Manaus, 4 de maio de 2024
×
Manaus, 4 de maio de 2024

Cidades

Lockdown pode deter a covid-19? Veja o que dizem estudos e especialistas no AM

A palavra em ingês, que significa 'isolamento', já é uma das mais pesquisadas no Google. Mas afinal, o lockdown pode deter o vírus?

Lockdown pode deter a covid-19? Veja o que dizem estudos e especialistas no AM

Município detém o recorde de casos e mortes no estado

MANAUS – Desde o início da pandemia, muito se tem discutido sobre as medidas que podem deter a covid-19. Entre as mais conhecidas e polêmicas está o lockdown. A palavra em inglês, que significa ‘isolamento’, já é uma das mais pesquisadas no Google. Mas afinal, o lockdown pode deter o vírus?

A resposta para essa pergunta é quase unânime entre os cientistas. A medida que vai muito além de uma simples recomendação do governo, pois implica obrigatoriedade, é defendida pela maioria dos especialistas. Segundo o cientista Lucas Ferrante, doutorando do programa de biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a eficiência do lockdown é indiscutível.

“Não se discute mais a eficiência do lockdown no meio científico. Algumas pessoas que tem questionado a eficiência do lockdown não são do meio científico e têm propagado, através de ideologia, um movimento contra o lockdowm. Do ponto de vista científico, ele é extremamente eficiente e isso é um consenso entre os especialistas em coronavírus hoje”, enfatizou.

Saiba mais: Cientistas alertam para 3ª onda da covid-19 no AM: ‘prevemos um resultado ainda pior’

Para o médico infectologista Maurício Borborema, da Fundação de Medicina Tropical (FMT-HVD), também não há o que questionar na medida.

“Não há nenhuma dúvida em relação ao efeito benéfico do lockdown. A gente nunca pode esquecer que a covid-19 é uma doença de transmissão respiratória, então basicamente ela é transmitida pelo contato com as pessoas”, afirmou.

Borborema explica que, apesar de muito se falar em lockdown, ele, de fato, ainda não foi implementado no Brasil. “Nós nunca fizemos lockdown de verdade aqui no Brasil. Nós tivemos algumas medidas de isolamento social, mas lockdown aconteceram em pouquissímos lugares, como Araraquara”, disse.

O médido infectologista enfatiza, ainda, que a medida é realmente extrema e traz consequências econômicas que não devem ser ignoradas, no entanto, essa responsabilidade deveria ser dividida entre as três esferas do governo.

“O problema é que é uma medida extremamente dura para as pessoas, e elas precisam trabalhar. Então, é extremamente importante fazer o lockdown e garantir a sobrevivência das pessoas. Isso deveria ser uma responsabilidade compartilhada em todas as esferas”, disse.

O que dizem os estudos científicos?

Ainda em 2020, um estudo do International Journal of Infectious Diseases analisou as medidas de 190 países entre 23 de janeiro e 13 de abril de 2020, durante a primeira onda da covid-19 pelo mundo. Ele levou em consideração quatro tipos de intervenções não-farmacêuticas (NPI, na sua sigla em inglês) para a redução do coronavírus, são elas: o uso obrigatório de máscara em público; isolamento social ou quarentena; distanciamento social e restrição na mobilidade urbana.

As intervenções mais efetivas foram aquelas feitas com mais de um NPI, especialmente as que incluíram distanciamento social, prática recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde o início da pandemia. Já a intervenção mais comum nos países analisados foi a restrição na mobilidade urbana.

Levando em consideração apenas a quarentena, houve uma diminuição de 10,6% na transmissão da covid-19. Quando combinada com outros NPIs, a redução se intensifica: -17,83% com restrição ao transporte público, -38.58% com distanciamento social e -54.12% juntando os três.

Leia também: Pequenos isolados: o impacto do confinamento na vida das crianças

Com a adição do último NPI,  que é o uso da máscara obrigatória, o número chega a -62.81% na redução no número de novas infecções. “As combinações com mais tipos de NPIs pareceram estar associadas a uma maior diminuição na transmissão da covid-19”, conclui o estudo.

Um segundo estudo, publicado pela revista Science, analisa mais a fundo o impacto do lockdown definitivo em 41 países durante a primeira onda da pandemia. Ele analisou os seguintes NPIs: limitar reuniões a 1.000 pessoas ou menos (-23% de redução das infecções); limitar a 100 pessoas ou menos (-34%); limitar a 10 pessoas ou menos (-42%); fechar alguns negócios (-18%); fechar a maioria dos negócios não essenciais (-27%); fechar escolas e universidades (-38%).

Já o lockdown foi analisado como um efeito adicional sobre todos os outros NPIs, partindo da ideia de que o decreto já engloba as outras restrições mencionadas. Sua diminuição na transmissão, portanto, foi “apenas” -13%.

“Nós descobrimos que emitir um pedido de permanência em casa teve um pequeno efeito quando um país já havia fechado instituições educacionais e negócios não essenciais e havia proibido reuniões”, explicam os pesquisadores.

“Sempre que os países introduziram pedidos de permanência em casa, eles essencialmente sempre implementaram, ou já haviam implementado, todos os outros NPIs neste estudo.”

Resultado contrário

Na contramão desses estudos, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) realizaram um estudo sobre o impacto do isolamento social nas mortes causadas pela Covid-19 e afirmam ter encontrado evidências que a adoção do lockdown poderia estar ligada diretamente ao aumento dos casos.

“Uma comparação entre os óbitos diários do covid-19, projetada a partir dos dados anteriores à implementação das medidas restritivas no Brasil e o número de óbitos efetivamente observados, mostrou que o aumento do isolamento social pode estar diretamente relacionado a 10,5% a mais de óbitos no período de observação”, conclui a pesquisa.

Vacinação em massa

Diante do atual cenário, Borborema destaca que a solução definitiva é mesmo a vacinação em massa da população. “Não tenho dúvidas que para deter a covid somente com a vacinação em massa. A gente precisa de uma grande quantidade de vacinas. É possível negociar, é preciso correr atrás. Infelizmente, a gente não pode só ficar olhando para o retrovisor, lamentando a falta de iniciativa do Governo Federal na compra das vacinas”, concluiu.

Até esta sexta-feira (16), segundo dados parciais do Programa Nacional de Imunização, da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) 495.614 doses da vacina contra a covid-19 foram aplicadas em todo o estado, sendo 383.345 de primeira dose e 112.269 de segunda dose.

*Com informações da Exame