumpex. Com base na sua experiência como prefeito, quais os critérios usados para renovar contratos com essas empresas?

SERAFIM CORRÊA: Quando cheguei na Prefeitura de Manaus, a Tumpex já estava lá. Ela é uma empresa especializada neste serviço. Manaus é uma cidade que possui poucas empresas especializadas em serviços de limpeza, eu diria que hoje a capital tem apenas duas empresas desse segmento, a Tumpex e a Marquise. Então, você não tem uma terceira empresa para concorrer no processo licitatório. E elas fazem um bom trabalho ao meu ver. Agora, falta muita coisa para a nossa limpeza pública ser ideal, todos os anos toneladas e toneladas de lixo são retiradas dos igarapés e quem joga lixo lá somos nós, a população, que não possui educação. E eu faço até justiça aqui, porque todos os prefeitos, todos nós tentamos conscientizar a população em relação a limpeza pública, mas há uma reação muito grande da poluição na cidade e isso aumenta o trabalho das empresas de lixo.

AMAZONAS 1: O senhor levanta discursos relacionados a ética e o fim do nepotismo, no entanto, quando estava como prefeito da cidade criou a Secretaria Municipal de Articulação e Políticas Públicas, onde nomeou seu filho Marcelo Serafim, o senhor se arrepende da nomeação, uma vez que pode ser considerado como privilégios familiares?

SERAFIM CORRÊA: Vamos contextualizar. Ele foi nomeado para uma secretaria extraordinária que não tinha sequer orçamento, portanto em uma atividade essencialmente política. O Marcelo é político desde que nasceu, ele aos 17 anos se filiou ao PSB e permanece até hoje. Ele foi candidato, era o primeiro suplente e eu precisava de alguém que fizesse a interface com a Câmara Municipal de Manaus (CMM), ele ficou 15 meses nessa função, portanto, não há nenhum ato que desabone a conduta do Marcelo. O Supremo decidiu que é possível nomear o filho, a esposa, irmãos para cargos de secretário. Mas, o que eu acho interessante é que em relação a mim fazem uma confusão por conta do Marcelo, na época sete programas de televisão batiam em mim todos os dias por esse mesmo assunto. Se olharmos a história, vários governadores, prefeitos nomearam vários parentes e ninguém foi tão atacado como eu, na verdade ninguém foi atacado. Mas quando foi o Serafim, a pancadaria veio muito forte. Coisas da política, mas a vida seguiu normalmente.

AMAZONAS 1: Em muitos momentos de seu mandato o senhor criticou algumas propostas relacionadas ao Governo, como os recursos do Fundeb em caixa, o empréstimo do Banco do Brasil e até mesmo problemas com infraestrutura. Como o senhor analisa a atual gestão do Amazonas?

SERAFIM CORRÊA: Eu entendo que por ser marinheiro de primeira viagem, o governador Wilson Lima teve percalços, chamou uma equipe nova, uma equipe que se desencontrou e uma briga explicita com o vice, o que atrapalhou e muito a gestão do governador. As posições que eu adotei são posições de alguém que deseja o melhor para o estado, não creio que seja o melhor para o Amazonas fazer um empréstimo de R$ 1, 5 bilhões, no momento em que o governo tem problemas de arrecadação e isso compromete o futuro do estado como um todo. Em relação ao Fundeb, é um programa para garantir uma remuneração melhor aos servidores. E eu entendo que não vamos melhorar a qualidade do ensino se não qualificarmos e capacitarmos os professores.  

AMAZONAS 1: Nessa semana, Brasília protagonizou uma cerimônia militar, onde o presidente Bolsonaro colocou tanques e blindados nas ruas. O senhor chegou a analisar e fazer referência a época da ditadura. Como o senhor relaciona os ataques do atual Governo Federal ao Congresso, a época da censura política?

SERAFIM CORRÊA: Há uma tentativa do governo federal de usar os mesmos métodos que foram usados na Ditatura Militar. Em 1984, o presidente João Figueiredo e o comandante militar do Planalto Nilton Cruz, decretaram medidas de emergência. Tanques vieram para as ruas, em Brasília, e o general Cruz, montado em um cavalo branco, fez espetáculo de exibicionismo para constranger o Congresso. O Congresso se ajoelhou e não aprovou as Diretas Já, mas abriu caminho para eleição indireta com Tancredo Neves e José Sarney e o Brasil vive uma democracia por 33 anos, uma democracia que custou muitas vidas. Agora, nós temos um mal militar que tenta retomar o período da ditadura. Com a rejeição do voto impresso, continuaremos tendo eleições limpas e transparentes, sem nenhum indício de fraude.

AMAZONAS 1: O cenário político começa a se aquecer para as eleições gerais do ano que vem. Com isso, alguns nomes como Amazonino Mendes, Eduardo Braga e Wilson Lima já aparecem como possíveis candidatos para governo do Amazonas. O senhor acredita que o estado precisa de uma renovação política ao invés de apostar em nomes antigos que já estiveram no poder?

SERAFIM CORRÊA: Nós vivemos a renovação política em 2018 e o que vai acontecer em 2022 eu não sei. Eu entendo que as eleições estarão ligadas mais do nunca nas eleições nacionais. A população só faz o certo, nós políticos temos que vê porque qual motivo ela escolheu isso ou aquilo. Em 2022, vamos viver uma eleição com o caminho para a democracia ou o caminho para o golpe, Bolsonaro vai representar o caminho do golpe, vai ter o candidato da democracia, alguns partidos estudam uma terceira via, se ela vai emplacar eu não sei. Hoje temos uma bipolaridade, Bolsonaro e Lula, pode surgir um terceiro candidato. Vamos dar tempo ao tempo, esperar para ver qual cenário irá se formar.  

AMAZONAS 1: Nesta semana Câmara dos Deputados aprovou o retorno das coligações para as eleições proporcionais. Como o senhor analisa esse retorno? E como as coligações podem colaborar com a reforma do PSB que o senhor mencionou em 2019? Em que pé está a reforma da sigla?

SERAFIM CORRÊA: O PSB vai discutir o que vai fazer no ano que vem, somente no ano que vem. Eu gostaria que não tivesse coligação, mas na votação da Câmara nós estávamos entre o distritão e as coligações. As coligações é um mal menor, ela não é boa e permite um leque amplo de partido, que dificulta a governabilidade. Já a auto reforma que tem sido debatida desde 2019, será oficializada em abril de 2022, vamos atualizar o manifesto, trazê-lo para contemporaneidade.

AMAZONAS 1: A Assembleia Legislativa caminha para seu último ano de legislatura antes da eleição de 2022. Em quatro anos de trabalho, como a maior parte dos deputados estaduais ligados a base de aliados do Governo, como o senhor analisa a atual legislatura da Casa?

SERAFIM CORRÊA: Teves momentos de pró atividade, recuo, confronto e entendimento. Eu sou a favor sempre do entendimento, paz e amor, acredito que cada um deve respeitar o seu quadrado, mas em alguns momentos o Governo do Estado quis avançar no quadrado da Assembleia. A Casa Legislativa soube se unir para que isso não acontecesse. Vamos ver como tudo se comporta daqui para frente, hoje vivemos um momento de calmaria e respeito entre os poderes.

Acompanhe em tempo real por meio das nossas redes sociais: facebook, instagram e twitter.