Manaus, 27 de abril de 2024
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Manaus, 27 de abril de 2024

Cidades

Com R$ 70 milhões, prefeito afirma que Barreirinha não tem recursos suficientes

A declaração foi dada em entrevista ao Portal Amazonas 1 nesta quinta-feira

Com R$ 70 milhões, prefeito afirma que Barreirinha não tem recursos suficientes

Fotos: Márcio Silva

BARREIRINHA, AM –  Apesar de a Prefeitura de Barreirinha possuir um orçamento de R$ 70,4 milhões em 2021, o prefeito da cidade, Glênio Seixas (MDB), afirma que não tem recursos suficiente para ajudar a população barreirinhense, que hoje, infelizmente, sofre com suas casas e estabelecimentos comerciais alagados por conta da subida dos rios Andirá e Paraná do Ramos.

A declaração foi dada em entrevista ao Portal Amazonas 1 nesta quinta-feira. Nossa equipe está na cidade para uma série de reportagens, a fim de mostrar a situação caótica do município.

A reportagem do Portal Amazonas1 vem percorrendo a cidade desde a última terça-feira (18) para ver, de perto, a realidade das pessoas que aqui moram. Não é preciso ir muito longe para perceber que somente algumas ruas possuem pontes construídas, enquanto outras viraram um completo rio. É cada um por si e Deus por todos!

Dias atrás, o prefeito Glênio Seixas contratou o Mercadinho Ferreira, localizado em uma das principais ruas de Barreirinha, que também trabalha como loja de ferramentas, para fazer o fornecimento de madeiras com o objetivo de construir as pontes na cidade, pelo valor total de R$ 172 mil. Segundo o próprio gestor, esse carregamento de madeiras está chegando à cidade desde o começo da semana.

“Essas pontes estão sendo feitas. Essa empresa foi contratada para fornecer os materiais. Portanto, ontem, nós recebemos um carregamento. Anteontem, a gente recebeu outro carregamento, a semana inteira estamos recebendo carregamento de madeira. Esse valor não é suficiente para fazer todo esse serviço”, disse.

Mesmo com orçamento milionário do Executivo Municipal e tendo gasto o valor de R$ 172 mil em contrato com o mercadinho para fornecimento de madeiras, o prefeito está pedindo ajuda da Defesa Civil e do governo federal.

“Nós vamos receber, hoje, um sinal do Ministério da Defesa Civil para que a gente possa saber se o Ministério da Defesa Civil vai mandar mais recursos para a gente. Aí sim, vamos fazer mais contratações. Se tiver necessidade, nós vamos fazer mais contratações para que a gente possa fazer os trabalhos”, disse o prefeito, defendendo que o dinheiro atual não é suficiente.

PERRENGUE

Apesar do contrato firmado e do orçamento municipal milionário, as pontes não são insuficientes em quantidade e qualidade.  Maria Pedra, de 67 anos, está com sua casa alagada há dias. Uma de suas filhas, a  mais velha, está morando com ela, porque sua casa também alagou. A idosa conta que a filha tem receio de perder o guarda-roupas, comprado recentemente e um dos poucos móveis que lhe restou.

Viúva e sem filhos homens, Maria Pedra disse que não recebe qualquer ajuda da prefeitura. A burocracia impede que ela consiga algum tipo de auxílio para melhorar suas condições durante a cheia. “Não puderam me dar porque eu recebo a pensão do meu marido […] Já fui três vezes, minha irmã já veio chorando de lá porque pediu o auxílio e não deram […] Nadinha. Passaram aqui fazendo um levantamento, não sei para quê. Não deram nada, nada!”, disse.

Prefeitura não ajudou dona Maria

Sem condições de comprar novas madeiras, dona Maria suspende o assoalho antigo, para reutilizar. “Tinha umas tábuas lá no interior para fazer outro assoalho, aí nós trouxemos aqui. Mas aí, amanhã, já vem tirar de novo para suspender. A gente não tem como comprar!”, desabafou.

CARÊNCIA

Além dos moradores, donos de pequenos estabelecimentos na cidade também não estão recebendo qualquer ajuda do poder público. O comerciante Orlando Araújo, de 46 anos, suspendeu as pontes de madeira dentro da sua loja, pelo menos, umas duas vezes e com recursos próprios.

“Olha, não, sinceramente não […] Ninguém veio aqui procurar fazer um cadastro para alguma linha de crédito, alguma coisa desse modo para ajudar a gente, né. Eu creio que todos nós estamos precisando dessa força”, lamentou.

Mais tarde, Orlando procurou a reportagem, com alegria nos olhos, para dizer que conseguiu um outro ponto comercial, que não está alagado. Ele deverá ficar lá temporariamente até o rio baixar.

“Graças a Deus, fui abençoado! É um ponto do meu irmão aqui, ele me cedeu, pelo menos nessa fase ruim, graças a Deus! É um ponto melhor para trabalhar e agora, bola para frente!”, disse.

Prefeito afirma que não tem dinheiro para fazer todas as marombas

O mesmo descaso acontece com Tony Michiles, de 36 anos, que trabalha como feirante em Barreirinha. Segundo ele, a prefeitura não fez qualquer cadastro de apoio aos moradores ou comerciantes da região.

