Manaus, 4 de maio de 2024
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Cenário

Ambientalista e especialista reagem às críticas de Plínio sobre a COP em Belém

Plínio criticou a COP 30 na Amazônia por acreditar que o evento é encontro de ricaços e não vai dar em nada.

Ambientalista e especialista reagem às críticas de Plínio sobre a COP em Belém

Foto: Nilmar Lage/Greenpeace

Manaus (AM) – A declaração do senador Plínio Valério (PSDB-AM) sobre a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP-30, que será realizada em Belém, no Pará, em 2025; não agradou ambientalistas e especialistas — que reagiram às declarações.

O senador afirmou que a COP-30 não trará nada de concreto para a floresta Amazônica. Para ele, os resultados serão “superficiais, ineficazes e repetitivos”, da mesma forma que, a seu ver, foram as conferências do clima em anos anteriores.

Plínio afirma que não vai participar da COP, pois se recusa “ser fantoche, menino de recado, plateia para aplaudir essas COPs, que nada de concreto trazem para nós. E essa, como as outras, não vai trazer, é tudo teatro”, afirmou.

“São verdadeiros encontros de ricaços que acham que podem ditar normas e delegar obrigações. Infelizmente, a superficialidade e a hipocrisia não se limitam a questões estéticas e a essas reuniões festivas, mas se estendem ao mais importante, que é o resultado concreto das conferências. Depois de promover essa peça teatral, cada um vai pegar o seu jato de volta ao seu país, ao conforto dos seus lares”, disse Plínio Valério.

O cientista político Helso Ribeiro declarou que, apesar de ter uma grande estima pelo senador, discorda da declaração. Segundo ele, a conferência não é feita por ricaços, como disse Plínio Valério.

“Os ricaços são os donos das grandes empresas Petrolíferas, esses não participam da COP, pois a conferência é feita pela ONU e dela participam estudiosos, universidades, pessoas que querem debater o clima”, disse Helso, acrescentando que superficial e ineficaz é passar a boiada como sugeriu o ex-ministro do governo Bolsonaro, Ricardo Salles.

“Tem gente que tem raiva da ONU, tem raiva de organizações não governamentais que trabalham para melhorar o clima no planeta, aí quem tem raiva vai ser contra a COP. É bom lembrar que tudo começou com a ECO-92, realizado no Rio de Janeiro. E a partir daí foram se desenvolvendo debates”, afirmou.

Diferente do pensamento de Plínio, Helso acredita que a COP será um momento interessante para o Brasil. Entretanto, segundo ele, o que ocorre é que, muitas vezes, fica muita promessa e pouca prática. “O que a gente deve lutar é para que as promessas se transformem em prática, mas se ninguém discute é pior ainda”, finalizou.

Outro que discorda do posicionamento de Plínio Valério é o ambientalista e presidente da ONG Mata Viva, Jó Farah, que cuida do igarapé Água Branca — o último com água limpa de Manaus.

“Não entendo como um parlamentar da Amazônia pode ser contra um evento como esse que vai gerar renda, ocupação, e vai colocar a Amazônia no foco do mundo e o Brasil em destaque. Várias pessoas de fora vão conhecer a realidade amazônica. E por mais que não aconteça nenhum tipo de resultado positivo, uma vez que ele (Plínio) disse que as outras COPs e os outros eventos climáticos em nível mundial não surtiram resultado, se isso aconteceu não foi por culpa do Brasil e nem por culpa do Pará, é por culpa de um pensamento mundial que está inerte aos problemas realmente graves que nós passamos hoje com as mudanças climáticas”, pontuou.

Sobre a afirmação do senador que a COP não dará resultado, segundo Jó Farah, não é motivo para parar de discutir o assunto. “Precisamos continuar discutindo, continuar criando novos mecanismos para enfrentar esse problema. E quando a gente tira da Amazônia uma COP, a gente tira da Amazônia a oportunidade de falar e mostrar como estamos, como vivemos, qual é a nossa realidade, pois são líderes mundiais que decidem e que podem mudar os rumos do meio ambiente”, disse.

Por conta disso, o ambientalista afirma que não concorda com a posição de Plínio, pois avalia que a COP será um evento extremamente importante. Inclusive, ele adiantou que a equipe da ONG Mata Viva pretende participar do evento, para mostrar um pouco do que vem sendo desenvolvido em Manaus, para preservar o igarapé da Água Branca.

O que é tratado na COP?

A Conferência do Clima da ONU é o maior evento do mundo dentro dessa temática. Na reunião, chefes de Estado e de governo, pesquisadores, ambientalistas e empresários discutem medidas de enfrentamento às mudanças climáticas e que amenizem os impactos já sentidos.

Os países revisam seus planos climáticos e mostram como planejam implementar o que foi discutido e firmado nas edições anteriores a fim de criar um programa de trabalho relacionado à redução dos gases. Para a COP no Brasil, será criado.

Desmatamento

Uma das grandes discussões das COPs, e não será diferente na edição de 2025 no Brasil, é sobre o aumento do desmatamento da Amazônia.

Conforme o levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a derrubada da floresta amazônica teve uma queda de 36% no primeiro quadrimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2022. Porém, isso ainda não foi suficiente para tirar 2023 do pódio das maiores áreas desmatadas de janeiro a abril, em 16 anos.

(Foto: Divulgação/Imazon)

Conforme o monitoramento por satélite do Imazon, a destruição acumulada no período chegou aos 1.203 km², a terceira maior desde 2008, quando a medição foi implantada. Este ano só não teve os piores primeiros quadrimestres do que 2021 e 2022, quando a devastação aumentou expressivamente na região.

O Amazonas segue como um dos três estados com as maiores áreas derrubadas na Amazônia. De janeiro a abril deste ano, o Amazonas devastou 272 km² de floresta, ficando atrás somente de Mato Grosso, que registrou 400 km².

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