Manaus, 29 de março de 2024
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Manaus, 29 de março de 2024

Brasil

‘Carta da Monique é uma peça de ficção’, diz advogado do vereador Jairinho

Texto de 29 páginas que a mãe de Henry mandou aos seus advogados mudando de versão e dizendo que foi acordada pelo ex-namorado quando seu filho já estava desacordado

‘Carta da Monique é uma peça de ficção’, diz advogado do vereador Jairinho

Foto: Reprodução TV Globo

RIO DE JANEIRO, RJ – O advogado do vereador Dr. Jairinho afirmou que a carta escrita na prisão pela mãe do menino Henry Borel, 4, o acusando de dopá-la na noite em que seu filho morreu é uma peça de ficção. O político deve ter processo de cassação aberto nesta segunda (26) pelo Conselho de Ética da Câmera Municipal.

“Sem falar sobre a tese da defesa, o que somente farei após a denúncia, posso adiantar que a carta da Monique é uma peça de ficção, que não encontra apoio algum nos elementos de prova carreados aos autos”, disse Braz Sant’Anna em mensagem à reportagem.

Neste domingo (25), o Fantástico, da TV Globo, divulgou um texto de 29 páginas que a professora Monique Medeiros mandou aos seus advogados mudando de versão e dizendo que foi acordada pelo ex-namorado quando o menino já estava desacordado na cama.

Ela narra que naquela magrugada do dia 8 de março colocou o filho para dormir após ele acordar três vezes. Quando o casal se cansou de assistir a uma série, por volta da 1h30, o vereador disse para irem para um dos quartos deitar.

Ela afirma que o político então “ligou a televisão num canal qualquer, baixinho, ligou o ar condicionado, me deu dois medicamentos que estava acostumado a me dar, pois dizia que eu dormia melhor, mas eu não o vi tomando. Logo, eu adormeci”.

“De madrugada, ele me acordou dizendo para eu ir até o quarto, que ele pegou o Henry no chão, o colocou na cama e que meu filho estava respirando mal. Fui correndo até o quarto, meu filho estava de barriga pra cima, descoberto, com a boca aberta, olhos olhando para o nada, e pensei que tivesse desmaiado”, prossegue.

Em seu primeiro depoimento, em meados de março, a professora havia dito que ela tinha visto o menino caído no chão primeiro, chamando Jairinho, que era quem teria tomado remédios para dormir.

Monique diz que mentiu anteriormente porque foi orientada: “Fui treinada por dias para contar uma versão mentirosa por me convencerem de que eu não teria como pagar por um advogado de defesa e que eu deveria proteger o Jairinho, já que ele se diz inocente”, afirma.

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A educadora também relata diversos episódios de ciúmes e de um relacionamento abusivo com Jairinho, ainda segundo o Fantástico. No caso mais grave, em dezembro de 2020, ela narra que chegou a ser enforcada pelo vereador porque não havia atendido uma ligação dele.

Ela o acusa de ter invadido a casa de sua família em Bangu (zona oeste carioca). “Lembro de ser acordada no meio da madrugada, sendo enforcada enquanto eu dormia na cama ao lado do meu filho… Quase sem ar, ele jogou telefone em cima de mim, perguntando, me xingando e me ofendendo […] No dia seguinte ele pediu desculpas, disse que me amava muito.”

Monique afirma que Jairinho ligava ao menos 20 vezes por dia, colocou um localizador em seu celular, sempre pedia que ela mandasse fotos e teria até colocado pessoas para segui-la quando ia à academia. Alega que começou a ter crises de ansiedade e que ele lhe receitou ansiolítico e remédio para dormir.

Ela relata que começou a notar que nas suas taças de vinho “sempre havia um ‘pozinho’ branco no fundo […]. Um dia fui ao banheiro e quando voltei, peguei ele macerando um comprimido dentro da minha taça”. Em certa ocasião, conta que tentou se trancar no quarto, mas que ele veio atrás e a jogou na cama.

Monique escreve ainda que tentava “a todo custo” se desvincular do político, mas ele a ameaçava e a seus familiares: “Eu não sabia, mas estava sendo manipulada durante todo o tempo em um relacionamento que me oprimia e eu não sabia como sair. Meus pais são pessoas boas, humildes, com caráter, mas não têm outro lugar para ficar. Temo pela vida deles!”.

Cita também a influência que ele tinha. “Jairinho emprega mais de uma centena de pessoas, é influente, conhece as pessoas mais ricas dessa cidade, têm informações privilegiadas e comandam muita coisa em nosso bairro.”

À Globo, os advogados da professora afirmaram que ela está contando essa nova versão só agora porque nunca estava sozinha. “A Monique a todo momento sempre estava com alguém, nunca esteve sozinha, no sentido de ter a liberdade de poder falar aquilo que ela teria a dizer, precisava dizer”, declarou Thiago Minagé.

A defesa pede há mais de uma semana que ela seja ouvida novamente no inquérito, que ainda não foi concluído porque se aguarda a perícia nos celulares de Jairinho, mas o delegado Antenor Lopes, diretor do DGPC (Departamento-Geral de Polícia da Capital), indicou recentemente que já tem elementos suficientes para encerrar as investigações.

Desde a primeira entrevista coletiva no dia da prisão do casal, a polícia tem dito que até agora não há indícios de que Monique estivesse sendo ameaçada pelo ex-namorado e que eles pareciam estar unidos. Monique escreveu a carta de dentro do Hospital Penitenciário em Bangu, onde está internada com Covid-19.

(*) Com informações Folhapress