Manaus, 3 de maio de 2024
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Manaus, 3 de maio de 2024

Brasil

‘Basta de negacionismo’, diz Lula ao premiar cientistas vetados por Bolsonaro

Um dos condecorados é Marcus Lacerda, infectologista da Fiocruz Amazônia e líder do primeiro estudo do mundo a demonstrar a ineficácia da cloroquina contra a Covid-19.

‘Basta de negacionismo’, diz Lula ao premiar cientistas vetados por Bolsonaro

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Brasília (DF) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, condecoraram nesta quarta-feira (12) com a Ordem Nacional do Mérito Cientifico pesquisadores, professores, autoridades e representantes de entidades que prestaram relevantes contribuições ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional.

Entre os agraciados, estão a médica sanitarista e atual diretora da Fiocruz, Adele Benzaken, e o infectologista Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, além do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão. Adele e Lacerda já tinham recebido a condecoração, que foi revogada no governo passado, após críticas dos dois médicos à gestão federal.

Na época, em solidariedade aos dois profissionais, 21 cientistas renunciaram às próprias condecorações. O grupo também foi agraciado nesta quarta-feira, durante o evento, realizado no Palácio do Planalto.

Marcus Lacerda é infectologista da Fiocruz Amazônia e líder do primeiro estudo do mundo a demonstrar a ineficácia da cloroquina contra a Covid-19. Na época, ele precisou andar com escolta armada por conta de ameaças de morte porque o estudo indicou que o medicamento não apenas era ineficaz como poderia apresentar riscos aos pacientes infectados pelo novo coronavírus.

Já Ricardo Galvão foi exonerado da presidência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em agosto de 2019, após rebater as declarações de Bolsonaro, que acusou a entidade de divulgar dados sobre o aumento do desmatamento na Amazônia que o então presidente considerou “mentirosos” .

“Basta de negacionismo”

Lula destacou que a retomada dos trabalhos do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e a convocação da 5ª Conferência Nacional marcam o início de um novo período. “Chega de obscurantismo. Basta de negacionismo. Chega de jogar cientistas à fogueira. Basta de testemunhar pesquisadores como Ricardo Galvão perdendo seu cargo por mostrar o que os satélites registravam”, afirmou.

Marcado pela retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, cuja reformulação e consequente ampliação já havia sido anunciada, no evento, Lula também assinou o decreto de convocação da 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, prevista para junho de 2024, em Brasília. Além disso, a ministra Luciana Santos assinou a portaria que oficializa a nomeação do ex-ministro Sérgio Rezende como secretário da conferência. Segundo a ministra, os preparativos para a conferência já estão em curso.

Lula cumprimenta Adele Benzaken, que recuperou condecoração revogada na gestão passada – (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Luciana Santos comemorou a recomposição do conselho nacional, com a ampliação do número de representantes da sociedade civil e do governo federal, e disse que a solenidade desta manhã foi um “ato de desagravo à ciência e de reparação histórica aos cientistas, professores, médicos e pesquisadores injustamente perseguidos e ameaçados por um governo anticiência e antivida”. “Podemos dizer que o tempo do negacionismo, do desprezo pelos instrumentos de participação social e de ameaça à democracia acabou”, afirmou a ministra.

União

O presidente disse que desenvolvimento sustentável e desenvolvimento científico caminham juntos e defendeu mais investimentos em pesquisa científica. Lula prometeu construir mais universidades federais e destacou a importância da redução das desigualdades sociais. “Não adianta ficarmos olhando o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no país] se o resultado não é distribuído equitativamente entre a população. Se você cresce 1% e distribui este 1%, vale mais que crescer 10% e não distribuí-los […] E não há como pensarmos em crescer, em retomarmos a indústria, em produzirmos mais no campo, se não pensarmos em ciência. Não há como pensarmos em reduzir as desigualdades sem pensarmos em ciência. “

Por fim, o presidente lembrou o caso do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina Luiz Carlos Cancellier. Suspeito de desvio de dinheiro público, Cancellier chegou a ser detido pela Polícia Federal em setembro de 2017. Afastado do cargo, Cancellier foi proibido de entrar na universidade em que trabalhava há anos. Poucos dias após a deflagração da Operação Ouvidos Moucos, um desdobramento da Operação Lava Jato, o ex-reitor se suicidou. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) arquivou o processo por não ter encontrado qualquer indício de irregularidade cometida durante a gestão de Cancellier.

“Neste momento em que estamos reunidos com a inteligência brasileira, com nossos cientistas e pesquisadores, não podemos esquecer do nosso companheiro, o ex-reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier. Sempre que pudermos, temos que lembrar das pessoas vítimas do arbítrio. Para que esta insanidade nunca mais aconteça no nosso país”, disse Lula.

(*) Com informações da Agência Brasil

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