Manaus, 6 de maio de 2024
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Manaus, 6 de maio de 2024

Brasil

Bonecas achadas no lixo viram novos brinquedos durante a pandemia

Em 2020, as artesãs chegaram a restaurar e distribuir mais de 500 brinquedos. Bonecas que iriam para o lixo ganharam nova 'vida' com as artesãs

Bonecas achadas no lixo viram novos brinquedos durante a pandemia

Fotos: Divulgação/Prefeitura de Cordeirópolis

Cordeirópolis (SP) – Por 13 anos, Jeiza Santos, 64, levou para a neta bonecas que encontrava no centro de reciclagem da Cooperativa Eldorado, de Cordeirópolis (SP), onde recolhe e separa há 17 anos o lixo reutilizável da cidade.

A menina cresceu e, no ano passado, ao completar 14 anos, passou a recusar os presentes, agora considerados por ela infantis. “Quando minha neta era criança, eu levava essas bonecas para ela brincar”, disse.

Sem saber mais para onde levar os brinquedos – em sua maioria bonecas – que achava no lixo, ela procurou ajuda da prefeitura. Foi quando a cidade, a 160 km de São Paulo, ganhou uma nova fonte de brinquedos para doação durante a pandemia.

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Os itens que Jeiza encontrava passaram a ser enviados às crianças da cidade, impedidas de frequentar a sala de brinquedos do Centro de Convivência da cidade em razão das medidas de restrição para frear a contaminação pelo novo coronavírus.

Com os achados de Jeiza, a distribuição que seria limitada ao Natal passou a ocorrer ao longo de 2021. Os novos destinos dos brinquedos encontrados no lixo de Cordeirópolis fez com que uma nova ideia surgisse: a restauração de bonecas danificadas.

Duas mulheres que realizavam trabalhos artesanais com a comunidade, inclusive com a confecção de máscaras para doação durante a pandemia, foram chamadas para participar do projeto.

Processo

Com cuidado, Jeiza separa, higieniza, retira as marcas de tinta das bonecas e as entrega nas mãos das artesãs e costureiras Sônia da Silva, 62 e Marilene Santos, 60. Elas consertam os corpos de pano e fazem as novas roupas.

Quando as recebem, todos os detalhes são observados. Algumas precisam de um ajuste no braço, outras na barriga ou pernas, e com um tempo na máquina de costura, ficam em boas condições. “Todas as bonecas recebem o mesmo tratamento: banho, corte de cabelo, penteado e figurino novo”, explica Sônia.

A idade avançada e a vista cansada pelo tempo não são empecilhos. Nada atrapalha o carinho que elas têm com cada boneca e pelas crianças que, com um sorriso, agradecem pelo ato de bondade.

Coisa de família

Quando foi convidada, Sônia já tinha um passado relacionado à restauração de bonecas.

Sua mãe, Iracema Maria Rosa, 95, no caminho que faziam para pescar, recolhia partes de bonecas que eram jogadas no lixo para montar e dar às netas. A iniciativa a ajudou a aliviar a depressão dela, segundo a filha.

“Eu tive uma infância difícil, já nasci adulta. Nós não tínhamos dinheiro, então minha mãe fazia bonecas com restos de pano velho. Por isso eu vejo a importância desse trabalho coletivo que fazemos e do brinquedo na vida de uma criança”, constatou.

Segundo Marilene, nunca houve tempo para brincar muito. Na Bahia onde cresceu, com 11 anos, cuidava de seis sobrinhos. A primeira boneca que teve foi encontrada no lixo.

Desde o final do ano passado, elas realizam os trabalhos de coleta e restauração e depois as doam para crianças carentes. Entre dezembro e janeiro, foram cerca de 500 bonecas. A ação não se limitou às festividades e segue em curso neste ano, com apoio da prefeitura.

Além das doações, os brinquedos também devem voltar a encher o Centro de Convivência, quando as restrições em razão da pandemia acabarem. A prefeitura também pensa em uma campanha de sustentabilidade para incentivar a população a não jogar os brinquedos fora, e em vez disso, doar para o projeto.

“Nós queremos expandir o projeto, começar a restaurar outros brinquedos que acabam no lixo, além das bonecas”, afirmou Marilene.

*Com informações da Folhapress.