Manaus, 21 de março de 2025
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Cidades

Cheia do rio Negro avança sem mudanças bruscas; alerta sairá em 28 de março

Eventos climáticos como a seca extrema dos últimos dois anos, que levou o rio Negro a atingir níveis historicamente baixos, levantam dúvidas sobre possíveis mudanças nos padrões de precipitação.

Cheia do rio Negro avança sem mudanças bruscas; alerta sairá em 28 de março

(Foto: Divulgação/SGB)

Manaus (AM) – Historicamente, os meses de março e abril concentram o maior volume de chuvas na Amazônia. No entanto, eventos climáticos recentes, como a seca extrema dos últimos dois anos, que levou o rio Negro a atingir níveis factualmente baixos, levantam dúvidas sobre possíveis mudanças nos padrões de precipitação. Ao Portal AM1, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) informou que o monitoramento do rio, chamado ‘Alerta de Cheia’ será divulgado no dia 28 de março.

Situação atual dos rios na Amazônia

Questionado sobre índices comparativos em relação a anos anteriores, o SGB afirmou que a situação do rio Negro, em Manaus, bem como das bacias dos rios Solimões e Amazonas, permanece dentro da normalidade, com níveis próximos à média histórica. Não há registro de mudanças abruptas.

No último Boletim Hidrológico da Bacia do Amazonas, divulgado na terça-feira (11), o Negro apresentou variações. Nas estações de São Gabriel da Cachoeira e Tapuruquara, houve um declínio médio de 12 cm ao longo da semana. Em Barcelos, o nível do rio oscilou entre elevações e quedas.

Em Manaus, o rio Negro segue em processo de enchente, com uma elevação média diária de 9 cm, atingindo níveis considerados normais para o período, segundo o relatório.

Impacto para as comunidades ribeirinhas

A preocupação com a cheia se acentua devido às mínimas históricas registradas em 2024, quando o rio atingiu 12,66 metros – o menor nível já registrado desde o início do monitoramento em 1902. “A intensificação desses processos naturais – a cheia e a vazante – tem se acentuado”, analisa o SGB. O impacto nas comunidades ribeirinhas é um dos pontos de atenção da organização.

“Nos últimos anos, esses eventos têm se intensificado, com a recorrência de grandes cheias e vazantes (secas) extremas, impactando severamente as comunidades ribeirinhas, indígenas e centros urbanos. Segundo registros da régua fluviométrica de Manaus, que conta com mais de 120 anos de monitoramento, as maiores cheias ocorreram nos anos de 2009, 2012 e 2021.”

Problemas urbanos e áreas de risco

Além das populações ribeirinhas, áreas urbanas também são afetadas pelos eventos climáticos extremos. Nos últimos dias, houve um aumento nas ocorrências de deslizamentos, desmoronamentos e alagamentos em Manaus devido às chuvas torrenciais.

Na última semana, um homem identificado como Josiel Paz Feitosa, de 36 anos, desapareceu após ser levado pela correnteza de um igarapé no bairro Zumbi, na zona Leste de Manaus. A forte chuva que atingiu a capital na terça-feira de Carnaval (4) provocou alagamentos, deslizamentos de terra e desabamentos.

Moradores de áreas de risco são os mais vulneráveis durante os períodos de cheia e vazante. Segundo levantamento do Serviço Geológico, no relatório de 2019, foram identificadas mais de 600 áreas de risco (R3 e R4) em Manaus, sendo as zonas Leste e Norte as mais afetadas.

“Atualmente, o SGB está executando a atualização das áreas de risco de Manaus, com entrega prevista para o final de 2025. No mapeamento de 2019, foram identificadas mais de 600 áreas de risco alto e muito alto (R3 e R4)”, informou o SGB.

Na zona Sul, a mais antiga da capital, os alagamentos são recorrentes devido às cheias do rio Negro. O relatório aponta que, nessa região, 18.876 pessoas vivem em áreas de risco. Entre os bairros mais problemáticos em termos de infraestrutura estão: Educandos, Centro e Petrópolis.

A ausência de políticas públicas e de intervenções estruturais pode ser um dos fatores que explicam o elevado número de áreas de risco, especialmente nas zonas Leste e Norte.

O relatório de 2019 do SGB identificou 22 mil imóveis em áreas vulneráveis na zona Leste. Estima-se que 79.604 pessoas estejam expostas a deslizamentos de terra, inundações e voçorocas, com 31.976 delas em áreas de risco alto ou muito alto.

Apesar de as zonas Oeste, Centro-Oeste e Centro-Sul apresentarem menor incidência de áreas de risco geológico, ainda há um quantitativo expressivo de vulnerabilidade. Nessas regiões, 7.260 imóveis estão em áreas de risco, o que impacta aproximadamente 26.132 pessoas.

 

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