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Cabral diz ter articulado supostas compras de ministros do STJ e TCU

Em três anexos, que fazem parte do conteúdo da delação, Cabral conta como teria feito para Orlando conseguir favoráveis decisões judiciais que o mantivessem no cargo

Cabral diz ter articulado supostas compras de ministros do STJ e TCU

(Foto: Divulgação)

BRASÍLIA, DF – Em acordo de delação premiada com a Polícia Federal, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral revelou ter articulado supostos subornos a ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Tribunal de Contas da União (TCU) para ajudar, em 2015, o empresário e então Orlando Diniz, à época presidente da Fecomércio, Senac e Sesc-RJ.

Em três anexos, que fazem parte do conteúdo da delação, Cabral conta como teria feito para Orlando conseguir favoráveis decisões judiciais que o mantivessem no cargo e, com isso, teria impedido a continuação das investigações conduzidas pelo TCU.  Em notas enviadas à CNN, os citados por Cabral negam as participações nos crimes.

Leia mais: Sérgio Cabral é condenado a mais 10 anos de prisão por crimes da Lava Jato

O ex-governador do Rio de Janeiro foi ouvido aproximadamente 10 vezes por dois delegados na Superintendência da Polícia Federal do Rio. Os relatos ensejaram a abertura de 19 inquéritos – sendo 12 arquivados pelo ministro Dias Toffoli, em agosto de 2020, em sua última semana na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). A CNN teve acesso a parte do material que foi revelado por Cabral à PF.

Ao longo dos relatórios 4, 5 e 6, Cabral admite a trama que teria montado para, supostamente, blindar Diniz. O conteúdo faz parte do relatório da PF nº 96, no qual os investigadores tiveram como “objetivo concluir a coerência e verossimilhança das narrativas”, como destaca um dos delegados.

Para levar adiante a possibilidade da delação, antes, os policiais verificaram todo o material apresentado por Cabral e o confrontaram com provas de outros casos relacionados. E apesar de os conteúdos da delação do ex-governador terem sido descartados pelo STF, a PF tem outro entendimento.

Os agentes alegam terem encontrado “coincidências” nas duas delações – de Cabral e de Diniz: o plano envolveria escritórios de advocacia porque assim o dinheiro seria disfarçado em honorários, o objetivo do esquema seria impedir o afastamento de Diniz do cargo ebarrar as investigações. Além disso, os mesmos supostos escritórios envolvidos foram citados nas deleções de Cabral e de Diniz.

Sobre o envolvimento do STJ

De acordo com o relato de Cabral à PF, por suspeitas de fraudes em contratos do Sistema S Fluminense (Fecomércio, Senac e Sesc-RJ), Orlando Diniz ainda não havia conseguido voltar ao comando do Sesc-RJ, afastado em maio de 2014. Ele teria procurado o ex-governador no final do mesmo ano e, supostamente, pedido ajuda do amigo para obter essa recondução, pois, segundo Diniz, o Sesc-RJ era “a fonte mais expressiva de recursos”.

Ainda conforme o relatado por Cabral, meses depois ele teria participado de um jantar na casa de Cesar Asfor, quando afirma ter ouvido sobre a decisão de Napoleão: “quanto a ele eu resolvo, ele é meu irmão e parceiro”. Tiago, que seria amigo do também advogado Caio Rocha, filho Cesar Asfor, estaria no evento.

“Após o jantar na casa de Cesar Asfor, o colaborador [Sergio Cabral], Caio Rocha e Tiago Cedraz se reuniram para combinar os valores nessa operação de auxílio a Orlando Diniz. Ficou acertado o valor de R$ 6,5 milhões para comprar a decisão de Napoleão Maia para o retorno de Orlando ao comando do Sesc-RJ. Logo após Cabral recebeu Caio Rocha em sua residência e Caio expôs sua preocupação de formalizar o contrato de prestação de serviços com a Fecomércio – pois suas manobras já estavam desgastadas e sugeriu a interposição de um escritório para o recebimento de seus valores. Foi indicado o escritório de uma pessoa muito próxima de um sócio de Adriana Ancelmo”, descrevem os investigadores no relatório policial.

“Após o jantar na casa de Cesar Asfor, o colaborador [Sergio Cabral], Caio Rocha e Tiago Cedraz se reuniram para combinar os valores nessa operação de auxílio a Orlando Diniz. Ficou acertado o valor de R$ 6,5 milhões para comprar a decisão de Napoleão Maia para o retorno de Orlando ao comando do Sesc-RJ”, Relatório da Polícia Federal.

Os registros das passagens áreas de Cabral e Adriana e da hospedagem no hotel também foram entregues à PF pela defesa de Cabral. Na operação Calicute, em 2016, três anos antes de Cabral imaginar fazer o acordo de delação premiada, os agentes federais apreenderam uma agenda de cor cinza do ano de 2015, em que consta a seguinte anotação no dia 24 de outubro de 2015: Jantar Ministro Cesar Asfor.

Sobre o envolvimento do TCU

Cabral descreve como escritórios de advogados ligados a membros do TCU foram, supostamente, usados para receber propina e, assim, segundo o ex-governador do Rio, atender aos interesses de Orlando Diniz no Sistema S. Isso garantiu, conforme relatou Cabral à PF, “vista grossa” dos ministros na hora de analisar como o Rio estava usando recursos federais em megaempreendimentos do governo do estado.

No esquema, segundo o ex-governador do Rio, teriam sido usados o escritório do filho do Aroldo Cedraz, membro do Tribunal de Contas da União desde 2007, e de Marcelo Nobre, responsável por operacionalizar a propina.

Era Tiago Cedraz, de acordo com a narrativa de Cabral, “o caminho para resolver os abacaxis do governo do Rio no TCU”. Quem os teria apresentado foi o também ex-governador do Rio Luiz Fernando Pezão, em 2007, em uma reunião na cidade de Piraí, terra natal de Pezão.

Cabral afirma que a amizade teria durado tanto quanto os repasses mensais de quase R$ 300 mil para Cedraz, supostamente, distribuir no TCU – o que segundo Cabral, seria uma forma de fazer o Tribunal ser benevolente ao analisar os recursos federais em obras como o PAC e o Arco Metropolitano.

 

 

*Com informações da CNN Brasil