Manaus, 10 de maio de 2024
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Manaus, 10 de maio de 2024

Cidades

Amazonas é reincidente em assassinato de mulheres estrangeiras

O assassinato da Venezuela Julieta Hernández não foi um caso isolado. Em 2017, a canoísta britânica Emma Kelty também foi morta no Amazonas enquanto viajava sozinha.

Amazonas é reincidente em assassinato de mulheres estrangeiras

Julieta e Emma viajavam sozinhas quando foram assassinadas - (Foto: Reprodução: Redes sociais/Canva/ MTUR))

Manaus (AM) – O assassinato brutal da artista venezuelana Julieta Hernández não foi o primeiro caso envolvendo mulher estrangeira registrado no Amazonas. Em 2017, a canoísta britânica Emma Kelty, que também viajava sozinha, foi morta no município de Coari.

Os casos confirmam o ranking Women Danger Index, criado por duas jornalistas americanas em 2019, que aponta o Brasil como o segundo lugar mais perigoso para mulheres viajarem sozinhas. O país só perde para a África do Sul e aparece na frente de países com péssima fama no que diz respeito ao direito e segurança das mulheres, como Irã, Egito e Marrocos.

Para a especialista em direitos humanos Mariana Torres, os assassinatos de mulheres no Amazonas, especialmente aquelas que viajam sozinhas, representam uma violação dos direitos fundamentais, como, por exemplo, o da liberdade. Ela ressalta a necessidade de uma abordagem que não apenas responsabilize os criminosos, mas também aborde as causas profundas dessa violência sistêmica.

“A violência contra mulheres que viajam sozinhas não é apenas uma tragédia individual, é um sintoma de questões mais amplas relacionadas à justiça social e igualdade de gêneros. É necessário abordar essas questões não apenas como problemas isolados, mas como parte de um sistema mais amplo que requer mudanças profundas e sistêmicas. Essa falta de segurança é preocupante”, alerta.

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Emma viajava pelo Amazonas em um caiaque – Foto: Divulgação/rede sociais

No caso de Emma, ela fazia uma viagem em um caiaque pelo rio Amazonas. A jornada começou no Peru e foi interrompida de forma brutal em Coari, após ser vítima de “piratas dos rios”. O grupo matou a britânica e roubou alguns objetos pessoais dela. A vítima, conforme a polícia, também foi estuprada e teve o corpo jogado no rio.

Ao todo, seis homens participaram do assassinato, mas apenas dois deles foram acusados formalmente da morte da atleta. Arthur Gomes da Silva foi condenado a 32 anos de prisão pelo assassinato. O outro acusado, Jardel Pinheiro Gomes, morreu em 2020.

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Sete anos após a morte de Emma, infelizmente, uma história parecida ganha novamente os noticiários, mostrando ao mundo a falta de segurança no Amazonas, principalmente para mulheres. O assassinato de Julieta Hernández também ganhou destaque internacional.

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O caiaque de Emma foi encontrado pela polícia – Foto: Divulgação/polícia

Conforme a Polícia Civil, antes de ser morta, a venezuelana foi agredida, amarrada e estuprada. O corpo dela foi enterrado em uma rasa. Julieta chegou ao Brasil em julho de 2016 e estava há quatro anos viajando de bicicleta.

No dia 23 de dezembro de 2023, Julieta chegou em Presidente Figueiredo, cidade turística, na zona metropolitana de Manaus, em busca somente de um local para descansar e seguir viagem no outro dia, mas acabou sendo vítima do casal Deliomara dos Anjos Santos, 29, e Thiago Agles da Silva, 32, preso no dia 5 deste mês e autuado por ocultação de cadáver, latrocínio e estupro.

A socióloga Silvana Araújo destaca que a violência contra mulheres que viajam sozinhas não é apenas um problema individual, mas reflete estruturas sociais mais amplas, enraizadas em desigualdades de gênero e padrões culturais que perpetuam a vulnerabilidade feminina.

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A morte de Julieta causou grande comoção – Foto: Divulgação/rede sociais

“Para combater esses assassinatos, é necessário um esforço coordenado que inclua políticas públicas eficazes, investimento em infraestrutura, aumento da presença policial e, fundamentalmente, uma mudança cultural. É crucial desafiar as normas que perpetuam a desigualdade de gênero e promover uma sociedade em que todas as mulheres possam exercer seu direito de viajar sem medo”, pontua a socióloga, acrescentando que as mortes dessas mulheres servem como um lembrete sombrio de que ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que todas as mulheres possam viajar e viver com segurança.

Ainda sobre o contexto de vítimas estrangerias, outro caso ganhou grande repercussão. A também venezuelana Yeimy Yenileth Vargas Rodríguez, 27 anos, foi assassinada a facadas, dentro da própria casa, bairro Mauazinho, Zona Leste de Manaus, em julho de 2022. O assassino era amigo da vítima e matou para roubar dinheiro que ela guardava em casa, que seria usado para trazer a folha dela da Venezuela para o Brasil, segundo a polícia.

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Yeimy Yenileth tinha o sonho de trazer a filha para o Amazonas – Foto: Divulgação

Dados de violência contra mulher

Em 2023, o Amazonas registrou 22 casos de feminicídios, aponta o Painel de Indicadores Criminais, da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM). Quando falamos de agressões, a situação fica até mais complicada com 3.893 registros. Estupros foram 108.

Uma das vítimas de feminicídio foi Camila Vitória Friths da Silva, de 25 anos. Ela foi morta pelo próprio marido, um soldado da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM), em um condomínio, no bairro Lago Azul, Zona Norte da cidade.  Segundo vizinhos do casal, o policial militar era conhecido por agredir a vítima.

Polícia

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) para saber as possíveis medidas que serão tomadas para evitar violências contra mulheres no interior do estado, levando em consideração os assassinatos de estrangeiras que viajam sozinhas, mas as instituições não responderam até a publicação desta matéria.

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