“Nenhum tipo de benefício ou ajuda, né. Tanto que você vê que nem as pontes foram concluídas, né, imagine ajuda para nós comerciantes e até mesmo para a população. A gente trabalha diariamente, lutando, conseguindo conquistar muitas coisas através do nosso suor, e aqueles que não têm um trabalho ou profissão, que dependem do dia a dia, de limpar um quintal, que agora não têm quintal para limpar […] E esse apoio não está vindo de nenhuma forma. É visível, aqui, que nós estamos precisando de ajuda do Executivo, do Município e não está tendo. Os próprios comerciantes estão unindo forças aí para construir as pontes, né!”, disse.

Tony é outro cidadão de Barreirinha que sente falta da ajuda do prefeito

O PREFEITO NÃO SABE

Durante a entrevista exclusiva com a reportagem do Portal Amazonas1, o prefeito Glênio Seixas demonstrou não ter detalhes sobre a quantidade de pessoas cadastradas nem sobre quantos centímetros o rio já subiu nos últimos dias, passando a “bola” para o coordenador da Defesa Civil do município, Charles Duarte.

“A Defesa Civil pode responder quantas pessoas foram cadastradas. Logo após as interligações das ruas, nós iremos fazer as doações de algumas madeiras, porque nós temos feito algumas doações. Nós estamos priorizando agora as pessoas que têm problema de acessibilidade. Nunca Barreirinha teve uma cheia como essa. Essa cheia de 2021 passou quantos centímetros da cheia de 2009?”, disse o prefeito e direcionando ao coordenador da Defesa Civil, para prosseguir com a fala.

De acordo com o gestor, a diferença entre a cheia de 2009 e a deste ano é de apenas 14 centímetros.

“A maior enchente já registrada foi em 2009. A cota máxima dela foi 9,36 metros. Hoje, nós estamos com uma cota de 9,43 metros. Uma diferença de 14 centímetros a mais da cheia de 2009”, disse Charles Duarte.

Nesta sexta, (21), a Prefeitura de Barreirinha enviou nota de esclarecimento à nossa redação, em resposta ao orçamento municipal. Confira a nota na íntegra:

NOTA DE ESCLARECIMENTO

A Prefeitura de Barreirinha mais uma vez esclarece que orçamento é um planejamento, não quer dizer que o município possui 70 milhões de reais, trata-se de uma estimativa de receita e despesas.

O Orçamento público é o instrumento utilizado pelo Governo Municipal para planejar a utilização do dinheiro A SER ARRECADADO com os tributos (impostos, taxas, contribuições de melhoria, entre outros). Esse planejamento é essencial para oferecer serviços públicos adequados, além de especificar gastos e investimentos que foram priorizados no Plano Plurianual, LDO e LOA.

Essa ferramenta de planejamento estima tanto as receitas que o Governo ESPERA ARRECADARquanto fixa as despesas a serem efetuadas com o dinheiro. Assim, as receitas são estimadas porque os tributos arrecadados (e outras fontes) podem sofrer variações ano a ano, enquanto as despesas são fixadas para garantir que o governo não gaste mais do que arrecada.

Uma vez que o orçamento detalha as despesas, pode-se acompanhar as prioridades do governo para cada ano, como, por exemplo: o investimento na construção de escolas, a verba para transporte e o gasto com a saúde. Esse acompanhamento contribui para fiscalizar o uso do dinheiro público e a melhoria da gestão pública.

Portanto, a refuta-se a afirmativa: “Apesar de a Prefeitura de Barreirinha possuir um orçamento de R$ 70,4 milhões em 2021”, com esse trecho da matéria publicada no portal AM1, cujo enunciado era“Com 70 milhões, prefeito afirma que Barreirinha não tem recursos suficientes”. Notadamente resta demonstrado o desconhecimento acerca do Direito Administrativo, fazendo necessário, mais uma vez imprimir um posicionamento didático ao referido Portal, para que sejam esclarecidos os fatos, possibilitando ao mesmo a oportunidade da prestação de um serviços com informações que retratem as informações e definições verdadeiras aos seus leitores.

Outro ponto a ser destacado, é o fato de Barreirinha estar enfrentando a maior enchente de sua história, ultrapassando a cheia de 2009, a maior já registrada no município, com a cota de 9,36 metros.

O portal se refere ao desastre hidrológico, retratando o sofrimento dos barreirinhensesretratando a maior enchente já registrada como “APENAS 14 CENTÍMETROS”, menosprezando a realidade da população, como se essa diferença não fosse significativa, visto que algo dessa natureza nunca havia acontecido.

Em relação à construção de pontes, reiteramos que até hoje, 21 de maio, mais de 10.000,00 (dez mil metros), ou seja, mais de 10KM de passarelas de madeira de lei já foram construídas, explicado pelo Chefe do Executivo Municipal, o Município continua com o cronograma de recebimento de madeira para atender a necessidade da população.

Mesmo com o Planejamento prévio da Defesa Civil, no início da enchente, nos primeiros alertas emitidos, que naquele momento estimava-se que seriam necessários um pouco mais de 5.000 (cinco mil metros) de passarelas, o Estado do Amazonas está sendo surpreendido com a enchente recorde deste ano. Por este motivo, de força maior, que requer insumos muito maiores do que o estimado o carregamento de madeira que está chegando ainda não está sendo suficiente para suprir a necessidade do município, justamente pelo fato de ser uma cheia histórica, alagando pontos em Barreirinha onde a água nunca havia chegado.

A demanda além do planejado tem sido um grande desafio, mas o Município de Barreirinha tem buscado todas as formas possíveis para mitigar o sofrimento da população, inclusive recorrendo ao Governo do Estado e do Governo Federal para o enfrentamento.