Manaus, AM – A falta de assistência e atenção ao setor do transporte público em Manaus, durante a pandemia de covid-19, gerou consequências graves como uma crise no sistema. Os dados constam no estudo ‘Impactos do Transporte Público do Ônibus provocados pela pandemia da Covid-19’, da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), divulgados nesta semana.
De acordo os dados, Manaus é uma das 24 cidades consultadas que enfrenta uma considerável defasagem entre custos e receitas, além das empresas de transportes entrando em crises financeiras e os funcionários prejudicados pelos salários baixos.
“Os resultados desta nota técnica demonstram a gravidade da situação enfrentada pelo sistema de transporte público por ônibus no Brasil ao longo dos últimos 14 meses. Há uma substancial perda de receita sem a devida adequação dos custos”, diz o estudo da NTU.
“A pandemia provocou uma redução drástica da receita, e o impacto financeiro resultante, somado à ausência de uma medida de socorro emergencial adotada pelo governo federal para a minimização do impacto no equilíbrio econômico-financeiro dos sistemas, ameaça seriamente a continuidade dos serviços e sua existência futura, mesmo depois do retorno à normalidade”.
Em Manaus, não houve paralisação no sistema de transporte público durante a pandemia, mas a frota foi reduzida para coibir a circulação de pessoas e promover o distanciamento social. Por outro lado, pouco foi feito em relação aos serviços sanitários dentro dos coletivos como a disponibilização de álcool em gel e higienização dos veículos por parte da Prefeitura de Manaus, tanto na gestão do ex-prefeito Arthur Neto (PSDB), como na atual, de David Almeida (Avante).
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Os impactos da pandemia no setor, em Manaus, vêm aparecendo ao longo de 2021. Em julho deste ano, funcionários da Açaí Transportes foram surpreendidos ao chegarem à empresa e se depararem com as portas da empresa fechadas. Na ocasião, os rodoviários foram informados de que a concessão da empresa não havia sido renovada com a Prefeitura de Manaus e que todos seriam indenizados.
Agora, rodoviários da Global Green e São Pedro temem que o mesmo aconteça com eles, já que já há indícios de que tais companhias de transporte podem vir a declarar falência. Assim como a Açaí, as duas empresas possuem diversas dívidas milionárias, segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Josenildo Mossoró.
Mas greves e manifestações não ocorrem só na capital amazonense. De acordo com os dados da NTU, houve 283 paralisações (greves, protestos e/ou manifestações) registradas em 93 sistemas, em todo o Brasil.
Além disso, entre os prejuízos, 13 operadoras e 1 consórcio suspenderam as atividades; 3 operadoras, 1 consórcio operacional e 1 sistema BRT-RJ sofreram intervenção na operação; 6 operadoras encerraram suas atividades; 4 operadoras tiveram seus contratos suspensos; além da caducidade do contrato de 1 empresa operadora.
Observa-se também a insatisfação da população com a redução/interrupção da oferta de transporte público e, além disso, a incapacidade do pagamento de salários e benefícios por parte das empresas.
De acordo com a NTU, o prejuízo nesse período é de R$ 16,7 bilhões ao setor do transporte público. “Com demanda em lenta recuperação este ano, oscilando entre 50% e 60% dos níveis pré-pandemia, e com oferta sempre acima dessas médias, variando entre 80% e 100% na maioria dos sistemas, esses seguiram operando com déficits que, somados, alcançaram a absurda marca de R$ 16,7 bilhões até junho de 2021. Um nível de endividamento jamais visto, que colocou todo o setor à beira do colapso”.
Valor pago às empresas
Em agosto, o Portal Amazonas1 mostrou que em seis meses de mandato, o prefeito David Almeida já repassou mais de R$ 100 milhões para as empresas responsáveis pelo transporte público coletivo na capital. De acordo com o Portal da Transparência de Manaus, de janeiro a julho deste ano, já foram pagos R$ 132,5 milhões para nove empresas diferentes na cidade.
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O montante é 69,7% maior do que o que foi pago no mesmo período do ano passado, pouco mais de R$ 78 milhões, na gestão do ex-prefeito Arthur Neto.
Esses recursos milionários são pagos às empresas como uma forma de manter o valor da passagem de ônibus na capital em R$ 3,80 – que se mantém neste custo a quatro anos – e o da meia-passagem em R$ 1,50, que equivale a 38% da inteira.
É importante lembrar que, embora a tarifa que o usuário paga seja de R$ 3,80, além desse valor, as empresas cobram pela passagem mais R$ 1,50, que são pagos pela prefeitura.
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